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Países pobres vão sofrer mais com clima; ricos terão de ajudar, diz ONU

FSP, Brasil, p. A21
28 de Nov de 2007

Países pobres vão sofrer mais com clima; ricos terão de ajudar, diz ONU
Nações desenvolvidas têm que gastar para que IDH no mundo subdesenvolvido não caia ainda mais
Pnud quer um fundo de mitigação das mudanças climáticas, para que países do 3o Mundo migrem para modelo energético limpo

Claudio Angelo
Editor de Ciência

A mudança climática vai piorar significativamente a qualidade de vida nos países pobres, e as nações ricas terão de colocar a mão no bolso para impedir que o gás carbônico que emitiram durante seu desenvolvimento torne ainda mais baixo o IDH no mundo subdesenvolvido. Essas são as principais conclusões do Relatório Global de Desenvolvimento Humano, lançado ontem.
"Estamos indo muito rapidamente em direção ao ponto em que a nossa geração vai experimentar reversões em grande escala no desenvolvimento humano", disse Kevin Watkins, diretor e redator principal do relatório, ontem em Brasília. Para evitar que isso aconteça, o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) quer criar um fundo de mitigação das mudanças climáticas, que mobilize os US$ 25 bilhões a US$ 50 bilhões necessários para que os países do Terceiro Mundo façam a transição para um modelo energético limpo. E também um fundo de adaptação de nada menos que US$ 86 bilhões até 2016, para proteger as nações mais vulneráveis -como as da África.
O relatório pede ainda um imposto sobre o carbono como forma de desestimular as emissões e obter o que o PNUD considera a meta ideal -reduzi-las em 80% até 2050. Todos esses mecanismos precisam ser embutidos no acordo contra o aquecimento que substituirá o Protocolo de Kyoto após 2012. O novo tratado começa a ser negociado a partir da próxima segunda-feira em Bali, Indonésia. "O nosso foco é sobre a parte mais pobre do mundo, de 2,6 bilhões de pessoas no mundo", disse Watkins. Nessa porção do planeta, os efeitos atuais e futuros da mudança climáticas (como secas e inundações intensas) estão transformando riscos em vulnerabilidades.
"A fonte desses riscos incrementais pode ser rastreada, através da mudança climática, até os padrões de consumo de energia e escolhas políticas do mundo rico", afirma o PNUD. E a resposta a eles é também desigual. Entre 2000 e 2004, uma pessoa em 19 foi afetada por desastres climáticos nos países em desenvolvimento. Nas nações ricas, a média foi de uma pessoa em 1.500.
Enquanto os ricos lidam com choques climáticos por meio de seguros ou poupança, os pobres são forçados a reduzir seu consumo, tirar os filhos da escola ou vender suas terras. "Essas são escolhas que limitam as capacidades humanas e reforçam a desigualdade", diz o texto.
A solidariedade que os maiores causadores do problema teriam de ter com suas maiores vítimas tem passado longe. Todos os fundos existentes hoje para adaptação dos países mais pobres ao clima receberam, somados, o equivalente ao que é gasto em uma semana no programa de proteção contra enchentes no Reino Unido. Para quem acha que um fundo de adaptação de US$ 86 bilhões é muita coisa, o PNUD lembra que isso equivale a um décimo do orçamento militar dos países desenvolvidos, ou 0,2% de seu PIB. É um terço do que foi prometido como ajuda internacional na Eco-92.
Colaborou Eduardo Scolese , da Sucursal de Brasília

FSP, 28/11/2007, Brasil, p. A21

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