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Para especialista, Amazônia pode conviver com o lucro

OESP, Especial, p. H2
03 de Dez de 2009

Para especialista, Amazônia pode conviver com o lucro
Existem alternativas sustentáveis para a região, defende pesquisador

Ana Conceição
Agência Estado

A ideia romântica de que a exploração da Amazônia não combina com iniciativas empresariais de grande escala tem de ser superada e o governo deveria unir seus esforços de integração da região em uma só agência ou ministério. São iniciativas cruciais para destravar o desenvolvimento econômico de uma área que abrange a maior parte do território brasileiro, alerta José Alberto Machado, doutor em Desenvolvimento Sustentável e professor adjunto do Departamento de Economia e Análise da Faculdade de Estudos Sociais da Universidade Federal do Amazonas.

Para ele, a oposição entre meio ambiente e lucro tem que acabar. "Existem diferentes Amazônias; uma da mídia, outra internacional e a real. Essa confusão impede análises importantes. Existe uma ideia equivocada de que Amazônia não combina com negócio", afirmou, durante o Fóruns Estadão Regiões/Norte.

Esse engano a respeito da vocação econômica da região não abrangeria apenas o governo, mas também a iniciativa privada e organizações não governamentais (ONGs). Nesse sentido, Machado critica os modelos importados de gestão dos recursos da floresta, que vão dos pequenos experimentos realizados por ONGs à exploração biotecnológica desordenada, passando por ideias como o desmatamento zero. Para ter sucesso e promover desenvolvimento, a atividade econômica local tem que ter foco no mercado e escala. "É preciso produto, gente para vender e para comprar."

O professor alerta, contudo, que isso não deve ocorrer sem mudanças na forma de planejar a economia da Amazônia, hoje desarticulada e dispersa entre projetos espalhados por vários ministérios. Para ele, faz falta uma gestão com planejamento estratégico. Sem isso, projetos continuarão a sair de cena sem sequer serem colocados em prática. "Não há uma visão estratégica organizada e as dinâmicas econômicas e sociais já presentes na região não são levadas em conta", alerta.

Ele cita como exemplo de desarticulação o fato de a Zona Franca de Manaus ser tratada pelas agências oficiais como algo separado da Amazônia, em vez de ser integrada à lógica da economia local. "Não é mais possível que a região seja tratada por cada ministério e cada agência de forma diferente. Isso gera mais problemas que soluções."

Paulo Barreto, diretor do Instituto Imazon, diz que o planejamento econômico é crucial em um momento em que o desmatamento e as atividades associadas a ele diminuem na região. "É possível ter outra matriz econômica que não esteja relacionada ao desmatamento", afirma. O manejo da floresta, que emprega 300 mil pessoas na região, é uma das fontes possíveis de renda, além do aumento da produtividade das áreas já desmatadas, onde predomina a pecuária extensiva.

A lógica da atividade econômica desordenada praticada na região não apresenta grandes dividendos. Em 2007, o PIB per capita das áreas desmatadas cresceu 2,3%, o mesmo porcentual das áreas com floresta em pé. Nas áreas com a floresta em processo de desmatamento, esse porcentual era de 6,3%, por causa da renda gerada pela retirada das árvores. A tendência é que esse nível caia quando não há mais o que desmatar.

Debatedores

Adalberto Luis Val
Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)

A Amazônia representa 60% do território brasileiro. As ações para a região, muitas vezes, são concebidas sem levar em consideração a sua real dimensão. Destaca que a Amazônia se estende ainda por outros países do Continente. São 25 milhões de brasileiros e mais 15 milhões de vizinhos. Lamentou que a Amazônia ocupe um papel importante mais pela preservação da floresta do que pelas pessoas. Para ele, a região envolve questões ainda pouco conhecidas.

Henrique Villas da Costa Ferreira
Secretário de Políticas de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional

Defende a busca de soluções diferenciadas para cada região. Acha fundamental o tripé organização social, infraestrutura e geração de emprego e renda. Defende o entrosamento de todos os atores envolvidos na questão do desenvolvimento regional: governos locais, iniciativa privada e terceiro setor. Todos precisam agir com políticas sólidas de ação para ajudar a combater as desigualdades regionais.

Guilherme Leal
Copresidente do Conselho de Administração da Natura

O sucesso da experiência da indústria de cosméticos Natura, que neste ano cresceu dez vezes o valor inicial da empresa em 1998, é para o empresário o maior indicador de que a Amazônia oferece muitas oportunidades de negócios sustentáveis. Segundo ele, as empresas, porém, ainda sofrem com problemas de segurança institucional. Ele defende soluções diferenciadas e investimentos, especialmente na área educacional e de ciência e tecnologia.

Luiz Claudio Ferreira Castro
Diretor de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Vale

A mineração está em praticamente todos os produtos presentes na vida das pessoas. A atividade é importante, mas as jazidas se esgotam e têm impacto no meio ambiente. A Vale tem essa preocupação e trabalha para saber o que fazer quando as jazidas que explora se esgotarem. Desenvolve projetos para o encaminhamento da população próxima e busca novas vocações econômicas regionais.

OESP, 03/12/2009, Especial, p. H2

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