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Mulheres yanomami ajudam a descobrir nova espécie de fungo

Galileu - https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia
16 de Jul de 2019

Mulheres yanomami ajudam a descobrir nova espécie de fungo
A descoberta ganhou o nome científico de "Marasmius yanomami" para valorizar o conhecimento tradicional da Amazônia

POR VANESSA CENTAMORI*

Ao longo de 17 anos, a bióloga Noemia Kazue, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), manteve guardado na cozinha de sua casa um cesto feito com o Përisi, uma estrutura de um fungo, similar à uma raiz, usada pela comunidade indígena yanomami para fazer cestarias. Sem saber, lá estava um excelente objeto de estudo, que acabou resultando na descoberta de uma nova espécie de fungo, que foi batizada de Marasmius yanomami.

"Para mim isso é engraçado, a gente procura no laboratório e faz experimentos em busca de coisas novas. Mas tive que viajar lá longe para saber que aquilo que eu tinha na minha cozinha era uma grande novidade", conta a pesquisadora, em entrevista à GALILEU.

A descoberta científica teve participação direta de indígenas da Associação de Mulheres Yanomami Kumirãyõma e está no livro trilíngue Përisi - O Fungo que as Mulheres Yanomami Usam na Cestaria. A pesquisa foi feita com a colaboração de 30 coautores, entre eles, Jadson Oliveira, pós-doutorando (CAPES) em botânica, também do Inpa. Foi descoberto que o Përisi, que é trançado como um "fio" para a fabricação das cestas, era um rizomorfo, parte de um fungo, capaz de transportar nutrientes a grandes distâncias.

"Eu e a Noemia fomos lá na região de Maturacá, onde as yanomami coletam o 'fio', e tentamos encontrar o cogumelo, que é da mesma espécie. A partir do cogumelo nós chegamos na identificação taxonômica com base nas estruturas morfológicas", explica Oliveira à GALILEU.

"O cogumelo equivale à flor das plantas, pois ele é responsável pela dispersão. Assim como para a planta é necessário a flor para identificá-la, o fungo precisa do cogumelo para a identificação", conta Kazue.

Segundo Oliveira, a publicação da descoberta em um livro se tornou uma maneiras das mulheres yanomami defenderem "o seu conhecimento e seu território"."Elas mesmo fizeram as coletas, enviaram o material para nós, que fizemos a análise com a microscopia", explica. "Checamos na literatura científica e vimos que era uma espécie nova".

Adentrando a mata
O principal trabalho de campo para a coleta do fungo ocorreu em 2018, no sítio Batatal, onde a equipe chegou após uma viagem que necessitou do uso de barcos e de um carrro. Com a orientação dos pesquisadores, um grupo de aproximadamente 20 mulheres da Associação Kumirayomã recolheu as amostras dentro da mata.

A jornada contou com a proteção de um xamã, líder que cuida da saúde e segurança da comunidade. A proteção é requisito, pois, segundo a presidente da Associação Kumirayomã, Floriza da Cruz Pinto Yanomami, o Përisi "tem dono", já que " a floresta tem quem proteja esse tipo de material". Por ser perigoso, o nome do protetor das matas não costuma ser pronunciado pelas Yanomami.

Vista aérea da Comunidade de Maturacá com a Serra do Opota ao fundo, Terra Indígena Yanomami (AM) (Foto: Rogério Assis / ISA)VISTA AÉREA DA COMUNIDADE DE MATURACÁ COM A SERRA DO OPOTA AO FUNDO, TERRA INDÍGENA YANOMAMI (AM) (FOTO: ROGÉRIO ASSIS / ISA)

"Na mitologia yanomami os fios do Përisi são os pelos pubianos do espírito da floresta. Quando as mulheres arrancam esses fios, esse espírito fica ofendido, então o xamã tem o papel de dialogar com os espíritos", explica em entrevista à GALILEU, Marina Vieira, pesquisadora do Instituto Socioambiental (ISA).

Segundo Floriza, mesmo que por muito tempo as yanomami não soubessem a classificação do fungo, ele sempre esteve presente na cultura delas: é costume da comunidade pintar "grafismos" nas cestarias feitas com o Përisi e os cestos são usados em uma tradicional "festa da banana". "O Përisi fica no chão, entre as folhas, onde a floresta é mais úmida. A gente mesmo que sabe colher, já é da natureza yanomami. Com a descoberta, estamos nos sentindo mais reconhecidas pelo nosso conhecimento da floresta ", afirma a presidente da associação.

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Detalhe de um cesto Motorohima, produzido com o Perisi (fungo) (Foto: Roberto Almeida / ISA)DETALHE DE UM CESTO MOTOROHIMA, PRODUZIDO COM O PERISI (FUNGO) (FOTO: ROBERTO ALMEIDA / ISA)
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Mulheres Yanomami leem o livro 'Perisi - o fungo que as mulheres yanomami usam na cestaria' (Foto: Roberto Almeida / ISA)MULHERES YANOMAMI LEEM O LIVRO 'PERISI - O FUNGO QUE AS MULHERES YANOMAMI USAM NA CESTARIA' (FOTO: ROBERTO ALMEIDA / ISA)
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*Com supervisão de Thiago Tanji

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