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Os índios nas artes plásticas

OESP, Caderno 2, p. D1
19 de Abr de 2004

Os índios nas artes plásticas
Duas exposições no Rio reúnem artistas indígenas ou obras que retratam suas vidas

Beatriz Coelho Silva

Os índios mostrados por eles mesmos. Os índios vistos por artistas plásticos. Os índios pintando a natureza e seu cotidiano. Duas exposições, Ticuna, Pinturas da Floresta e Yanomani, o Espírito da Floresta e a mostra Vídeo nas Aldeias: um Olhar Indígena, serão abertas hoje, Dia do Índio, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Nas duas últimas décadas, é a primeira vez, no Rio, que um evento desse porte aborda o tema.
Cada um tem origem diferente. Ticuna começou como um calendário produzido pelo designer Alex Chacon, em 2000, usando a produção do projeto Livro das Árvores, parte da formação de professores indígenas bilíngües. Essa etnia com cerca de 35 mil pessoas vive no Alto Solimões, onde a Amazônia entra pela Bolívia e Peru. "Conheci na época a professora Jussara Gruber, que coordenava oficinas de pintura com os índios e escolhi 12 trabalhos para o calendário. Fiquei impressionado com a qualidade da pintura deles, geralmente figurativa, mas sempre alicerçada na sua mitologia ou no meio ambiente", conta Chacon.
Os 12 primeiros quadros, pinturas sobre papel, fizeram parte da Mostra do Redescobrimento, em 2000, e depois foram para a embaixada do Brasil, em Roma. Para o CCBB, foram escolhidos mais 28 trabalhos, em que a grande surpresa é a sofisticação das imagens. "Algumas parecem acadêmicas, embora os índios não tenham qualquer preocupação ou formação nesse sentido", ressalta Chacon. Ele só lamenta não ter podido trazer para a abertura dois dos 40 artistas que expõem aqui. "Eles precisavam de autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai) para viajar, o que inviabilizou sua vinda."
Yanomani, o Espírito da Floresta faz o caminho inverso. A fotógrafa Claudia Andujar e antropólogo Bruce Albert convidaram 12 artistas plásticos a conviver na região dessa etnia e, da experiência, eles produziram obras em suportes variados, que vão de pinturas, vídeos, instalações e até um filme, A Casa e a Floresta, de Lothar Baumgartem. A mostra foi financiada pela Fundação Cartier, mantida pela joalheria francesa e, antes de chegar ao Rio, foi exibida em sua sede, em Paris. Além de Cláudia Andujar, a única brasileira convidada foi a carioca Adriana Varejão.
Os 42 trabalhos de Vídeos na Aldeia foram produzidos entre 1988 e 2003, pelos próprios índios e documentaristas interessados no assunto, inclusive Mari Corrêa, diretora da organização não governamental que dá nome ao evento. Segundo ela, as produções dos índios dão uma visão inabitual. "Eles têm total intimidade com o objeto que filmam e sempre usam o humor para falar dos assuntos que lhes interessam", diz ela. Os documentários predominam, mas não há um tamanho fixo. "Como não visamos primordialmente a exibição comercial, não nos prendemos a seus formatos. Cada vídeo tem os minutos que seu autor acha necessário para contar a história e, por isso, tanta variação."
Na semana que vem, haverá dois debates na quinta e sexta-feira, com produtores (indígenas ou não), antropólogos e críticos de cinema, discutindo se existe um olhar indígena nos audiovisuais e a representação do índio na mídia.

OESP, 19/04/2004, Caderno 2, p. D1

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