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Oitenta sítios arqueológicos do Parque da Tijuca ameaçados pelo abandono

O Globo, Rio, p. 21
09 de Dez de 2003

Oitenta sítios arqueológicos do Parque da Tijuca ameaçados pelo abandono

Tulio Brandão

Parte da história do Rio corre o risco de desaparecer entre as árvores do Parque Nacional da Tijuca. Os cerca de 80 sítios arqueológicos existentes na unidade de conservação, com ruínas dos séculos XVI ao XIX, estão abandonados e o laboratório de arqueologia do Museu Nacional da UFRJ, que funcionava no parque, está fechado desde fevereiro de 2002. A arqueóloga Maria de Lourdes Lemos, autora de um livro sobre os sítios, diz que sua equipe desistiu do trabalho no parque após perder a área do laboratório:

- Primeiro, roubaram os equipamentos. Quando conseguimos verba e apoio, mudou a administração e nos expulsaram de lá. Então redirecionamos nossas pesquisas para Guapimirim. A atual administração até nos convidou para retomar o trabalho, mas não queremos ser expulsos a cada mudança de diretoria. Enquanto isso, as ruínas se deterioram cada vez mais. É preciso investir ali, é a história do Rio de Janeiro.

O atual administrador do parque, Celso Junius, reconhece o problema e diz que a unidade tem projeto de recuperação para as ruínas conhecidas como "Fazenda", primeira sede de cafezal do Rio. Ele depende da captação de R$ 6 milhões para a conclusão da obra:

- Não temos condição de bancar a recuperação de outros sítios arqueológicos. Ofereço uma parceria com o Museu Nacional para tentar captar recursos externos.

Enquanto não há intervenção, as ruínas são consumidas pela mata que cresce à volta. Um exemplo é o Sítio do Cantagalo, também conhecido como Fazenda da Boa Vista, sede do Engenho da Serra, do século XVII, localizado no Vale dos Ciganos. Considerado o maior sítio arqueológico do parque, ostenta um muro de pedra de 130 metros de extensão e várias alas. Especialista na região, o analista Flávio Gondim acompanhou repórteres do GLOBO na visita ao local e lamentou que várias ruínas tenham sucumbido às grandes árvores:

- É preciso preservar o verde, mas não podemos esquecer nossa história.

Opinião: Da teoria à prática

VEM EM boa hora o anúncio de que o Parque Nacional da Tijuca será ampliado em 10%, para permitir que sejam enfrentadas ameaças como caça, queimadas e, sobretudo, a favelização.

POR ENQUANTO, as construções irregulares ainda não penetraram no parque. Mas já começaram a fazer um sério estrago no seu entorno, o que justifica a ampliação da área protegida.

ESSA MEDIDA oportuna será tanto melhor quanto mais rapidamente deixar o papel para se tornar realidade prática. O que exige regulamentação sem perda de tempo.

O Globo, 09/12/2003, Rio, p. 21

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