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Noruega de olho no 'Mar do Norte' brasileiro

O Globo, Economia, p. 34
09 de Out de 2011

Noruega de olho no 'Mar do Norte' brasileiro
País aposta em segunda fase de investimentos, focados em serviços. 'Ofensiva viking' inclui visita de 45 empresas

Janaina Lage*

BERGEN e ALESUND. Os empresários noruegueses se acostumaram a olhar para o Brasil como uma espécie de segundo Mar do Norte, a fonte de riqueza para exploração de petróleo que responde hoje por um quinto do Produto Interno Bruto do país. Mas, depois da chegada da petroleira Statoil, a Noruega prevê agora uma segunda fase de investimentos focados na cadeia de serviços, com atividades que vão desde o reparo de embarcações até a instalação de novos sistemas sanitários. Esta "ofensiva viking" inclui a visita de 45 empresas entre 2011 e 2012, o equivalente a um terço do total de companhias norueguesas instaladas no Brasil ou que atuam por meio de representante comercial. Como sétimo maior investidor no país, a Noruega tem recursos aplicados da ordem de US$ 25 bilhões.
O petróleo foi fator decisivo para tornar o país europeu líder mundial no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e montar uma cadeia de serviços baseada em empresas de alta tecnologia. Mas conciliar a experiência norueguesa com a cultura brasileira não é tarefa fácil.

Três lições para reduzir as diferenças culturais
Num país onde o expediente se encerra às 15h30m e em que o feijão com arroz é substituído no almoço por um sanduíche rápido de camarão ou salmão, proliferam as palestras sobre como investir no Brasil. A receita básica pode ser dividida em três itens: aprenda português, seja paciente com a burocracia local e busque um sócio brasileiro. Seguindo a prescrição, o estaleiro Kleven Maritime anunciará em breve uma joint-venture com uma empresa de Niterói. Com dois navios em águas brasileiras, o Kleven pretende iniciar suas operações com serviços de reparo e manutenção para a indústria offshore. Atento às lições, Stale Rasmussen, presidente da companhia, recebe jornalistas com um caprichado "oi, tudo bem?" e explica que o Brasil é a bola da vez no setor naval:
- A indústria marítima está de olho no Brasil e gostamos de dizer que seguimos nossos clientes.
(*) A jornalista viajou a convite do governo da Noruega

Falta de mão de obra qualificada é a maior queixa
Formação insuficiente afeta ritmo necessário para os negócios

BERGEN e ALESUND. Entre as fornecedoras de equipamentos, a meta máxima é obter um contrato com a Petrobras, e o roteiro Rio de Janeiro-Macaé já se tornou uma peregrinação popular entre os empresários. É o caso de Stein Mohn, presidente da Argus Remote Systems, que trabalha com veículos subaquáticos. Recémchegado do Rio de Janeiro, ele avalia que um contrato seria o pontapé para a instalação de uma base nos mesmos moldes da que está há dez anos na Argentina. Com filmagens exibidas em canais como National Geographic, a empresa fechou parceria com a Wilson, Sons.
Mas nem tudo é contentamento quando se fala em Brasil. A principal queixa se refere à falta de mão de obra qualificada, um entrave que muitos avaliam ser impossível de transpor no ritmo necessário para o plano de negócios da Petrobras.
- Não podemos trazer só funcionários estrangeiros. Sem pessoal, os salários e os preços sobem e a competitividade cai. O Brasil precisa acelerar a formação profissional - afirma Trond Olsen, da Innovation Norway.
Quem já está instalado no mercado, como a Framo Engineering, que trabalha para Petrobras e Shell, já começa a trazer funcionários para treinamento na Noruega. Foi assim que o carioca Rafael Huguenin, de 26 anos, formado em Engenharia Mecânica pela UFRJ chegou a Bergen.
As oportunidades no Brasil estão até no banheiro. A Jets, fabricante de sistema sanitário com economia de água, iniciou operações com serviços para cruzeiros e navios offshore e agora negocia a instalação em estádios da Copa de 2014 e prédios públicos. (Janaina Lage)

O Globo, 09/10/2011, Economia, p. 34

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