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Morador de prédio reluta em economizar

OESP, Cidades, p. C3
12 de Mar de 2004

Morador de prédio reluta em economizar
Água é segunda maior despesa de residenciais, mas condôminos não atendem a campanhas

Mauro Mug

O que adianta eu economizar, se meu vizinho desperdiça água? Com esse argumento boa parte dos 3.500 moradores do Condomínio Residencial Porto Seguro, de classe média, na Casa Verde, zona norte, procura justificar o uso não racional da água. "Estou cansada de ouvir essa desculpa", disse ontem a moradora e administradora do residencial, Vera Lúcia Pinto e Silva, de 55 anos. O consumo de água é a segunda maior despesa de um condomínio, responsável por 10% dos gastos. Em primeiro lugar, com 50%, está a folha de pagamento e os encargos, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi).
"A Sabesp deveria multar quem não reduzir o consumo em 20%, a exemplo do que foi feito durante o apagão. Só quando sentem no bolso, as pessoas atendem aos apelos", afirmou Vera Lúcia, com a experiência de quem promoveu, sem sucesso, várias campanhas de conscientização dos moradores para que economizassem água.
De tempo em tempo, ela promove reuniões com os condôminos, coloca cartazes nos elevadores e distribui folhetos com informações publicadas pela imprensa ou divulgadas pelo Programa de Uso Racional da Água (Pura), desenvolvido pela Sabesp. A administradora sempre destaca a necessidade de se escovar os dentes e fazer a barba com a torneira fechada, de reduzir o tempo do banho e de manter a válvula da descarga regulada para reduzir os gastos. "No primeiro mês, o consumo cai um pouco, coisa insignificante. No mês seguinte sobe de novo."
Com a energia elétrica foi diferente. "Como cada apartamento tem seu relógio, os moradores cumpriram a meta de economia determinada pelo governo com medo das multas e do corte no fornecimento, criando um hábito que persiste até hoje", disse. "Mesmo assim vou tentar tentar conscientizar os condôminos, pois só economizando poderemos colaborar para que não ocorra racionamento."
O Residencial Porto Seguro tem 11 edifícios, com um total de 836 apartamentos. Cada um consome mil litros por dia. "É um exagero que custa R$ 88 mil por mês", contou Vera Lúcia. "O pior é que uma senhora que mora sozinha tem de pagar o mesmo que uma família de quatro pessoas, já que a conta é rateada entre todos os moradores."
Para o professor de educação física Jefferson Gimenez, de 33 anos, residente no edifício de classe média alta Maison Pasteur, na Vila Clementino, a solução seria a Sabesp financiar, por meio da Caixa Econômica Federal, a instalação de medidores individuais nos apartamentos.
"De nada adiantam as campanhas de conscientização junto aos moradores de condomínios pois não existe a consciência da economia. Eles não têm controle sobre o que gastam, quantos metros cúbicos consomem", disse Gimenez. Ele mesmo tenta fazer o que pode para economizar, "mas é difícil reeducar uma coisa que não tem controle".
A engenheira Josiane Marcelino, da Hubert Administradora de Condomínios, informou que existem empresas que instalam gratuitamente medidores individuais em prédio que possui apenas uma prumada (tubulação). "Só que a empresa cobra mensalmente um porcentual sobre a quantidade economizada, o que acaba se tornando inviável pelo alto custo."
Em São Paulo, existem 22 mil condomínios residenciais, onde vivem 55% da população da cidade - 5,8 milhões de pessoas. No prédio, onde o professor mora com a mulher e o filho, vivem 150 pessoas, que consomem, em média, 1,3 milhão de litros por mês, incluindo a área comum, ao custo de R$ 3,5 mil.
Multa - "A Sabesp decidiu não multar o cliente que não conseguir economizar 20%, pois aquele que desperdiça já é punido pela tabela progressiva, ou seja, quem consome mais paga mais", informou a superintendente de Marketing da empresa, Maria Lucia Tiballi. "Quem consome até 10 m3 paga R$ 9,62, de 11 a 20 m3 paga R$ 1,50 cada m3, quem ultrapassar os 20 m3 terá de desembolsar mais R$ 3,75 por m3 e, se romper os 50 m3 o custo é de mais R$ 4,14 por m3", explicou.

Americanos reduzem consumo em 25% Desde os anos 1970, programas de reuso de água e preservação ganham força
TONY PERRY Los Angeles Times
LOS ANGELES - Apesar do crescimento da população e do aumento na produção de energia elétrica, o consumo de água nos Estados Unidos é menor do que há 30 anos. Isso significa que conservação funciona, diz um relatório do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).
O relatório, feito a cada cinco anos, mostra que em 2000 os americanos usaram 1,54 trilhão de litros de água por dia - mais ou menos o mesmo de 1985. A queda no consumo foi de 25% desde os anos 1970.
O hidrólogo-chefe do USGS, Robert Hirsch, disse que a preservação e as modernas técnicas de irrigação permitem fazer mais com menos água. "É uma notícia muito boa para o país", disse Hirsch.
O relatório visa a orientar as agências do governo e a indústria a planejar o uso dos recursos hídricos. O vice-presidente do Distrito Metropolitano de Água do Sul da Califórnia, Adan Ortega, diz que os dados confirmam que o reuso de água ganha força. O distrito, responsável por uma região com 18 milhões de habitantes, distribuiu 2 milhões de vasos sanitários que gastam menos água e agora adotou um programa de estímulo a plantio de espécies nativas nos jardins, típicas de áreas secas.
Peter Gleick, presidente do Pacific Institute, um grupo de pesquisa ambiental, disse que se confirma que está errada a máxima dos planejadores americanos: "Não temos de construir grandes projetos de água para atender a sempre crescente demanda."
Ortega acha que não é tão simples assim e o quadro pode mudar. Apesar de as campanhas de redução de consumo terem obtido bons resultados, o maior gasto no país ainda é com a geração de energia elétrica (48%) e irrigação (34%). O uso em casas e locais de trabalho soma 11%.

OESP, 12/03/2004, Cidades, p. C3

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