VOLTAR

País precisa de US$ 470 bi em energia até 2030, diz AIE

OESP, Economia, p. B9
08 de Nov de 2006

País precisa de US$ 470 bi em energia até 2030, diz AIE
Entidade estima aumento no consumo de 2,1% por ano e ressalta importância da participação do setor privado

João Caminoto

A Agência Internacional de Energia (AIE), em seu relatório World Energy Outlook (Perspectiva da Energia Mundial) divulgado ontem, calcula que o consumo de energia no Brasil vai ter crescimento médio de 2,1% ao ano até 2030. Para suprir essa demanda e afastar o risco de novas crises no abastecimento no País, como o apagão de 2001, serão necessários investimentos de US$ 470 bilhões no setor nesse período.

'A mensagem mais urgente do estudo no caso do Brasil é a necessidade de o País gerar investimentos na infra-estrutura de petróleo, gás e eletricidade', disse o economista-chefe da agência e autor do estudo, Fatih Birol. 'E a prioridade para o governo será fortalecer suas políticas e estrutura regulatória para o setor com o objetivo de garantir os investimentos.'

Ele observou que o País precisa resolver problemas ambientais relacionados à construção de grandes represas, gasodutos e linhas de transmissão.

O World Energy Outlook dedicou um capítulo especial ao Brasil. O diretor-executivo da AIE, Claude Mandil, em entrevista exclusiva ao Estado após a apresentação do estudo, em Londres, explicou que isso se deve à crescente relevância econômica do País, inclusive para o setor energético mundial.

'Apesar de seus substanciais recursos, o Brasil consome mais energia do que produz', afirmou. 'Houve progressos importantes no País nos últimos anos, como na área de biocombustíveis, mas é necessário agir com urgência na atração de investimentos e busca de maior eficiência energética.'

O estudo observa que o financiamento do setor energético brasileiro será 'difícil por causa do limitado desenvolvimento dos mercados de capitais do País'. 'O financiamento externo poderia ser responsável por uma significativa proporção dos fluxos de capitais para o setor energético do Brasil, especialmente nas indústrias petrolíferas e de petróleo, se as condições certas forem criadas.'

A AIE calcula que a produção de petróleo brasileira atingirá 3,1 milhões de barris diários em 2015 e 3,7 milhões de barris em 2030. O País continuará auto-suficiente no período, 'desde que ocorra o necessário investimento no setor de exploração e produção de petróleo', estimado em US$ 100 bilhões. No total, o setor exigirá investimentos de US$ 185 bilhões.

A fatia das importações brasileiras de gás natural também deverá declinar, apesar do crescimento da demanda. Mas desde que as reservas de gás do país sejam desenvolvidas com suficiente rapidez.

O Brasil, segundo a AIE, continuará dependente dos recursos hídricos para geração elétrica, construindo 66 GW de nova capacidade até 2030. 'As represas provavelmente estarão longe dos centros de demanda, requerendo investimentos em linhas de transmissão para conectá-las à rede nacional.'

O setor elétrico vai exigir investimentos de US$ 250 bilhões ou 54% do total do setor energético - metade para a geração e o restante para transmissão e distribuição. 'O setor privado será cada vez mais necessário para preencher os requisitos de investimentos', afirmou. 'Isso vai exigir uma reforma da estrutura de preços e maior transparência e consistência do regime regulatório.'

O 'cenário de referência' para o Brasil elaborado pelo estudo da AIE prevê que o consumo de energia vai saltar dos atuais 200 Mtoe (milhões de toneladas equivalentes a petróleo) para 352 Mtoe em 2030. As projeções se baseiam num crescimento médio anual de 3% do PIB .

Em outro cenário, de 'política alternativa', que se baseia na eventual adoção de um conjunto de medidas de maior eficiência energética, o aumento seria reduzido em 38 Mtoe, resultando num crescimento anual de 1,7% por ano até 2030.

Com relação à energia nuclear, o diretor-executivo da AIE vê como positiva a possibilidade de construção de novas usinas. 'As usinas nucleares têm papel fundamental na sustentabilidade energética do mundo e são importantes também para o Brasil.'

Segundo a AIE, a participação dos biocombustíveis no consumo de transportes rodoviários saltará dos 14% registrados em 2004 para 23% em 2030.

OESP, 08/11/2006, Economia, p. B9

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.