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Padre indígena afirma que índios da cidade merecem mais atenção

Folha de boa vista-Boa Vista-RR
24 de Jun de 2002

A Pastoral Indígena da Cidade (PIC) conta com o apoio incondicional do padre Resvilande Araújo, índio da etnia wapixana, que assim como todos os índios que deixaram a maloca e viveram para a cidade, o fez em busca de uma vida melhor. Ele conta que veio para Boa Vista acompanhando a mãe, quando ainda era pequeno.

Padre Revislande disse que a opção sacerdotal foi influência da ação dos padres Missionários da Consolata, na década de 70, em especial do Padre Segundo, já falecido, que demonstrava atenção especial aos nativos que residiam na cidade.

Mesmo sendo líder da Igreja Católica, ele afirma que ainda hoje sofre discriminação por sua origem indígena. "Muitas pessoas me tratam como padre de segunda, como se um índio não tivesse condições de ser padre", diz. Segundo ele, é exatamente esse preconceito que acaba fazendo com que a maioria dos índios que buscam uma vida melhor na cidade fique confinada na periferia, vivendo em miséria absoluta.

Padre Revislande fez uso da pesquisa desenvolvida por Patrícia Ferri, em 1990, para mostrar o quanto o preconceito em relação aos indígenas é grande. Os dados mostram que de 150 índios das etnias Macuxi e Wapixana, 53 eram analfabetos, somente três haviam feito vestibular e 14 eram semianalfabetos.

Para o padre, essa pesquisa mostra como são poucas as oportunidades dadas aos índios que resolvem viver na cidade, o que faz com que eles não consigam estudar e ter uma vida mais digna. "A discriminação se torna ainda maior quando se trata dos índios que vêm da Guiana inglesa, que não falam português", observa.

O padre wapixana afirma que as organizações indígenas existentes em Roraima só se preocupam com os índios que ainda vivem nas malocas e que nunca foi feito um trabalho com os índios que vêm para a cidade. "Então, o que nós estamos querendo com a Pastoral do Índio é criar espaços para que eles possam compartilhar sua cultura e um modo de celebrar que é diferente dos brancos", frisa.

O objetivo da pastoral é resgatar a identidade cultural dos índios que vivem na cidade. Isso porque muitos deles acabam sofrendo uma crise de identidade por não serem brancos e terem perdido os laços com seu povo. "Isso os leva à bebedeira", salienta.

Uma das tentativas de manter a cultura viva foi a formação de uma escolinha de língua macuxi. Porém, a iniciativa enfrenta uma grande barreira para funcionar porque a língua indígena é desprezada. "As pessoas dizem que os índios que tentam falar no seu idioma estão falando gíria, como forma de desprezar a língua indígena", observa.

Como há resistência dos índios adultos em falar a sua própria língua a idéia é trabalhar com a língua macuxi e wapixana com as crianças de origem indígena. Ele reconhece, no entanto, que os próprios pais não querem que os filhos falem a língua indígena com medo das crianças serem discriminadas.

Além do trabalho na pastoral, outra forma do padre Revislande manter o seu compromisso com seus parentes índios é participando de discussões num grupo de reflexão composto por religiosos e religiosas da Amazônia acerca dos problemas que envolvem a questão indígena.

Ele afirma que ser fiel a terra onde nasceu e ao Evangelho são seus outros compromissos. Ainda faz parte desses compromissos - que ele também diz ser um desafio - aprender ele mesmo a língua wapixana.

Padre Revislande afirma que a demarcação das terras indígenas é fundamental para que se possa manter a cultura dos índios. "As áreas indígenas são a garantia da sobrevivência desses povos", afirma. Para ele não é normal que de um ano para outro em vez de aumentar um povo diminua, como acontece com os povos indígenas. "Isso é sinal de que alguma coisa está errada".

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