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Moradores estocam água e mudam hábitos em 3 estados devido à seca

O Globo, País, p. 10
14 de Nov de 2014

Moradores estocam água e mudam hábitos em 3 estados devido à seca
Pesquisa em 350 cidades de RJ, SP e MG mostra que tempo gasto no banho diminuiu

RENATO ONOFRE E SILVIA AMORIM opais@ oglobo.com. br

SÃO PAULO- A pior seca dos últimos 80 anos provocou mudanças no comportamento de paulistas, fluminenses e mineiros. Além de fechar as torneiras e reduzir o consumo de água, 64% dos moradores de São Paulo, Rio e Minas Gerais afirmam que já estão estocando ou pensam em estocar água para enfrentar a crise hídrica que afeta mais de 130 cidades nos três estados. Entre os que já sofrem com o desabastecimento, a proporção sobe para quatro de cada cinco entrevistados. Além de economizar água, o hábito de consumo também está mudando para 88% dos 2.072 entrevistados pelo painel "#brasilsemfiltro" organizado pela consultoria mineira Expertise. O que mais mudou foi o tempo de permanência no banho.
De acordo com o levantamento feito em 350 cidades do Rio, de Minas e de São Paulo, 83% das pessoas declararam passar menos tempo no banho por medo do desabastecimento. O tempo de escovar o dente ou lavar a louça também mudou: 74% dos entrevistados declararam que estão fechando a torneira durante o uso. O reaproveitamento da água também já é hábito para a maioria dos entrevistados. Seis de cada dez pessoas ouvidas no levantamento afirmaram estar reutilizando a água de alguma forma. E a mesma proporção está cobrando e incentivando mudanças nos hábitos de parentes e amigos. Hábitos condenáveis em períodos de estiagem, como lavar o carro e a calçada, também saíram da rotina de mineiros, paulistas e cariocas: limpar com água as calçadas saiu da rotina de 57% das pessoas ouvidas. Enquanto 47% reduziram a frequência da lavagem do carro.
- As pessoas passaram a refletir sobre seus costumes e parecem estar mais conscientes em relação ao desperdício. A maioria admitiu que poderia usar um pouco menos ou bem menos de água do que usa atualmente - observou Christian Reed, CEO da Expertise.
PESSIMISMO DIANTE DOS PRÓXIMOS 12 MESES
Na Zona Norte da capital paulista, uma das regiões que mais sofrem com a falta de água, a dona de casa Araci Sousa Carvalho, de 67 anos, passou a usar um tambor para armazenar a água que a máquina de lavar solta para reutilizá-la em outras tarefas domésticas. Numa casa vizinha, o líder comunitário Henrique Deloste, de 48 anos, comprou uma outra caixa d'água para aumentar a capacidade de armazenamento. O equipamento ainda será instalado e, por enquanto, ele tem recorrido a garrafas PET para guardar o líquido.
- Todos os dias tem sido a mesma coisa. Quando começa a noite, a água para de chegar e só volta pela manhã. Se não tiver uma caixa grande, fica sem água - afirmou Deloste.
A pesquisa também mostrou que o pessimismo em relação ao futuro ficou evidente. Para 47% das pessoas, a situação vai piorar nos próximos 12 meses e outros 20% não acreditam que ela vai melhorar. Os que já sofreram ou sofrem com os problemas de abastecimento são ainda mais pessimistas: destes, 74% acham que a situação vai piorar ou continuar igual nos próximos 12 meses. Além disso, 84% dos entrevistados acham que o valor da água vai aumentar nos próximos seis meses.
Por outro lado, 41% das pessoas creem na mudança de comportamento da população após o "trauma" da crise hídrica. Os entrevistados foram questionados sobre de quem é a culpa pela falta d'água. De maneira geral, 78% acreditam que a própria população tem muita responsabilidade pela situação atual, 75% acreditam que o governo tem muita responsabilidade, e 62% das pessoas atribuem muita responsabilidade às companhias de abastecimento. No Rio de Janeiro, este número aumenta para 70%.
- Os resultados mostram que apesar de 2014 ter sido comprovadamente um ano de escassez de chuvas em todo o país, as pessoas entendem que se a população fosse mais consciente em relação ao uso da água e se os agentes responsáveis tivessem tomado as medidas necessárias, a situação não teria chegado a níveis tão drásticos - analisou Reed.
No Rio, mesmo tendo água em casa, Sérgio Wilson de Oliveira, morador de Alcântara, em São Gonçalo, mudou alguns hábitos:
- Eu e minha esposa ficamos impressionados com o que aconteceu em São Paulo. O carioca não pode ficar isento, tem que estar mais sensível. É um desrespeito o desperdício diante da falta de água no vizinho - disse Sérgio, que passou a lavar o carro uma vez por mês, em vez de semanalmente.

O Globo, 14/11/2014, País, p. 10

http://oglobo.globo.com/brasil/sp-mg-rio-64-da-populacao-ja-estoca-agua…

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