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OMS alerta para o papel do clima nas epidemias

CB, Mundo, p. 18
07 de Abr de 2008

OMS alerta para o papel do clima nas epidemias
Organização completa 60 anos hoje e reitera a ligação entre mudanças climáticas e o agravamento de surtos de dengue, malária e diarréia

Isabel Fleck
Da equipe do Correio

A Organização Mundial da Saúde (OMS) chega aos 60 anos preocupada com as mudanças climáticas. Para o organismo, que logo em seu início teve como desafio a devastação causada pela Segunda Guerra Mundial, a inquietação mais recente é a relação entre o aquecimento global e o reaparecimento de epidemias em todo o mundo. Viroses como a gripe aviária e o ebola, e o aumento da incidência de casos de malária, tuberculose, dengue e de contaminação pelo HIV representam, no momento, os grandes obstáculos da OMS. Hoje, a organização celebra o Dia Mundial da Saúde alertando para a responsabilidade do homem nas epidemias motivadas por alterações climáticas.

De acordo com a OMS, doenças transmitidas pela água, pelos alimentos e por vetores - como mosquitos -, além de males relacionados à poluição do ar, só tendem a se multiplicar com o descontrole do clima. "Ondas de calor, tempestades, enchentes e secas matam dezenas de milhares de pessoas a cada ano. Problemas como diarréia, malária e desnutrição já causaram mais de 3 milhões de mortes em todo o mundo. Mas nem esses números conseguem refletir os impactos devastadores do aquecimento global para a saúde humana", destacou a diretora-geral da organização, Margaret Chan.

Desde a década de 1970, 39 novas doenças foram identificadas e, só nos últimos cinco anos, a OMS registrou mais de 1,1 mil epidemias, incluindo cólera, pólio e gripe aviária. Os países pobres são os que mais sofrem, sendo o sul e o centro da África e o sudeste asiático as áreas que mais exigem esforços da instituição (veja o mapa nesta página). "Um de nossos grandes desafios é garantir a saúde como item fundamental para o desenvolvimento e a segurança desses países, construindo um sistema com base nas necessidades da cada um", explicou ao Correio o porta-voz da OMS, Dick Thompson.

A organização estima que haja cerca de 33 milhões de pessoas infectadas com o vírus HIV, da Aids, só na África Subsaariana. A mesma região concentra ainda 90% dos 300 milhões de casos de malária registrados por ano - que resultam em 1 milhão de óbitos. Epidemias como a de dengue no Brasil também servem como alerta para a OMS. Dados da agência da ONU mostram que, dos 900 mil casos de dengue registrados em todo o continente americano em 2007, 560 mil ocorreram no Brasil. Em 2008, 21 pessoas já morreram em decorrência de dengue hemorrágica no Rio de Janeiro, o que representa um índice de letalidade em torno de 5%. Para a OMS, a taxa aceitável é de 1%.

Importância
Quando foi criada, a Organização Mundial de Saúde tinha como papel principal a distribuição de remédios e vacinas, a contenção dos surtos de doenças e o cuidado com os refugiados da Segunda Guerra. Nos seus primeiros 30 anos, padronizou doenças e medicamentos, e erradicou epidemias como a varíola e a pólio. "A OMS ainda foi importante por ter definido o conceito de saúde como o 'completo bem-estar físico, mental e social'. Ou seja, não é só cuidar da saúde física", explica o professor Gastão Wagner de Sousa Campos, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Nos anos 1990, no entanto, o organismo da ONU teve sua atuação inibida, em parte, pelo apoio prestado por bancos de fomento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial, aos países pobres. "Mas já no começo deste século há uma retomada dos trabalhos, principalmente pela questão do clima, das novas viroses e epidemias", lembra Campos. Para o especialista, a OMS ainda exerce função essencial ao estimular a produção de soros, vacinas e remédios para doenças negligenciadas, que não interessam às indústrias farmacêuticas. "A OMS criou uma cultura de difusão de políticas públicas e de experiências bem-sucedidas. E isso é fundamental para garantir a saúde da população mundial, principalmente nos países mais pobres", avalia.

Seis décadas de conquistas

Confira os principais avanços obtidos pela OMS desde sua criação

1948 Surgimento da Classificação Internacional de Doenças (CID)

1952 O programa de controle mundial da bouba (infecção causada por um microorganismo) é lançado, sendo eficiente no tratamento de 300 milhões de pessoas em 50 países, reduzindo a incidência da doença em mais de 95% em todo o mundo

1974 Lançado o Programa Ampliado de Imunizações (PAI), responsável por evitar cerca de 3 milhões de mortes por ano

1979 Erradicação da varíola

1988 É lançada a campanha de erradicação global da pólio. Desde a sua criação, os casos de pólio foram reduzidos em 99%. Em 2008, apenas quatro países são considerados endêmicos para a doença

1995 O programa Dots, que permite às vítimas de tuberculose receberem gratuitamente medicamentos e atendimento, é criado e beneficia mais de 30 milhões de pessoas

2002 É criado o Fundo Internacional de Combate à Aids, à tuberculose e à malária

2003 O vírus da Sars (sigla em inglês para Síndrome Respiratória Aguda Grave) é identificado pela primeira vez e controlado. Nesse ano, também é assinado o tratado antitabaco da ONU, um dos acordos com maior adesão em toda a história das Nações Unidas

CB, 07/04/2008, Mundo, p. 18

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