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Palmito Ecologico: o palmito pupunha, cultivado, e cada vez mais aceito pelos consumidores. A area plantada ja chega a 100 mil hectares no Brasil e o produto toma o lugar do jucara, palmito ainda obtido pela extracao predatoria e proibida no Pais

OESP, Agricola, p.G1,G6-G7
26 de Nov de 2003

Palmito ecológico
O palmito pupunha, cultivado, é cada vez mais aceito pelos consumidores. A área plantada já chega a 100 mil hectares no Brasil e o produto toma o lugar do juçara, palmito ainda obtido pela extração predatória e proibida no País. p. G1

Pupunha pode render R$ 4 mil por hectare
Palmito dessa palmeira é saboroso e substitui com vantagens o palmito do extrativismo
Beth melo
Em outubro, na exposição de Anuga, em Colônia, Alemanha, que reuniu 6 mil expositores de produtos naturais do mundo, o palmito pupunha brasileiro foi o único palmito in natura apresentado. O público degustou a iguaria e aprovou, segundo o produtor de Itariri (SP), no Vale do Ribeira, Ricardo Luiz de Oliveira, dono da empresa Palmito Selo Verde. "O problema é que ainda não temos logística especializada para exportar o palmito in natura, que se deteriora em cinco dias em condições naturais. Sob refrigeração e higienização, dura dez dias", diz ele, acrescentando que seria, porém, um diferencial brasileiro a venda do produto in natura ao mercado externo.
No Brasil, é um mercado já consolidado, que movimenta, no total, entre o produto in natura e em conserva, US$ 500 milhões por ano. A tendência é o crescimento deste mercado, com o cultivo de espécies como a pupunha, em substituição aos palmitos Euterpe (juçara e açaizeiros) – cuja extração na natureza é proibida, pois são plantas que levam de 10 a 12 anos para produzir e morrem quando se tira o palmito.
A preferência pelo pupunha, segundo a pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Marilene Leão Alves Bovi, especialista em palmeiras produtoras de palmito, é por causa de várias características encontradas na espécie sem espinhos, como cor, palatabilidade, formato, maior facilidade no cultivo e na extração e alto rendimento. Ela afirma que desde os anos 90 tem aumentado a área plantada com a pupunha no País, com a entrada de sementes peruanas, de palmeiras sem espinhos.
Segundo estima, a área com material sem espinho deve estar entre 60 mil e 100 mil hectares. Marilene considera a venda da pupunha in natura uma boa opção para o pequeno produtor. "Ele lucra mais." Caso contrário, terá de fazer parceria com uma indústria ou construir a própria fábrica. Nesse caso, os custos são maiores e incluem um especialista em alimentos para obter o Serviço de Inspeção Federal (SIF), exigido para comercializar o produto.
O pesquisador Luís Alberto Saez, da Estação Experimental de Pariquera-Açu (SP), diz que a pupunha é a espécie produtora de palmito mais cultivada no Vale do Ribeira, que possui a maior área plantada do Estado. "É uma cultura de destaque na região, com cerca de 3.500 hectares, quase 20 milhões de pés", estima "A planta é permanente, perfilha e dá renda por um longo período."
Segundo Saez, ali a pupunha tem condições ideais de desenvolvimento. "Já é a segunda cultura em área, atrás apenas da banana", diz e acrescenta "Dá para aumentar os lucros e colher o ano todo, mesmo no veranico, pois a temperatura é ideal e as chuvas são bem distribuídas no ano." Na região, a indústria paga de R$ 0,80 a R$ 1,40 pelo palmito da pupunha "O mercado desse palmito in natura está praticamente começando, ainda há bastante espaço para crescer", afirma Saez.
