VOLTAR

Novo diesel estimulará agronegócio, diz Dilma

FSP, Dinheiro, p. B16
20 de Mai de 2006

Novo diesel estimulará agronegócio, diz Dilma
Para a ministra da Casa Civil, produto significará "o casamento entre o agronegócio e a indústria do petróleo"

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A nova forma de produzir diesel, usando óleo vegetal, vai reduzir a dependência externa do país e incentivar o agronegócio, na avaliação da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). "É o casamento entre o agronegócio e a indústria do petróleo. É um processo revolucionário", afirmou.
Segundo a Petrobrás, o novo diesel não significará aumento de preços para o consumidor porque seu custo de produção é inferior ao de aquisição do diesel importado, com o qual disputará mercado.
Os testes feitos pela Petrobrás indicam que o óleo vegetal pode ser misturado (de 10% a 18%) no processo de produção do diesel. Um dos resultados da mistura é o aumento de volume de diesel produzido, reduzindo a dependência da importação desse derivado de petróleo. O Brasil consome cerca de 45 bilhões de litros de diesel por ano e importa cerca de 15% desse total.
Outro efeito positivo da mistura, segundo a ministra, é a melhora da qualidade do combustível produzido. "Com o uso do óleo vegetal, é produzido um diesel de mais qualidade, com menos enxofre, mais adequado às exigências ambientais", disse a ministra.
O óleo vegetal será incluído no processo de produção do diesel em uma etapa chamada "hidrotratamento" (tratamento com hidrogênio). A função dessa etapa é diminuir a quantidade de enxofre no diesel.
Na última reunião do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), realizada na quinta-feira, a Petrobrás informou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que pode usar a nova tecnologia, comercialmente, em três de suas refinarias: Refap (Canoas, RS, 189 mil barris por dia), Repar (Araucária, PR, 196 mil) e Regap (Betim, MG, 151 mil).
"Em um momento em que o preço do petróleo explode e todos os países estão procurando outras alternativas [esse novo processo de produzir diesel], reforça a posição que o Brasil já tem, com a participação de combustíveis renováveis em sua matriz", avalia a ministra.

Perspectivas
Na apresentação feita ao presidente da República, a Petrobrás traçou dois cenários preliminares de uso do diesel produzido com óleo vegetal (H-Biodiesel).
No cenário de curto prazo, a partir do segundo semestre do ano que vem, a mistura seria de 10% e poderiam ser consumidos 256 milhões de litros de óleo vegetal, ou 9,4% do que o país exporta.
No cenário de médio prazo, traçado para o biênio 2008/9, o percentual de óleo vegetal usado no processo de produção do diesel é diminuído para 5%, mas a quantidade usada aumenta, porque mais refinarias da Petrobrás já estariam adaptadas para produzir H-Biodiesel.
Nesse cenário, a quantidade de óleo vegetal sobe para 425 milhões de litros, ou 15,5% do volume de óleo de soja exportado.
A Petrobrás informou que o óleo vegetal pode ser produzido por meio da soja, do girassol, da mamona, da palma e do algodão. A maior produtividade é a da palma, seguida da mamona, do girassol, da soja e do algodão.

Biodiesel
Na avaliação do governo, o uso de óleo vegetal é uma "rota complementar" ao programa do biodiesel. No biodiesel, o óleo vegetal produzido a partir de oleaginosas como a mamona passa por um processo industrial (transesterificação), vira biodiesel e é vendido para distribuidoras de combustível, que o misturam ao diesel já comprado da Petrobrás.
Desde quarta-feira, 22 postos da BR Distribuidora em 13 Estados passaram a vender diesel misturado com 2% de biodiesel em sua composição.
O objetivo da companhia é atingir 500 postos de combustíveis no prazo de dois meses. Até janeiro de 2008, toda a oferta de diesel terá de ter 2% de biodiesel em sua composição.

Diesel com óleo vegetal será feito em 2 refinarias

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A Petrobras desenvolveu uma tecnologia inédita para a produção de um diesel com 18% de óleo vegetal em sua composição, cujo custo é menor do que o produto convencional (100% derivado do petróleo) e todo o processamento ocorre na refinaria de petróleo.
Batizado de H-Bio, o novo produto será fabricado em duas refinarias da companhia -Regap (MG) e Repar (PR)- a partir do próximo ano e em cinco unidades até 2011. A estatal não informou o investimento necessário para o desenvolvimento do projeto, inédito no mundo.
A diferença do biodiesel convencional está no processo de produção, que do H-Bio é mais barato. No caso do biodiesel tradicional, o óleo ou os grãos (soja, mamona ou outro) são processados em uma unidade produtora de biodiesel e o produto depois é misturado ao diesel derivado de petróleo que sai das refinarias da Petrobras. A mistura é feita pelas distribuidoras.
O governo estabeleceu que a partir de 2008 é obrigatória a mistura de 2% do biodiesel (convencional) ao diesel derivado de petróleo. Esse percentual sobe para 5% em 2013.
Pela nova tecnologia, a Petrobras compra o óleo vegetal e o mistura ao petróleo antes de completar o processo de refino. Ao final, sai da refinaria o diesel pronto para abastecer os veículos, sem precisar de adição de nenhum outro produto.
"Testamos o produto e vimos que ele é técnica e economicamente viável", disse o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Os testes em escala comercial foram realizados na Regap utilizando exclusivamente óleo de soja.
Segundo Costa, além do preço menor, o novo produto permitirá reduzir as importações de diesel. Se a mistura de óleo vegetal fosse de 10%, haveria uma economia de 256 mil metros cúbicos de diesel ao ano. A cifra representa hoje 10% do diesel importado.
Com base na estimativa de usar 10% de óleo de vegetal, a Petrobras estima que demandará 10% das exportações atuais de óleo de soja -2,7 milhões de metros cúbicos/ano- para a produção do diesel H-Bio.
Costa disse que o percentual de óleo vegetal a ser utilizado na produção do H-Bio dependerá das condições de preço do mercado e da oferta do produto.

FSP, 20/05/2006, Dinheiro, p. B16

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.