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Mix de açaí com guaraná faz sucesso nos EUA

OESP, Agrícola, p. G3
14 de Jan de 2004

Mix de açaí com guaraná faz sucesso nos EUA
Empresa do PA, que faz manejo sustentado do açaí, exportou 102 t da mistura em 2003

Juvenal Pereira
Especial para O Estado

Uma empresa do Pará uniu duas frutas típicas da Amazônia, conhecidas principalmente por suas propriedades energéticas, em um produto que está sendo bem aceito nos Estados Unidos, para onde é totalmente exportado: o mix de açaí com guaraná. O mix leva 80% de polpa do açaí e 20% de pó de guaraná, além de açúcar orgânico. O açaí vem de produção própria e de produtores associados e o guaraná, apesar da proximidade com o município amazônico de Maués, é comprado do Projeto Onça, em Taperoá, na Bahia, que tem certificação orgânica pelo Instituto Biodinâmico de Botucatu (IBD).
A empresa, a Amazonfrut, de origem totalmente brasileira, exportou, em 2003, 102 toneladas do mix, com faturamento de US$ 570 mil. Depois que focou sua estratégia de vendas exclusivamente para o mercado externo, no ano passado, o faturamento quase multiplicou-se por quatro: em 2002, a empresa havia faturado com exportações US$ 148 mil. Produz e embala o mix em três versões:
copo de 125 gramas, congelado, e o Premix e o concentrado (xarope), conservados em temperatura ambiente e embalados em barris de 200 litros para uso industrial. Vende, também, o açaí puro, congelado, fornecido em baldes de 20 litros.
A empresa explora, com manejo sustentado, 70 mil açaizeiros nativos em 34,5 hectares de floresta na Ilha de Murutucu, no Rio Guamá, a 15 minutos de barco da capital, Belém. Em setembro de 1995, iniciou a recuperação da floresta nativa, bastante degradada pela extração descontrolada do palmito de açaí, madeira e lenha. A partir daí foram necessários seis anos de manejo para os açaizeiros atingirem a maturidade e passarem a produzir.
Safra - A produção da área manejada pela Amazonfrut e a da Associação dos Cultivadores de Açaí da Ilha de Murutucu (Acaimu), que reúne 108 famílias, atinge 3 toneladas por dia nos cinco meses de safra, que vai de julho a novembro na região. Nos outros meses a fruta é comprada de outras localidades amazônicas, que estejam em safra, como a Ilha de Marajó. "Conseguimos comprar a fruta fresca praticamente o ano todo", diz o engenheiro florestal Ben-Hur Borges, diretor-geral da Amazonfrut. "Paramos a produção apenas por cerca de dois meses, quando a distância do fornecedor não nos permite obter a fruta a menos de 12 horas de transporte. Nesse período a fruta fresca mantém sua composição inalterada, principalmente com a antocianina, um antioxidante que dá a coloração escura ao açaí."
As instalações e a unidade industrial na ilha ocupam 800 metros quadrados, com capacidade para produzir 3 toneladas de polpa por dia. Técnicos e engenheiros florestais orientam os produtores da ilha, ministrando cursos e práticas, para o cultivo e manejo com técnicas adequadas. Os frutos são coletados e depositados em caixas plásticas, que substituíram os tradicionais cestos de palha, muito fáceis de serem contaminados por fungos e bactérias que podem afetar a fruta recém-colhida. A seleção dos frutos, manual, é feita em esteiras. Os selecionadores escolhem os melhores frutos, refugando os que estiverem fora do padrão. São processadas por dia até 5.400 quilos de açaí.
A empresa paga os fornecedores conforme a qualidade do produto, dentro das cotações de mercado. Na ilha, sujeita às marés do Rio Guamá, o transporte do açaí colhido é feito em carrinhos, que deslizam sobre trilhos de madeira, evitando o contato com o chão, com as águas das marés e diminuindo, também, a necessidade de transporte manual.
Exportar - A Amazonfrut optou exclusivamente pela exportação porque, conforme explica Ben-Hur, o mercado local de Belém, que consome até 180 mil toneladas de açaí por ano, prefere a polpa pura e fresca, já que o produto pasteurizado, apesar de totalmente orgânico, tem gosto levemente diferente da polpa fresca. "O processo de industrialização e pasteurização provoca uma leve alteração de sabor sob o ponto de vista do paraense, mas foi boa a aceitação no teste de degustação produzido para o paladar norte-americano. Os jogadores de um time de beisebol dos EUA o tomam como energético, já que não possui substâncias químicas proibidas para atletas", afirma Ben-Hur.
Os compradores de Belém também não se interessaram muito em difundir o mix de açaí com guaraná, segundo Ben-Hur. "Constatamos que os varejistas preferem trabalhar com a polpa pura, mesmo que às vezes tenha baixa qualidade, por lhes dar uma margem de lucro bem maior", diz Ben-Hur, que continua: "Na apresentação do produto a aceitação foi excelente, tanto por parte dos varejistas como pelos consumidores, porém nestes contatos iniciais não encontramos resposta que permitisse um investimento mais sério no mercado interno", diz ele, contando que, com a crescente demanda pelo produto nos Estados Unidos, preferiram adiar uma entrada mais agressiva no mercado nacional.

OESP, 14/01/2004, Agrícola, p. G3

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