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MPF-AC processa apresentadores de podcast e pede indenização de R$ 100 mil por racismo contra indígenas

G1 AC - g1.globo.com/ac
Autor: Aline Nascimento
02 de Set de 2021

https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2021/09/02/apresentadores-de-podca…

Ação que pede a condenação do trio foi protocolada nesta quinta-feira (2) e agora deve ser avaliada pela Justiça Federal. Além disso, o MPF pede retratação dos apresentadores.

O Ministério Público Federal (MPF-AC) processou os apresentadores do podcast Submundo, Geovany Calegário, Maikon Jones e Pedro Lucas Moreira a pagarem R$ 100 mil de indenização por danos morais coletivos e racismo praticado contra a população indígena.

(CORREÇÃO: o G1 errou ao informar que os apresentadores foram condenados. Na verdade, o Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública contra os três e o pedido da condenação ainda vai ser avaliado pela Justiça Federal. A informação foi corrigida às 7h50).

A ação civil pública é em decorrência de um vídeo do podcast onde o trio de apresentadores faz ofensa a indígenas. Após a denúncia, o MPF-AC instaurou um inquérito civil para investigar o caso e nesta quinta-feira (2) entrou com a ação, que agora vai ser avaliada pela Justiça Federal.

Na gravação, um dos apresentadores lê uma reportagem sobre um indígena que foi resgatado após ser perder na mata. Esse apresentador chama o indígena de vagabundo por não conseguir sair da floresta.

Maikon Jones, que também comentava a reportagem, pede para que o amigo não chame o indígena assim e ele volta a repetir: "Vagabundo. Não conhece a floresta é vagabundo. Opiniões fortes aqui. É vagabundo", disse na época Pedro Moreira, conhecido como Pedro Roi.

Ao G1, o humorista Geovany Calegário se limitou a dizer que o caso 'está sendo resolvido na Justiça'. Já Pedro Moreira, o Pedro Roi, falou que não se sente à vontade para se pronunciar sobre o assunto. A reportagem não conseguiu falar com Maikon Jones.

Além disso, o MPF pede ainda a condenação dos réus à retratação pública, mediante vídeo a ser publicado em suas redes sociais particulares, com reconhecimento expresso da ilicitude das falas.

Os humoristas se envolveram em outra polêmica, em junho deste ano, após um trote que acabou em denúncia de homofobia contra o digital influencer Lucas Lima, de 19 anos. Durante a gravação, o influencer foi chamado de 'gayzinho' e os apresentadores ainda falaram da sexualidade dele de forma pejorativa. Com a repercussão do caso, a vítima chegou a ser expulsa da casa do pai.

Após a polêmica, o grupo de humoristas decidiu encerrar as atividades do canal. Já no dia 5 de junho, o MP-AC instaurou notícia de fato para apurar a denúncia e o promotor Thalles Ferreira reuniu material divulgado na imprensa.

Ofensas

Ainda segundo o órgão federal, os acusados não apresentaram interesse em um acordo extrajudicial.

A ação do MPF-AC destaca que o dinheiro da indenização, caso seja julgada procedente, deve ser revertido em projetos educativos e informativos sobre a cultura indígena no Acre. Esses projetos devem ser produzidos pelos indígenas e o MPF.

"É nítido no vídeo o desprezo dos réus aos povos indígenas, especialmente quando selecionam e incluem, previamente, em roteiro humorístico a matéria intitulada "Indígena é resgatado após se perder na mata". Isso porque os apresentadores partem do pressuposto racista de que existem espaços sociais reservados/restritos aos indígenas ("floresta, mata, selva") e o teor estigmatizado da "piada"". diz parte do texto.

O presidente da Federação do Povo Huni kui do Acre (Fephac), Ninawá Inu Huni kui, disse que o pedido do MPF representa o esforço para garantir o direito aos povos tradicionais.

"Não é pelo valor, mas é um cumprimento da lei. Claro que a questão financeira tem uma representatividade porque toca na economia de pessoas. Acima de tudo, a gente tentar denunciar esse tipo de racismo que está acontecendo no Brasil, essa não é a primeira vez e isso nos motivou a entregar com a ação judicial", disse.

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