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Na ONU, ministro critica muros em favelas do Rio

OESP, Nacional, p. A12
08 de Mai de 2009

Na ONU, ministro critica muros em favelas do Rio
Vannuchi questiona projeto do governo fluminense, após cobrança das Nações Unidas; governador Sérgio Cabral não comentou declarações

Jamil Chade e Márcia Vieira

O ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, criticou ontem, em Genebra, a construção de muros nas favelas do Rio de Janeiro e afirmou que "sociedades democráticas não erguem muros". Na quarta-feira, a ONU questionou o governo brasileiro em relação à construção dos muros. "A ideia do muro é de segregação, criando enclaves humanos", afirmou.

O governo do Rio de Janeiro informou que o projeto será mantido e que o objetivo é impedir que as favelas avancem sobre a mata. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), no entanto, não quis comentar as declarações de Vannuchi. Também decidiu que nenhuma autoridade do governo faria comentários sobre o tema. Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), sugeriu que o ministro se informe melhor sobre o assunto. "Acho importante o ministro saber mais sobre o projeto antes de falar qualquer coisa", disse ontem. Paes é um defensor da construção dos muros, feita pelo governo do Estado, como uma forma de proteger o meio ambiente e conter o crescimento das favelas.

A decisão de construir muros em 13 comunidades na zona sul da cidade para impedir o crescimento das favelas gerou polêmica desde que foi anunciada neste ano. Serão construídos muros de concreto de três metros de altura, num total de 14 quilômetros. O projeto vai consumir R$ 40 milhões.

Ontem, ao Estado, o perito responsável pela questão, Alvaro Mejia, na ONU, voltou a alertar sobre o assunto. "O muro no Rio de Janeiro é simbólico. É um sinal de tudo o que está ocorrendo no Brasil e na América Latina relacionado a problemas sociais profundos. Não podemos deixar isso ocorrer."

Vannuchi explicou que o tema é alvo de discussões no País e deixou claro que não se tratava de uma obra do governo federal, mas de uma iniciativa estadual. Segundo ele, três aspectos foram considerados na construção dos muros: o crime organizado, razões ambientais e a proteção de encostas para evitar deslizamentos. Apesar das críticas, ele destacou que a questão de proteção de matas deve ser considerada.

O ministro afirmou que há um processo aberto na defensoria pública estadual para tentar interromper as obras. "Ninguém quer o fim da Mata Atlântica com o avanço de moradias. Mas a população pobre existe e tem o direito de ter moradia. Isso tem de ser resolvido", disse Vannuchi, para quem São Paulo vive situação parecida, ainda que sem um muro, na construção de casas à beira da Represa Billings.

As declarações de Vannucchi deixaram Rossino de Castro, presidente da Federação das Favelas do Rio, feliz. "Quem manda o governador não escutar a comunidade? Agora ele vai ter que descer do pedestal e ir perguntar o que o povo quer", disse.

OESP, 08/05/2009, Nacional, p. A12

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