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O polo turístico vai virar terra indígena?

Gazeta Santarém (Santarém - PA) - www.gazetasantarem.com.br
Autor: Celivaldo Carneiro e Sara Waughan
17 de Fev de 2013

A criação de uma reserva indígena em Alter do Chão destrói perspectivas turísticas e econômicas de todos os segmentos produtivos da vila. Por isso uma indagação incomoda muito a quase todas as partes interessadas na questão da demarcação da terra indígena borari.

SANTARÉM - Alter do Chão é hoje um dos destinos preferidos de turistas de cruzeiros internacionais. A sua área urbana e seus entornos concentram várias atividades que atraem milhares de turistas santarenos, brasileiros e estrangeiros todos os anos, responsáveis pela pujança da economia local.

A criação de uma reserva indígena em Alter do Chão destrói perspectivas turísticas e econômicas de todos os segmentos produtivos da vila. Por isso uma indagação incomoda muito a quase todas as partes interessadas na questão da demarcação da terra indígena borari.

A área do distrito de Alter do Chão será incluída no processo de demarcação como terra indígena e, portanto, proibida por lei a entrada de não indígenas nestas terras?

Segundo José Arthur Leal, não! "esta área ficará de fora da demarcação". Esta posição é reforçada pelos argumentos da própria presidente da Associação Indígena Borari de Alter do Chão, Neca, "os não indígenas não serão expulsos de Alter do Chão, só queremos que eles nos respeitem, mesmo porque reconhecemos que dependemos do turismo para nossa subsistência", avalia.

Segundo Neca, as áreas requeridas pelos indígenas são do entorno da vila, como as cabeceiras que formam o Largo Verde e a área de savanas, porém o perímetro urbano da vila ficará de fora da demarcação. Neca tenta justificar a proposta da entidade que preside argumentando, "se as terras forem homologadas nosso objetivo é preservar e utilizar de forma sustentável esta área utilizando, por exemplo, a matéria-prima para a fabricação de artesanato, a criação de peixes por meio da piscicultura, abertura de trilhas para os turistas conhecerem a área e, além disso, Alter é cercada de savanas que possuem uma grande riqueza de plantas medicinais e a única forma que encontramos de conservar estas áreas é demarcar as terras", enfatiza.

Neca não esconde, finalmente, que a associação visa além da demarcação de terras, garantir também seguridade social para os índios, bem como saúde e educação diferenciadas. "Essa é a nossa luta e, hoje, visualizo bons resultados. Não queremos viver amontoados. Todas as áreas requeridas por nós foram habitadas por índios borari. Queremos viver bem com os índios estudando com professores indígenas, desfrutando de serviços de saúde com qualidade e preservando nossa cultura" finaliza a presidente.

CONTRÁRIOS No outro lado deste conflito de interesses estão comunitários que não se reconhecem indígenas e os moradores temporários, que fazem de Alter do Chão refúgio para descanso e até moradia.

Como o advogado Celso Furtado, com propriedade há mais de 10 anos na vila. Para ele a implantação de uma reserva indígena sufocará a expansão da área em torno do balneário. "Alter do Chão é distrito de Santarém, sou totalmente contrário à criação de uma reserva", argumenta, acrescentando não acreditar que haja qualquer descendente direto dos borari.

Para ele o que existe são pessoas com interesse nos benefícios governamentais destinados às pessoas que se intitularam índios ou descendentes. "Acredito que Alter do Chão é patrimônio cultural e turístico e esta reserva irá bloquear o desenvolvimento nesta área que ficará estrangulada".

Para o médico Rubem Dourado Fonseca, dono de uma residência na vila há mais de 12 anos, se for comprovado a existência de indígenas legítimos no balneário, ele se posiciona a favor da demarcação das terras. Mas, enfatiza que há muitas pessoas de má fé que querem se valer dos benefícios e direitos concedidos a esses grupos para se apossar de áreas ainda intocadas. "Aí sou totalmente contra, precisa antes de tudo haver uma verificação dos órgãos governamentais ligados a esta questão da autenticidade das pessoas que se denominam indígenas borari".

O cenário fundiário em Alter do Chão é complexo e à mercê de um cabo de guerra entre os vários interessados. Os governos federal, estadual e municipal construíram políticas, metas e programas em relação ao turismo como base do desenvolvimento local, os indígenas boraris defendem a sobrevivência tendo como base a natureza e tudo o que a floresta pode oferecer.

Por isso, em cada um dos lados há forças a favor de posições conservadoras e também as que defendem mais liberalidade no uso deste potencial turístico e natural.

Será desse equilíbrio que sairá a solução que poderá fazer de Alter do Chão um lugar naturalmente diferente, realmente um tesouro da joia natural amazônica, com contrastes de lideranças, como nesta questão da demarcação de uma área indígena naquele distrito.

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