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Passaram um xexo nos índios

Correio da Paraíba (João Pessoa - PB)
Autor: Fátima Araújo
18 de Jun de 1989

O filme'Kuarup, de Ruy Guerra, que estava com sua exibição em vias de suspensão, no Brasil, pelo fato de não ter a produção pago aos índios os direitos de suas imagens, utilizadas no Parque do Xingu, está aí sendo projetado em todo o País, com êxito de bilheteria.
Pelo que se soube, a Procurado­ria Gerai da República e as três co­munidades indígenas que participa­ram do filme no parque do Xingu iam
entrar com uma ação judicial, na Justiça Federal, solicitando os direi­tos devidos pela filmagem de ceri­mônia tradicional da comunidade, que ocupa cerca de meia hora da fi­ta. Esta é a primeira vez que a Pro­curadoria Geral da República, em cumprimento ao artigo 129 da Cons­tituição, participa de uma ação em defesa dos índios. Antes, o índio não era considerado um cidadão e por isso estava inabilitado para mover ação na justiça.
Pelo visto, ou a morosidade será caracterizada, como nos milhares de casos, no país da câmara lenta, ou o fndio não terá mesmo direitos re­conhecidos, a não ser nas páginas da Constituição promulgada em 5 de outubro do ano passado.
O procurador geral da Funai, Ovídio Martins de Araújo e as três comunidades que participaram do filme, lawalapiti, Kuikuro e Kamaiura
chegaram a entregar documento, nesse sentido ao procurador geral da República, Vítor Muzzi, incluindo medida cautelar de suspensão da exibição do filme. Informou-se ainda que o cacique Aritana, da comunida­de lawalapiti, possui uma fita gravada com as promessas do produtor do filme, Roberto Fonseca, no senti­do de, construir postos de saúde, escolas e postos de vigilância nas cabeceiras dos cinco rios da reser­va. Aritana lamenta que nenhuma promessa terthfe sido cumprida, nem mesmo a do pagamento a ser feito através das rendas destinadas à Fundação Kuarup e reclama: "A Fundação não tem nem mesmo a participação do índio."
Como pagamento pela utilização da reserva dos índios e pelas cenas gravadas durante a cerimônia do Kuarup, a produtora do filme alega ter deixado na reserva todo o equi­pamento usado durante a filmagem, incluindo uma antena parabólica e uma lavadora Brastemp. Os índios,
por sua vez, alegam que esses equipamentos deixados no posto não servem para nada e cobram as promessas de escolas, postos de saúde e até um avião prometido para conter as queimadas das matas.
E agora? Como fica a questão? Passaram mesmo um xexo nos ín­dios, esses históricos massacrados, ou é só a morosidade que está re­tardando os compromissos?

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