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PEC entra na pauta da Camara

CB, Brasil, p.14
11 de Fev de 2004

EXPLORAÇÃOPEC entra na pauta da CâmaraPresidente Lula determina que proposta de emenda constitucional desapropriando terra de fazendeiros flagrados com trabalhadores escravos comece a ser votada

Renata GiraldiDa Equipe do Correio
José Varella

Artistas e representantes de organizações internacionais foram ontem à Câmara para cobrar do presidente da Casa, João Paulo, a aprovação da PEC
 
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara deve votar hoje a proposta de emenda constitucional (PEC) determinando que fazendeiros flagrados mantendo trabalho escravo tenham as terras expropriadas. A medida foi incluída, ontem, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na pauta da convocação extraordinária, um dia depois de um desentendimento público entre o ministro-chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), por causa do assunto.   A pressão sobre o Palácio do Planalto e o Congresso aumentou ainda mais com a peregrinação feita ontem por um grupo de artistas. Liderados pelos atores Vera Holtz, Lucélia Santos, Marcos Winter e Leonardo Vieira, além de representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), o grupo conversou com os ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Ricardo Berzoini (Trabalho) e Nilmário, depois de um encontro com Cunha, na Câmara.   A ordem para acelerar a tramitação da PEC, que será votada na CCJ, depois apreciada por uma comissão especial e passará por dois turnos de votação na Câmara, foi dada por Lula no fim da manhã de ontem. O presidente da Câmara recebeu a determinação um dia depois de acusar o governo de não dar tratamento prioritário à proposta. O deputado ressaltou que a emenda não havia sido incluída na pauta da convocação extraordinária.   A Câmara demonstrou sensibilidade. O processo inteiro pode levar 60 dias e ser aprovado ainda neste semestre, afirmou Nilmário, que há dois dias dissera que a Câmara não tinha interesse em relação ao tema. A missão de acabar com o mal-estar ficou por conta da liderança do governo. Mas se tivesse sido erro, por que não corrigi-lo?, disse o líder do governo na Câmara, Miro Teixeira (sem partido-RJ), numa tentativa de minimizar a crise.    Punição Pela proposta, o fazendeiro flagrado comprovadamente mantendo trabalho escravo ou funcionários em situação análoga terá a terra confiscada pelo governo. Segundo Nilmário Miranda, é fundamental apressar também a tramitação no Senado do projeto de lei, que eleva de R$ 250 para R$ 2,5 mil a multa cobrada ao explorador.   Após a reunião com os artistas, Berzoini reiterou a decisão do governo de aumentar o rigor na fiscalização contra a indignidade no trabalho. Segundo ele, ainda neste mês será deflagrada uma operação conjunta —ministérios do Trabalho, da Previdência e da Justiça — na região de Unaí, Minas, onde foram assassinados os três auditores e o motorista que faziam vistorias de rotina.

Protesto em Minas
  Auditores fiscais protestaram ontem, no centro de Belo Horizonte, Minas, contra o assassinato de três fiscais do Trabalho e de um motorista em Unaí, no final do mês passado. Os manifestantes criticaram a lentidão na apuração do crime. Chacina de Unaí: exigimos rigorosa apuração dos fatos e punição exemplar dos pistoleiros e mandantes. Queremos segurança para trabalhar, mostrava uma faixa de 30 metros de comprimento por cinco de largura, estendida na fachada do prédio da Receita Federal, na avenida Afonso Pena.   O ato foi organizado por representantes do Fisco-Fórum MG, que reúne entidades representativas da fiscalização em Minas e congrega agentes fiscais das receitas Estadual, Municipal e Federal, Trabalho e Previdência Social.   Os auditores Nelson José da Silva, João Batista Soares Lages, Eratóstenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos a tiros quando faziam inspeções para identificar situações de trabalho irregular em fazendas da região do noroeste mineiro. Depoimentos A Polícia Federal intimou mais seis pessoas a prestarem depoimento hoje em Unaí (MG), no caso do assassinato dos três auditores fiscais do trabalho e de um motorista da Delegacia Regional do Trabalho, ocorrido no dia 28 de janeiro. O delegado responsável pelo inquérito, Alfredo Junqueira, não quis revelar os nomes dos intimados, mas disse que eles têm relação com as vítimas. Até agora 17 pessoas foram ouvidas pela força-tarefa que investiga o caso.

Tramitação será difícilDenise RothenburgDa equipe do Correio  O presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), dirá hoje que é inadmissível haver trabalho escravo no país, conforme adianta o Correio. No relatório favorável à expropriação de terras nas quais forem identificados trabalho escravo ou condições análogas, o petista defende a constitucionalidade da proposta e diz que não vislumbra qualquer impedimento no cumprimento da medida.   Apesar do empenho de Greenhalgh pela aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC), ele próprio prevê dificuldades na tramitação. A polêmica é que a expropriação, nos termos da PEC, trata os fazendeiros acusados de manter trabalho escravo de forma semelhante aos que detêm áreas com plantas psicotrópicas (tóxicas). O que, na prática, impossibilita o pagamento de indenizações.   O objetivo da medida é que a terra expropriada seja utilizada para fins de reforma agrária, assentando prioritariamente os colonos que já trabalhavam na área. A proposta estabelece ainda que os bens encontrados em poder do proprietário sejam confiscados.   De acordo com a proposta, os recursos obtidos com a operação deverão ser revertidos em benefício de instituições de caridade e custeio de atividades de fiscalização. A votação da medida pode atrasar se houver pedido de vistas, ou seja, caso um ou outro parlamentar solicite o texto para apreciação.

Colaborou Renata Giraldi

Propostas no CongressoExpropriação
? Proposta de Emenda Constitucional determina que os proprietários que mantêm trabalhadores escravos em terras tenham as áreas expropriadas, desde que comprovada a irregularidade. A proposta deverá ser votada amanhã na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Multa
? Projeto de lei prevê multa ao empregador que mantiver trabalhadores no sistema identificado como trabalho escravo será elevada de R$ 250 para R$ 2,5 mil. A multa será cobrada para cada empregado mantido em condições semelhantes à escravidão. Proibição de contratos
? Projeto de lei proíbe que órgãos e entidades da administração pública firmem contratos ou autorizem licitações com empresas que, direta ou indiretamente, utilizem trabalho escravo. Aguarda votação na Comissão de Trabalho na Câmara.
CB, 11/02/2004, p.14

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