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Obra sera iniciada imediatamente, diz Ciro

FSP, Brasil, p.A9
25 de Out de 2005

Ministro ignora acordo feito entre bispo e governo sobre adiamento do projeto de transposição do São Francisco
Obra será iniciada "imediatamente", diz Ciro
Fabio Guibu
O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, afirmou ontem em Recife que, se não houver impedimentos legais, as obras de transposição das águas do rio São Francisco serão iniciadas "imediatamente".
Ciro disse também que duvida que o atual projeto seja modificado em razão dos novos debates sobre o tema, marcados após a greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, contra a realização das obras.
"Se nesses debates aparecer qualquer coisa que tenha mérito, será incorporada a mudança -o que eu duvido, porque já estamos debatendo isso há três anos", declarou o ministro.
O início das obras de transposição do rio depende da concessão da licença de implantação pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). No momento, o órgão está impedido de concedê-la devido a uma liminar da Justiça Federal da Bahia. Além disso, a confirmação de que a transposição não será suspensa contradiz, segundo a versão de Cappio, o acordo firmado no dia 6 entre ele e o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais), para pôr fim ao jejum do religioso.
De acordo com o bispo, o governo se comprometeu em adiar o início das obras até que houvesse consenso sobre a viabilidade do projeto. Cappio afirmou que retomaria o protesto, caso o acordo fosse descumprido. Pela versão de Wagner, o acordo não incluía o adiamento das obras.
Cappio permaneceu em jejum por dez dias, em Cabrobó, sertão de Pernambuco. Procurado ontem, ele não foi encontrado.
Ciro também colocou em xeque o cumprimento de outro ponto negociado entre o bispo e o governo: a aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que prevê o investimento, nos próximos 20 anos, de R$ 300 milhões por ano na revitalização e saneamento do rio. "Não apoiarei a PEC, se não for num ambiente de grande acordo", declarou o ministro. "Ninguém faz uma vinculação de receita nessa proporção num país que tem tanta dificuldade, tantas prioridades, interesses regionais poderosos, sem que haja uma força muito grande."
Ciro negou que a transposição -rebatizada pelo governo de "integração"- tenha como objetivo beneficiar os grandes empreendedores, como sugeriu Cappio. "Alguém mostrou para ele uma versão falsa do projeto", afirmou. "Sua reverendíssima não leu o projeto correto, que diz que a água é exclusivamente para o consumo humano."
Segundo o ministro, a captação será aumentada até o limite de 63 mil litros de água por segundo apenas quando a barragem de Sobradinho verter com as cheias do rio São Francisco.
O projeto atual prevê a retirada de 26 mil litros por segundo -o equivalente a 1,4% da vazão mínima do rio na sua foz- para abastecer 12 milhões de pessoas em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
O bispo de Barra defende a priorização da revitalização do rio e a utilização dos R$ 4,5 bilhões que seriam gastos na transposição em pequenas obras de convivência com a seca em todo o semi-árido.
Ciro esteve em Recife para participar de um seminário sobre administração de obras públicas. Antes do evento, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá se candidatar à reeleição e polarizar a disputa com "alguém do PSDB", apoiado pelo PFL.
Ciro atacou a gestão FHC e disse não temer que o embate se concentre no campo da ética. "Me parece que será um debate quente, lamentavelmente imposto pelo provincianismo e baixo nível da política de São Paulo."

FSP, 25/10/2005, p. A9

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