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Para Ministro, ocupação predatória causa violência

CB, Brasil, p. 29
Autor: ROSSETTO, Miguel
24 de Fev de 2005

Para Ministro, ocupação predatória causa violência

Ponto a ponto - Miguel Rossetto

André Carravilla e Paloma Oliveto

Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), o gaúcho Miguel Rosseto assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário consciente de que a ligação histórica do partido com os movimentos sociais não impediria conflitos agrários como os ocorridos no Pará. "Criamos uma conduta muito clara em que os movimentos sociais respondem pelo que fazem. São responsáveis por suas ações e opiniões", diz. Em entrevista ao Correio, Rosseto, que viaja hoje ao Pará, reconhece os problemas de violência no campo e garante que o governo está tomando providências para acabar com o que considera uma "brutalidade inaceitável".

Tensão pelo país
"Temos vários conflitos pelo país. Especialmente em Rondônia, Pará, Pernambuco, Mato Grosso, Alagoas, Bahia. Mas não estamos falando necessariamente do mesmo tipo de conflito. São conflitos estruturais, que vamos corrigir à medida que implantarmos nossas políticas públicas. Não há, na minha opinião, nenhum elemento que autorize a idéia de generalização de conflitos pelo país."

Herança maldita
"A partir dos grandes projetos econômicos da Amazônia, como Carajás, Transamazônica e grandes empreendimentos da Sudam, se verifica um processo de forte intervenção do Estado. O Estado brasileiro e os governos estaduais não foram capazes de, paralelamente a esses projetos, responder à nova realidade. É por isso que vivemos situações de conflito, resultado desta ocupação territorial desorganizada, predatória e ilegal."

Assassinato da missionária
"Isso foi uma reação de setores que sempre se beneficiaram da ilegalidade, e que tinham a expectativa de continuar se beneficiando. É preciso entender por que a mataram. Ela era uma liderança importante na região. Por simbolizar isso foi assassinada."

Repercussão internacional
"Não haveria diferença se tivesse sido um trabalhador anônimo em vez da freira. Mas estamos falando de uma missionária americana que, havia 30 anos, era vista como referência. Em relação ao Pará, tivemos não só o assassinato da freira, mas de mais dois trabalhadores, o que cria um cenário inaceitável que obrigou o governo a usar toda a sua responsabilidade e competência para impedir a escalada da violência."

Titularidade das terras
"Iniciamos no ano passado um processo de regularização das terras federais da Amazônia Legal. Estamos recadastrando os posseiros em áreas federais e pretendemos com isso dar seqüência a um processo de regularização das áreas federais. Estamos falando em áreas estaduais, em áreas privadas, situações cartoriais. Estamos concentrados nesse momento na regularização das áreas federais na Amazônia Legal. A União dispõe de muito poucas terras nos outros estados."

Na linha de frente da Crise
"Minha responsabilidade é trabalhar pela inexistência desse ambiente (de conflitos). Em 2004 avançamos muito em relação a 2003. Todas as condições orçamentárias e operacionais nos permitem noticiar que 2005 será melhor do que 2004."

O padrão do governo FHC
"Evidente que o padrão de conflito no governo FHC era bem superior, basta lembrar o massacre de Eldorado dos Carajás. Mas isso não é motivo de comemoração para ninguém. Não concordo que as políticas para o setor equivalem às do governo anterior. Temos um processo de assentamento de ocupação produtiva que respeita as características dos biomas. O que vivíamos eram fracassos econômicos e sociais."

Diálogo com os movimentos
"Criamos uma conduta muito clara em que os movimentos sociais respondem pelo que fazem. Nosso governo respeita e estimula um diálogo permanente com a sociedade que oferece demandas, sugere e cobra. É assim numa sociedade democrática."

CB, 24/02/2005, Brasil, p. 29

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