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No Pará, parentes denunciam chacina; PM fala em confronto

O Globo, País, p. 13
26 de Mai de 2017

No Pará, parentes denunciam chacina; PM fala em confronto
'Polícia chegou atirando em todo mundo', diz familiar; OAB contesta a versão oficial e cobra investigação

-BELÉM- Parentes das vítimas que morreram na última quarta-feira, em ação da polícia numa fazenda do Sudeste do Pará, contestaram ontem a versão oficial de que houve confronto e troca de tiros no local. Segundo eles, a polícia chegou atirando. Nove homens e uma mulher morreram.
- Três sobreviventes do local, que conseguiram escapar, contam essa mesma história: eles estavam acampados, debaixo de uma lona, quando a polícia chegou e já foi atirando em todo mundo, sem chance de defesa - disse um homem que pediu para não ser identificado.
A Secretaria estadual de Segurança Pública e da Defesa Social (Segup), por sua vez, informou que os policiais militares foram recebidos a tiros na fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D'Arco, quando foram cumprir 16 mandados de prisão contra suspeitos do assassinato de um vigilante da fazenda, ocorrido no fim do mês passado. A polícia afirmou que apreendeu 11 armas de fogo durante a operação e disse que quatro dos dez mortos tinham pedidos de prisão decretados.
- É um poder de fogo muito grande. Nove armas longas, fuzil .762 e pistola Glock - disse o coronel Hilton Benigno, comandante geral da Polícia Militar do Pará.
A versão oficial, porém, é duramente rechaçada pelos familiares.
- Como é que teve esse tiroteio e nenhum dos policiais foi ferido ou baleado? Nem uma das caminhonetes? - questionou um parente que também pediu para não ser identificado.
O presidente da Comissão de Direitos Agrários da OAB-PA, Ibraim Rocha, também considerou difícil acreditar em um confronto com dez mortos de um lado e nenhum ferido do outro.
- Sinceramente, custo a acreditar que dez pessoas sejam mortas e seja um confronto com a polícia. A OAB, junto com o Conselho Nacional de Direitos Humanos, vai requerer uma rigorosa investigação nesse caso. Queremos uma investigação séria e isenta porque dez mortos é uma violência extrema. A versão do estado deve ter fundamento, mas precisa ser provada.
MINISTÉRIO PÚBLICO APURA MORTES O caso está sendo apurado pelos ministérios públicos estadual e federal, e os policiais que participaram da ação devem responder a inquéritos internos.
Secretário de Segurança Pública do Pará, Jeannot Jansen da Silva Filho afirmou que as investigações serão feitas de forma isenta:
- Não vamos ser hipócritas e negar a dimensão do episódio. Devemos satisfação para a sociedade, e essa é a razão pela qual encarregamos a nossa delegacia especializada para tomar conta dos inquéritos. Uma equipe imparcial, fora do local, realizará o inquérito.
Duas promotoras de Justiça do Ministério Público do Pará tiveram dificuldades para acompanhar as perícias dos corpos nas cidades de Marabá e Parauapebas, para onde as vítimas foram levadas.
Elas tiveram o acesso liberado após o procurador-geral de Justiça, Gilberto Martins, telefonar para Jeannot Jansen da Silva Filho. As promotoras, porém, não puderam fotografar os corpos ou fazer qualquer registro documental do trabalho dos peritos.
Área da ação policial que resultou nas dez mortes, a fazenda Santa Lúcia já foi invadida três vezes desde 2015. Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), não houve acordo financeiro com o proprietário, que conseguiu a reintegração de posse no mês passado. De acordo com o advogado das vítimas, José Vargas Júnior, os agricultores haviam informado ao Incra e ao Tribunal de Justiça do Pará sobre o clima tenso na região.
- Eles estavam lá para adquirir um pedacinho de terra e trabalhar, para sustentar suas famílias. Não foram lá para brigar, não foram lá para matar, e foram vítimas, assassinados brutalmente, sem nenhum poder de defesa - disse outro familiar de uma das vítimas, que também não quis ser identificado.
NO ANO PASSADO, 61 ASSASSINATOS De acordo com relatório divulgado no mês passado pela Comissão Pastoral da Terra sobre conflitos no campo, foram registrados 61 assassinatos nesse tipo de situação no ano passado - maior número desde 2003. Neste ano, até ontem, já foram assassinadas 36 pessoas em conflitos no campo no país, já incluídas as dez mortes na fazenda Santa Lúcia, no Pará.
(Com G1 e Agência Brasil)

O Globo, 26/06/2017, País, p. 13

https://oglobo.globo.com/brasil/policia-chegou-atirando-em-todo-mundo-d…

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