Segundo Oliveira, da Selo Verde, na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp), na capital, a haste com cerca de 300 gramas sai por R$ 2,50 a R$ 3,50, enquanto nos supermercados varia de R$ 10 a R$ 20. "No Pão de Açúcar é encontrada por R$ 8,90 a bandeja de 500 gramas", diz.
Oliveira vende seu produto in natura e também em conserva.
A pupunha in natura Selo Verde, descascada, higienizada, embalada e entregue refrigerada é vendida na região por R$ 7,00 a R$12,00 o quilo. "O coração, que é a parte inferior da haste, é mais barato porque tem maior volume, sendo também a mais versátil na culinária A parte mais cara é o tolete, que é o palmito propriamente dito." Em conserva, o vidro de 300 gramas sai por R$ 5,00, e, a lata de 2 quilos, por R$ 28,00. O produtor tem contrato com a Florestar, de Juquiá, que faz o processamento.
Segundo Oliveira, na região, mesmo vendendo o produto para a fábrica, que remunera na faixa de R$ 0,80 a R$1,20 por haste, ainda se consegue um bom lucro. Numa simples conta, considerando a média de 1,3 corte por ano, 1 hectare, com lotação de 5 mil pés, dá cerca de 6.500 hastes a partir do segundo corte, o que gera uma renda entre R$ 5.200 e R$ 7.800. "O gasto médio anual com adubação, capinas eventuais e a mão-de-obra para adubar e cortar, chega a R$ 0,20 por pé", calcula. "Com um bom manejo, dá, por baixo, R$ 4 mil por hectare."
Faltam sementes - Marilene, do IAC, aponta a falta de sementes de material sem espinhos como o principal entrave à expansão da pupunheira. "Além de preço alto, em dólar, as sementes, vindas do Peru, têm problema de baixa germinação", diz. "O quilo de sementes é cotado em R$ 25,00 e dá para fazer cerca de 200 mudas." Para ter-se idéia do preço das sementes no custo de produção da pupunha, são necessárias 5 mil mudas para cultivar 1 hectare. "Já paguei R$ 45,00 por quilo de sementes", divulga Oliveira.
Outro item que contribui para aumentar os custos é a irrigação, principalmente em regiões com chuvas mal distribuídas durante o ano. "O gasto com a instalação da cultura-formação de mudas e irrigação - é o maior", afirma. As mudas levam de seis a oito meses para crescer, no viveiro. A pesquisadora do IAC afirma que um lote bom de sementes tem índice de germinação de até 70%. "Há muitos casos, porém, em que a germinação não chega a 30%."
A pupunha responde bem à calagem e à adubação mineral, principalmente à base de nitrogênio e potássio, segundo recomendação da análise do solo. Anualmente, é necessário realizar a adubação de produção, que pode ser feita com matéria orgânica: esterco de curral curtido, por exemplo. "Nesse caso, a pupunheira responde muito mais", segundo a pesquisadora.
Quanto às doenças, as mais importantes são as que vêm junto com as sementes e as doenças de solo. "Às vezes o problema não aparece no viveiro, mas apenas nas plantas", alerta Marilene. Para evitar esse tipo problema, é importante ter conhecimento da procedência das sementes, que teoricamente já chegam tratadas com fungicidas. "Na dúvida, é melhor fazer o tratamento", sugere, lembrando que não se deve secar as sementes porque afeta ainda mais o poder de germinação. "Outra medida é fazer uma boa seleção no viveiro e levar para o campo apenas plantas sadias."
Em áreas litorâneas a primeira colheita pode ser feita um ano e meio após o plantio no campo. Em outras regiões, leva dois anos para o primeiro corte. Nos anos seguintes, os cortes podem ser feitos em intervalos de oito meses a um ano do anterior. No cultivo irrigado ou com chuvas bem distribuídas, a pesquisadora diz que é possível colher o ano todo.
Estação Experimental do Vale do Ribeira / Pariquera-Açu, (0--13) 3856-1656; IAC, (0--19) 3241-5188

