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País precisa proteger 6,2 milhões de km2

FSP, Ciência, p. A16
23 de Dez de 2006

País precisa proteger 6,2 milhões de km2
Mapa das áreas prioritárias de preservação da biodiversidade tem uma área igual a quatro vezes o Estado do Amazonas
Análise mostra a mata atlântica com uma extensão maior do que apontavam outros estudos; diferença se deve a método de pesquisa

Eduardo Geraque
Da reportagem local

O plano já está no papel. Se o país quiser realmente preservar a sua biodiversidade, terá de proteger, em diferentes níveis, mais 2,8 milhões de quilômetros quadrados de terras e 3,4 milhões de mar. E será preciso também implantar com correção as outras áreas prioritárias traçadas anteriormente.

O novo desafio, apresentado nesta semana pelo Ministério do Meio Ambiente, tem uma área geográfica equivalente a pouco mais de quatro vezes o tamanho do Estado do Amazonas, o maior da federação.

"Isso [os mapas das áreas prioritárias] está aprovado. Agora caberá ao próximo governo trabalhar para que todas as áreas prioritárias sejam detalhadas, implementadas e constantemente atualizadas", disse à Folha João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente.

A aprovação dos mapas, feitos em conjunto com a comunidade científica nos últimos dois anos, ocorreu na reunião da Conabio (Comissão Nacional de Biodiversidade). Os dados ainda devem ser aperfeiçoados no ano que vem, em um seminário para a elaboração do relatório final.

Segundo os estudos já concluídos, o Brasil terá de criar 1.196 áreas de preservação em terra e 104 novas zonas de proteção no mar.

Respectivamente, 43% das regiões secas já identificadas e 57% das marinhas foram consideradas como tendo uma importância "extremamente alta" para a preservação da biodiversidade nacional.

Crescimento "milagroso"
A mesma reunião realizada em Brasília serviu para que o Brasil conhecesse os novos mapas da cobertura vegetal dos seus principais biomas. O que salta aos olhos, de imediato, é o incrível crescimento da mata atlântica, o ecossistema mais destruído no país desde o seu descobrimento.

Em vez dos 6,98% em relação à área original do ecossistema, anunciado no início do mês pelo levantamento da ong paulista SOS Mata Atlântica, o número obtido pelo governo é de 27,44%. Ou seja, a mata atlântica estaria muito mais preservada do que se imaginava. Antes de qualquer comemoração, é bom que se diga que essa incrível diferença, segundo o governo, deve ser creditada ao método usado pelos dois estudos.

"No mapa da SOS eles mapeam apenas as florestas densas. No nosso caso, o nosso foco é mais amplo. Também estamos considerando os campos de restinga, os manguezais e as áreas que estão em recuperação", explica Capobianco. O governo, segundo o secretário, não pode excluir as áreas menores ou já impactadas do seu levantamento. "Isso seria equivalente a dizer que essas áreas, mesmo estando em zonas de proteção, poderiam continuar a ser desmatadas", explica.

Em todos os outros casos, os números de remanescentes dos biomas brasileiros estão mais ou menos próximos a outros já bastante conhecidos da comunidade científica. O bioma pantanal, com 88,7% de remanescentes, é o mais preservado de todos.

Ele é seguido pela amazônia (85%), pela caatinga (62,6%), pelo cerrado e pelos campos sulinos (41,3%). "No caso do cerrado ocorreu a mesma coisa. Muitos pesquisadores diziam que áreas usadas para o pastoreio não poderiam entrar nos mapas da cobertura vegetal. Mas resolvemos incluir, pelo mesmo critério usado para a mata atlântica."

Reserva de gás pode atrapalhar conservação

Da reportagem local

O mapa de áreas prioritárias marinhas do Brasil, aprovado esta semana pelo Ministério do Meio Ambiente, se for levado a sério, poderá entrar em conflito com a política energética nos próximos anos.

Para preservar a biodiversidade marinha será preciso cautela na exploração de reservas de gás natural e petróleo. No litoral paulista, por exemplo, grandes reservas de gás descobertas em 2004 já estão quase prontas para serem exploradas.
Contudo, "a portaria que aprova o mapa não gera restrição legal", diz João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente.

Segundo o representante do governo, onde houver algum tipo de sobreposição, o mapeamento feito agora será importante para que o dano a vida marinha seja evitado. (EG)

FSP, 23/12/2006, Ciência, p. A16

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