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Ministérios iniciam guerra de números

O Globo, O País, p. 3
26 de Jan de 2008

Ministérios iniciam guerra de números
Marina e Stephanes, que divergiram publicamente, agora tentam provar que estão certos

Eliane Oliveira e Evandro Éboli

Após divergirem publicamente sobre as causas da expansão do desmatamento na Amazônia, os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Agricultura, Reinhold Stephanes, apresentaram ontem números conflitantes para tentar confirmar suas versões. Segundo o Meio Ambiente, entre 2003 a 2006 houve um aumento da área plantada na Amazônia de 4,8 milhões de hectares para 6,5 milhões de hectares. Já a Agricultura manteve a informação de que houve queda no plantio nesses três anos.

Assessores do Ministério da Agricultura disseram que, de 2003 a 2006, houve uma queda de 27,1% na área plantada na Região Norte: de 521,9 mil para 410,6 mil hectares. Em todo o país, a área plantada teria caído de 23,301 milhões para 20,6 milhões de hectares. Os assessores até reconheceram um pequeno acréscimo na área plantada na Amazônia, de 410,6 mil hectares em 2006 para 434,4 mil hectares em 2007, mas atribuíram a alta ao plantio de soja na área de cerrado do Tocantins. E destacaram que a soja não foi nem cultivada no Amazonas nas duas últimas safras.

Os números do Meio Ambiente foram divulgados pelo secretário-executivo da pasta, José Paulo Capobianco.

Ele interrompeu a assessora de imprensa do ministério, no momento em que era encerrada uma entrevista conjunta dos ministros Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) e Marina Silva (Meio Ambiente), para divulgar os dados sobre a expansão de soja e do abate bovino na Amazônia.

Agricultura diz que soja perdeu espaço para milho
Marina Silva afirmou que a soja tem sido altamente influenciada pelos elevados preços internacionais. No entanto, os técnicos da Agricultura lembraram que o produto perdeu algum espaço para o milho na agricultura brasileira, dado o grande interesse, principalmente no mercado interno, pelo álcool combustível.

No Ministério da Agricultura, a avaliação é que a responsabilidade pela devastação da floresta amazônica é de madeireiros e pecuaristas. Um exemplo seria o leste do Pará, desmatado pelo comércio de toras, e que deu lugar ao plantio de soja. Os técnicos alertaram que está havendo certa confusão entre bioma amazônico e a Amazônia Legal, que inclui o norte de Mato Grosso, um dos maiores estados produtores de soja.

Essa mesma argumentação tem sido usada para a cana-de-açúcar, cuja área plantada aumentou 13% no país, segundo dados da Conab. Segundo os técnicos, a expansão vem se concentrando no Centro-Oeste, e não em áreas da floresta amazônica.

Nessa polêmica, há pelo menos algo consensual entre os dois ministérios: a responsabilidade de pecuaristas que foram para a Amazônia e ajudaram os madeireiros a devastar parte da floresta. Para demonstrar que o abate de bovinos cresceu consideravelmente na região nos últimos anos, os técnicos do Meio Ambiente apresentaram dados do IBGE - que, junto com a Conab, vem realizando estimativas para a safra de grãos. Entre 2004 a 2005, o IBGE registrou um aumento de quase 8% de abate. Em 2004, essa atividade agropecuária respondeu por 9,5% e em 2005 saltou para 17,4%. Em 2006, esse número atingiu 19,7%.

O impasse dentro do governo acaba afetando ainda mais a imagem do Brasil no exterior, já abalada pela divulgação, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), quarta-feira, de dados que denunciam a derrubada de 3.235 quilômetros quadrados de floresta no período de agosto a dezembro do ano passado. Foi um recorde desde o início do monitoramento em tempo real, há quatro anos.

A avaliação de fontes da área diplomática, nos bastidores, é que tudo isso poderá atrapalhar uma estratégia que vem sendo costurada desde o ano passado, para que o Brasil deixe de ser visto como vilão do desmatamento na floresta amazônica junto à comunidade internacional. A determinação do presidente Lula era para que o país passasse a ter uma posição mais agressiva e menos defensiva e se tornasse um ator importante nos debates sobre o aquecimento global.

Com o sinal amarelo dentro do governo, nos próximos dias está prevista forte movimentação de autoridades do governo federal. O ministro da Agricultura designou uma equipe de técnicos que terão a tarefa de verificar se existem mesmo cidades do bioma amazônico em que está havendo substituição da floresta pela soja.

O Globo, 26/01/2008, O País, p. 3

Agência Brasil muda versão sobre notícia

A Agência Brasil, empresa de notícias vinculada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, se corrigiu ontem à tarde, horas após divulgar na internet a informação de que o presidente interino do Ibama, Bazileu Margarido, reconhece que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pode ser um fator de pressão sobre o desmatamento da Amazônia. A nota da agência ficou no ar durante mais de dez horas, até ser alterada às 17hh17m. Na nova versão, Margarido diz apenas que o governo trabalha para evitar que as obras do PAC ampliem a devastação.

O texto original tinha como título: "Presidente do Ibama reconhece pressão de obras do PAC sobre desmatamento".

A primeira frase informava que Margarido "reconheceu que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) podem ser consideradas fatores de pressão sobre o desmatamento na Amazônia".

O título foi alterado para "Governo busca evitar que PAC eleve desmatamento, diz presidente do Ibama". A primeira frase também veio com nova redação, informando que Margarido "disse que o governo trabalha para evitar que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) intensifiquem o desmatamento na Amazônia".

Às 17h30m, foi divulgada nota intitulada "Agência Brasil errou", formato padrão de correção adotado pela empresa.

A nota corrigia novamente a informação. O presidente interino do Ibama foi procurado pelo GLOBO, mas não quis dar entrevista.

O Globo, 26/01/2008, O País, p. 3

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