Retorno financeiro vem a partir do terceiro ano
Investimento inicial de R$ 8 mil/ha compensa, pois gastos com manutenção são baixos
Quando comprou a Fazenda Santo Antonio do Morro Azul, também conhecida como Haras Cristal, em Itatiba (SP), de 96 hectares, Jayme José Adissi encontrou 52 hectares de mata atlântica, que preservou, além de uma área de eucaliptos. Cortou os eucaliptos, deixando as raízes, para não prejudicar os nutrientes do solo e não causar erosão, e fez um plantio comercial de palmito pupunha sem espinhos há quatro anos. "Além de ser uma atividade rentável, estou ajudando a preservar o palmito juçara", explica
Como a planta é de clima quente e úmido e o índice pluviométrico da região onde fica a propriedade é abaixo das exigências da pupunha, a cultura é irrigada por aspersão. "O custo de instalação fica na faixa de R$ 8 mil o hectare, mas compensa, pois nos anos seguintes os gastos com a manutenção da cultura são baixos, apenas com adubações anuais e corte das plantas", explica.
Adissi planta as sementes em viveiros cobertos. Elas levam seis meses para germinar. Depois, as plantas vão para viveiros cobertos com folhagem, que vai secando enquanto se adaptam ao sol. "Da semente até o campo leva um ano", afirma o produtor. Antes do plantio das mudas, o terreno recebeu calagem, feita segundo a análise do solo. A seguir, planta-se feijão para fixação de nitrogênio no solo, que também recebe NPK e esterco de javali curtido, de animais do criatório da fazenda. O plantio das mudas no campo é feito na base de 5 mil pés por hectare, no espaçamento 2 metros por 1 metro entre as ruas, e 1 metro entre as plantas. No Haras Cristal, as plantas são adubadas anualmente, com adubo à base de NPK, além de esterco. Até completar um ano depois do plantio, são realizadas capinas.
Como o cultivo comercial de pupunha é novo no País, Adissi afama que não se sabe muito sobre o comportamento da planta.
Ele diz, porém, que é raro aparecerem doenças. A maior exigência das plantas, conforme explica, é com relação à irrigação. "Cada planta necessita de 5 a 7 litros de água por dia", diz. Os aspersores da propriedade são ligados em bateria, dez de cada vez, por cerca de meia hora. Depois, outra bateria é ligada. Cada aspersor irriga 60 plantas.
A colheita é feita uma vez por semana. Os palmitos são vendidos por unidade, ao preço de R$ 5,00, cada. Além de alcançar melhor preço, Adissi diz que o palmito pupunha não escurece. "Para o produtor, outra vantagem é que o palmito pode ficar na planta, sendo o corte feito conforme a demanda" Além do cultivo de palmito pupunha, a fazenda dedica-se à criação de cavalo manga-larga marchador e javalis.
Projeto piloto - Há sete anos, Ricardo Luiz de Oliveira começou a plantar palmito pupunha em Itariri, no Vale do Ribeira "A propriedade virou um projeto-piloto da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) com essa palmeira", conta. "Na época, a área virou uma unidade demonstrativa da entidade e tornou-se um sítio modelo."
Por não usar defensivos agrícolas no cultivo, o sítio chamou a atenção da pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Marilene Leão Alves Bovi, que passou a fazer pesquisas em calagem e adubação na área, visando a elevar a produtividade. Adepto da agricultura natural, Oliveira e sua sócia Débora Defino dirigem a Palmito Selo Verde Ltda. Eles cultivam amendoim bravo nas entrelinhas da pupunha para combater o mato. Besouros e pragas são controlados com armadilhas biológicas, feitas com baldinhos contendo cana amassada ou melaço. "As pragas recolhidas são mortas mecanicamente."
Totalmente contrário ao corte do juçara, o produtor afirma que, com base nas apreensões realizadas pela Policia Florestal, no ano 2000 foram cortadas pelo menos 2 milhões de juçara nativo em São Paulo. "Do sétimo ano ao vigésimo ano, essa planta pode produzir cerca de 100 quilos de frutos pa ra animais da mata atlântica", diz.
Oliveira e Débora possuem 20 mil pés de pupunha no sítio modelo, além de mais 60 mil pés em parceria na região. Colhem na base de 500 gramas por pé, a cada oito meses, a partir do segundo corte. Conforme explica, o custo de produção da planta no Vale do Ribeira varia de R$ 7 mil a R$10 mil por hectare, a partir de mudas, hoje na faixa de R$ 0,70 cada- "Quando comecei o projeto. cheguei a pagar R$ 2,50 pela muda", diz, e acrescenta que o retorno é pago entre o terceiro e quarto anos do plantio. Hoje, diz que prefere comprar sementes de Adilson Pereira, de São Mateus (ES). "Foi um dos pioneiros em trazer sementes sem espinhos", conta. "Foi indicação do próprio IAC."
Horas Cristal, (0--11) 4495-8295; Palmito Selo Verde, (0--13) 3284-4022; Adilson Pereira, a (0--27) 3763-3194

OESP, 26/11/2003, p. G1, G6-G7

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