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O eleitor julga como os políticos veem o meio ambiente

O Globo, Página 2, p. 2
Autor: SILVA, Marcos Regis da
26 de Dez de 2017

'O eleitor julga como os políticos veem o meio ambiente'

Marcos Regis da Silva, diplomata Diretor-executivo do Instituto Interamericano para Pesquisa em Mudanças Globais (IAI) veio de Montevidéu para visitar o Rio, sua cidade natal

ENTREVISTA A: RENATO GRANDELLE renato.grandelle@oglobo.com.br GUSTAVO MIRANDA

"Tenho 64 anos, sou doutor em ciências cognitivas e, apesar de carioca, vivo fora do país desde 1963. Assumi a direção do IAI, órgão que financia estudos ambientais e atua em 19 nações do continente. Acredito que a população pressionará cada vez mais o poder público sobre impactos contra a biodiversidade."
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Conte algo que não sei.
Os desafios das mudanças globais são tão complexos que não existe uma disciplina capaz de lidar isoladamente com o assunto. É necessário convocar especialistas de muitos setores - de sociólogos a climatologistas, passando por profissionais de saúde - para evitar o impacto na economia e no bem-estar da população.
Qual é o papel do Brasil no estudo e nas negociações sobre as mudanças climáticas?
As delegações da América Latina impressionaram por seu preparo na Conferência do Clima de Bonn (COP-23), mês passado. Precisamos aproveitar o fato de nossa região ser muito homogênea. Temos raiz histórica comum, idioma parecido e isso pode nos ajudar a impor reivindicações sobre o resto do planeta. Na África, Ásia e Europa, há séculos de animosidade entre as nações, o que dificulta o estabelecimento de trabalhos conjuntos.
O governo propôs este ano medidas provisórias que diminuiriam áreas de conservação da Amazônia, assim como a extinção de uma reserva de cobre, a Renca. A posição brasileira como defensor do meio ambiente foi abalada?
O Brasil precisa manifestar desejo político para liderar os esforços contra as mudanças climáticas. O país foi muito criticado na COP-23, por seu maior investimento em petróleo. Deve, então, demonstrar mais interesse em acessar pesquisas que norteiem programas para reduzir a emissão de poluentes.
A população brasileira se preocupa mais com o meio ambiente do que os políticos?
Sim, isso já faz parte da sociedade, até porque o país foi sede da Rio 92 e, depois, da Rio+20. Quanto ao poder público... a política é muito complexa, e o país está passando por desafios enormes. Mas sou otimista e confio na sua capacidade de superação.
O Acordo de Paris, principal compromisso climático assumido pelo planeta, foi endossado por todos os países, à exceção dos EUA. Isso pode afetar seus resultados?
Mesmo que Trump mantenha sua rejeição ao acordo, não fará tanta diferença. O importante é que existe um engajamento muito grande dos estados. A Califórnia, se fosse um país, estaria entre as dez maiores economias do mundo, e já informou sua disposição em reduzir a liberação de poluentes. O Texas tem visto um notável crescimento de energias alternativas. Será muito difícil direcionar a economia americana para uma ideologia que vai contra as mudanças que afetam o planeta.
Mas, segundo os cientistas, as atuais metas do acordo não reduzirão suficientemente a temperatura global.
Sim, porque existem dois problemas. O primeiro é o dinheiro: quem paga o quê. O segundo é como garantir que um país respeitará as obrigações que divulgou. A política ambiental deveria ser mais centralizada. Hoje, existem mais de 500 acordos globais, por isso os governos podem ter dificuldade para colocá-los em operação. Mas não tenha dúvida que o eleitor julga como os políticos veem o meio ambiente.
Esse tema ganhará mais espaço nas eleições?
Sim, porque terá conexão cada vez mais evidente com outros setores. Um deles é a saúde. A sociedade já percebe como as mudanças climáticas contribuem para a disseminação de epidemias como dengue, malária, zika e chicungunha.

O Globo, 26/12/2017, Página 2, p. 2

https://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/marcos-regis-…

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