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MPF recomenda barragens para salvar indígenas do Alto Rio Solimões

Amazonas Atual - aamzonasatual.com.br
Autor: Jullie Pereira
28 de Mar de 2020

Por Jullie Pereira, da Redação

MANAUS - O MPF (Ministério Público Federal) recomendou à Prefeitura de Santo Antônio do Içá e ao Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) do Alto Rio Solimões que montem barragens sanitárias contra o Coronavírus (Covid-19) e que intensifiquem as medidas de prevenção às comunidades indígenas da região.

O MPF solicita que em até dois dias os relatórios das medidas já adotadas sejam enviados ao órgão. A recomendação acontece após o primeiro caso confirmado de Coronavírus no município. O médico Matheus Feitosa, que atendia a população indígena do Dsei do Alto Solimões, em Santo Antônio do Içá (a 878.71 km de Manaus), testou positivo ao voltar de uma viagem no Paraná, no dia 18 de março. O caso foi anunciado pela diretora-presidente da FVS (Fundação de Vigilância Sanitária), Rosemary Pinto, em coletiva online na última quinta-feira, 26.

"Quando ele chegou em Santo Antônio do Içá e sentiu os primeiros sintomas ele usou a máscara e decidiu se isolar. A notificação foi feita em tempo hábil, recebemos um telefonema da vigilância epidemiológica do município que pediu informações sobre como fazer a coleta. A coleta foi feita, o Lacen processou a amostra e o resultado foi positivo", disse Rosemary. Um equipe da FVS foi enviada ao município, na última sexta-feira, 27, para identificar novos casos e coletar exames que devem ser feitos no Lacen (Laboratório Central) de Manaus.

Até a noite dessa última sexta-feira, 27, a Sesai registrou 13 casos suspeitos de indígenas infectados com o novo Coronavírus, dentre ele um caso no Desei do Alto Rio Solimões, local onde o médico prestou atendimento. Nenhum caso em pessoas indígenas foi confirmado, a informação está disponível no site da secretaria.

Em nota divulgada nas redes sociais, Feitosa disse que atendeu pacientes no dia 18, mas o único sintoma naquele momento era a tosse. Ele usou máscara e luvas para realizar as consultas e no dia seguinte sentiu febre. "Cheguei em Santo Antônio do Içá no dia 18 de março, onde até então estava assintomático. Tive um pouco de tosse, onde prontamente fiz o uso de máscara e todos os protocolos de higienização durante meus atendimentos a fim de evitar qualquer contaminação aos meus pacientes. No dia 19 pela manhã, senti febre. E prontamente me isolei em casa", disse.

O MS (Ministério da Saúde) informou, na última sexta-feira, 27, ao blog do jornalista Matheus Leitão, do G1, que oito pacientes da etnia Tikuna, atendidos pelo médico, estão em isolamento domiciliar e sendo acompanhados pelas equipes da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena).

Saúde indígena

O secretário de saúde do estado, Rodrigo Tobias, informou na última segunda-feira, 23, que a Susam somente prestará auxílio à população indígena caso haja confirmação de pacientes com Coronavírus, pois os atendimentos básicos de saúde dos indígenas são de responsabilidade da Sesai.

"O subsistema de saúde indígena é organizado por meio de distritos, que atendem no nível da atenção básica. Uma vez comprovado que aquele indígena tem o novo coronavírus e necessite em algum momento da atenção especializada, eles são direcionados para a Secretaria de Estado e nesse caso vão para o Hospital Delphina Aziz", disse.

Para garantir assistência especializada à um possível indígena Tikuna infectado, a secretaria precisaria fazer a transferência por aeronave ou barco. Além da dificuldade logística, um dos desafios destacados pela Sesai no 'Plano de contingência' é a resistência da população indígena em aceitar o deslocamento e a hospitalização.

"Dentre os desafios que podem ser observados na atenção à saúde indígena, destaca-se a aceitabilidade do deslocamento para estabelecimento de referência especializada e da própria hospitalização por parte dos indígenas que residem em terras e territórios indígenas", diz o documento.

O 'Plano de contingência' da Sesai, com protocolos diferentes dos usados pela Susam, também alerta para a fragilidade que os povos indígenas têm para as doenças respiratórias. As doenças do aparelho respiratório são o principal motivo de mortalidade infantil entre eles.

"Historicamente, observou-se maior vulnerabilidade biológica dos povos indígenas à viroses, em especial às infecções respiratórias. As epidemias e os elevados índices de mortalidade pelas doenças transmissíveis contribuíram de forma significativa na redução do número de indígenas que vivem no território brasileiro", diz o documento.

A Sesai atende 34 Desei no país, e possui 1.199 UBSI (Unidade Básica de Saúde Indígena). Segundo dados do último censo do IBGE, o Amazonas concentra o maior número de indígenas em todo o Brasil, com mais de 183 mil em seus municípios.

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