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Morre Léia Aquino, liderança Guarani Kaiowá de Ñanderu Marangatu

Cimi - http://www.cimi.org.br
Autor: Ruy Sposati
07 de Jun de 2016

Morreu vítima de um AVC a liderança Guarani Kaiowá Léia Aquino, aos 48 anos, no último sábado, 4. Léia foi uma das lideranças mais importantes na denúncia das violências cometidas contra os Kaiowá e Guarani. Em agosto de 2015, liderou os indígenas que ocuparam parte do tekoha Ñanderu Marangatu, no município de Antônio João, onde foi assassinado Simião Vilhalva.

Léia era mãe, professora e uma das principais lideranças da Aty Guasu Guarani e Kaiowá ao longo de toda primeira década do século 21. Foi porta-voz de um sem-número de denúncias de assassinato, ataques de pistoleiros, estupros, casos de racismo, incêndios criminosos, despejos, invasões e outras violências contra os indígenas, envolvendo fazendeiros, policiais e governos. Nos últimos anos, dedicou-se também à luta pelo direito à educação dos Guarani e Kaiowá.

No dia 3, Léia se sentiu mal enquanto dava aulas na aldeia, e foi encaminhada para o Hospital da Vida, em Dourados, mas não resistiu. Seu corpo foi levado de volta à aldeia, e foi enterrado debaixo de um pé de mexerica, na área da retomada da fazenda Primavera, ocupada pelos indígenas no ano passado. Nesta terça, Léia iria à Brasília com um grupo de cinco indígenas de sua aldeia para apresentar demandas de demarcação e de educação.

Luta

Léia fez parte da Convenção dos Direitos Indígenas do Mato Grosso do Sul, e foi uma das fundadoras do Conselho Continental da Nação Guarani (CCNAGUA), criado em 2010. Também era missionária evangélica.

"Uma mulher forte, corajosa, guerreira, que enfrentou a ira dos fazendeiros", comenta a também professora indígena e mestre em educação, Teodora de Souza. "Léia foi ameaçada, mas nunca abandonou seu povo. Ela não apenas falava - estava junto nas retomadas passando calor, frio, vivendo na pele toda dor vivida pelos Guarani e Kaiowá".

Acompanhada de Marcos Veron, Leia participou no ano 2000 de um encontro na Irlanda, com governo e ONGs do país, para denunciar a situação de vida dos indígenas no estado. "Não temos a liberdade que precisamos para ter nossa própria educação, nossas próprias escolas (...); tudo o que precisamos parar viver em comunidade. "Nós não queremos ser dependentes", disse ela na ocasião.

Em 2004, junto do também falecido Amilton Lopes, e de Loretito Vilharva, liderou a primeira retomada de Ñanderu Marangatu, e foi peça-chave na homologação do território tradicional - conquista suspensa monocraticamente pelo ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal (STF) em março de 2005. No mesmo ano, denunciou uma série de ataques que culminou no despejo dos indígenas da área, e na morte de Dorvalino Rocha. As investigações sobre a morte nunca foram concluídas; e também o processo no Supremo, nas mãos do ministro Gilmar Mendes, espera ser julgado há 11 anos.

"Duas semanas após a expulsão e acampamento na beira da estrada, Léia me liga novamente, e com tom de sofrimento grita no telefone 'mataram uma liderança. Atiraram e mataram Dorvalino'", escreveu o missionário Egon Heck, em uma crônica sobre o falecimento da indígena.

Era da inspiração de Léia que surgiram os memoráveis cartazes escritos a mão pelas crianças - seus estudantes na escola -, decorando a resistência dos indígenas contra o despejo. "Com os alunos e professores fizeram uma série de cartazes e faixas que no outro dia, iriam estar presentes na estrada da resistência, aguardando a polícia, com seu pelotão de choque para enfrentar um povo apenas armado com a esperança e secular resistência. E Léia lá estava com seus alunos e colegas testemunhando a covardia da expulsão, ameaças, vôos rasantes de helicóptero, casas queimadas", relatou.

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