VOLTAR

Nas árvores gigantes, rainhas da Amazônia, o futuro da floresta

O GLOBO - http://oglobo.globo.com
Autor: Ana Lucia Azevedo e Renato Grandelle
26 de Abr de 2010

A imensidão da floresta, a vastidão dos rios, a riqueza extrema da biodiversidade. E, sempre, a devastação em massa. Tudo é grandioso quando se fala na Amazônia. Mas, para preservar a floresta é preciso compreender suas sutilezas, os caprichos de suas criaturas. E mesmo as maiores entre estas, as árvores gigantes, vivem de pequenas delicadezas. Entendê-las está no cerne da salvação da maior floresta tropical da Terra.

Samaúmas, castanheiras e mognos destacam-se na mata. Três espécies emblemáticas da Amazônia, elas reinam soberanas numa floresta de gigantes. Ultrapassam os 40 metros e seus troncos largos não são para o abraço de um só homem. Ainda assim, dependem de criaturas pequenas como abelhas e cutias para se multiplicar. Tudo parte da complexa dinâmica da floresta tropical que a ciência se esforça para desvendar.

O problema é que a proteção da mata tem a urgência ditada pela velocidade de queimadas e motosserras. Mas o tempo da floresta não é o tempo do homem. Castanheiras podem ser derrubadas em instantes, mas levam 500 anos para chegar à plenitude. Mognos e samaúmas abatidos às toneladas já se erguiam acima da copa da floresta antes mesmo de os primeiros europeus chegarem ao Brasil. O alerta dos especialistas é que se esta geração não fizer nada agora, só o nada restará para as gerações futuras.
A nobreza e a tragédia do mogno

O leitor certamente conhece o mogno. Talvez nunca tenha encontrado a árvore, mas a viu transformada em móveis e instrumentos musicais. Sua madeira é valorizada no mercado internacional: o metro cúbico vale até US$ 1.200. E o fato de ser a madeira mais nobre do mundo transformou a espécie numa das mais ameaçadas e difíceis de proteger. Instruções normativas, medidas provisórias e até uma moratória tentaram em vão deter o abate ilegal do ouro verde - como ficou conhecida a árvore. Por falta de fiscalização, nenhuma das iniciativas governamentais conquistou grandes resultados.

Há sete anos a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (Cites, na sigla em inglês) passou a exigir uma série de normas para a exploração do mogno. A regulamentação melhorou a situação mas não impediu que o mogno continuasse a ser derrubado.

- Houve um ano em que a Alemanha, um país sem mogno, exportou 30% mais madeira da árvore do que importou - revela Bernd Degen, diretor do Instituto Alemão de Pesquisa em Áreas Rurais, Florestais e de Pesca. - Isso acontece porque os compradores da madeira no país, para driblar a fiscalização e pagar taxas menores, declaram o mogno como outra espécie.

Saiba mais sobre as samaúmas e as castanheiras

As dificuldades para controlar a exploração da árvore começam muito antes de sua chegada à Europa. Presente nas Américas Central e do Sul (Brasil, Bolívia, Peru e Colômbia), o mogno figura em uma delicada parte de nosso território - a faixa sul da Amazônia. A floresta ali é mais aberta, ideal para uma planta que atinge até 40 metros de altura e precisa de espaço para se desenvolver. Mas a intensa atividade econômica da região, uma área de fronteira agrícola, condenou a espécie, que tornou-se alvo fácil dos madeireiros.

- O mogno ocorre em densidades muito baixas: menos de uma árvore adulta por hectare - ressalta Maristerra Lemes, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). - Quem tem interesse em explorar a espécie logo acaba com ela. Depois, queima o resto da vegetação e põe gado, traindo a vocação básica da região, que é florestal. Muitas árvores, de várias espécies, são perdidas assim.

O Brasil ainda não tem medidas reguladoras eficazes para um manejo sustentável da espécie. Leia-se: explorar deixando o suficiente para que, anos depois, um mesmo volume de madeira possa ser retirado da região. Por aqui, o costume ainda é cortar até a exaustão, convertendo, depois, a área em pasto. Tanto é assim que não se sabe precisamente o tempo necessário para uma população de árvores se recuperar da primeira investida. Na Bolívia, estimou-se, com base no diâmetro das árvores comercializadas, que o mogno deveria levar de 70 a 110 anos para ser cortado novamente.

- Infelizmente os madeireiros não vão esperar uma vida para cortar o mogno mais uma vez - lamenta Maristerra. - Ninguém seguirá esta medida por conta própria. Por isso é necessário impor estes limites em lei.

A intervenção do Estado, no entanto, ainda é miragem onde sobrevive o mogno. A espécie, de tão valiosa, provoca até invasão de fronteiras. Madeireiros peruanos têm feito incursões no extremo oeste do Brasil, nos estados do Acre e Amazonas, em busca da árvore.

Tantos ataques fazem com que sua recuperação seja lenta. O mogno pode precisar de 20 anos para começar a fecundar. Daqui a poucas décadas, portanto, a espécie pode estar totalmente extinta.

http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2010/04/26/nas-arvores-gigantes-rai…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.