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Micos-leões sob ataque

O Globo, Rio, p. 18
14 de Set de 2004

Micos-leões sob ataque

Paulo Roberto Araújo

Um predador natural, ainda não identificado, está pondo em risco os micos-leões-dourados da Reserva Biológica de Poço das Antas, em Silva Jardim. Mais de cem micos-leões selvagens foram mortos e comidos, nos últimos nove anos, nos ocos (buracos) das árvores onde vivem em grupos de até quatro animais. De 1995 a 2000, os predadores reduziram de 350 para 250 a população de micos-leões selvagens nos 3.200 hectares da reserva. No fim do ano 2000 e em 2001 não foram registrados ataques, mas eles voltaram a ocorrer no fim de 2003 e nos primeiros meses deste ano, quando dez animais foram mortos e tiveram os corpos estraçalhados.
Há dois meses, a engenheira florestal Sinara Lopes Vilela veio de Brasília e, com ajuda de equipes do Ibama, está tentando desvendar o mistério num trabalho de pós-doutorado. Ela instalou 18 câmeras equipadas com sensores que fazem o equipamento disparar se houver qualquer movimento na frente dos abrigos dos micos. As primeiras fotografias, reveladas na semana passada, identificaram os primeiros suspeitos de estarem dizimando os micos-leões: macacos-pregos, iraras (animal agressivo parecido com uma pequena lontra), gambás e esquilos. Equipes de campo já avistaram jaguatiricas rondando os ocos.
- Ainda é muito cedo para afirmar qual é o predador. É possível que os macacos-pregos estejam matando os micos por briga de território e que outros animais, como os esquilos e gambás, estejam comendo as vítimas. Ainda não temos muitas informações sobre os hábitos carnívoros das iraras e achamos pouco provável que os esquilos e gambás sejam os predadores - explicou a pesquisadora, que é doutora em ecologia.
Na Reserva de Poço das Antas vivem 300 micos-leões nativos. Outros 130 estão na Reserva União e 770, reproduzidos em zoológicos de várias partes do mundo, habitam as florestas de fazendas particulares vizinhas às duas reservas. Se o predador não for descoberto e o nível de predação for mantido, a população de micos-leões de Poço das Antas pode desaparecer em 15 anos:
- A variabilidade genética é muito importante para a preservação da espécie. Se os genes forem perdidos, isso pode acarretar um grande impacto para a população dos primatas -- alerta a pesquisadora, que espera conseguir mais financiamentos para instalar câmeras nas fazendas particulares e na Reserva União, próxima a Poço das Antas.
O chefe da Reserva de Poço das Antas, Rodrigo Varela, disse que o problema está pondo em risco um dos mais importantes projetos do mundo na área de preservação de animais sob risco de extinção. Ele tem certeza de que micos-leões estão sendo atacados por animais, mas acredita que caçadores, que não param de agir em Poço das Antas atrás de capivaras, pacas, cotias e lagartos, sejam os responsáveis pela quebra da cadeia alimentar da fauna da reserva:
- É possível que os predadores estejam fazendo isso agora devido à falta dos animais abatidos pelos caçadores. Só a pesquisa vai esclarecer.
Os exames de necropsia dos micos-leões, feitos no Centro de Primatologia da Feema, em Magé, não identificaram o predador. Segundo o veterinário Alcides Pissinatti, diretor do centro, os exames identificaram dentadas na cabeça dos micos-leões, mas não foi possível identificar o animal predador porque o crânio do mico-leão não tem muita resistência.
Pissinatti disse que o problema é preocupante e só será resolvido depois que o predador for identificado. Ele acha possível que os ataques partam de macacos-pregos, iraras ou gatos do mato e aponta o desmatamento e a pobreza da floresta como uma das causas da predação natural:
- A área de Poço das Antas precisa ser rapidamente reflorestada com árvores de crescimento rápido para que os micos-leões possam fazer seus abrigos em ocos mais altos. Atualmente, ficam a dois metros do chão e tornam-se presas fáceis para os predadores.

O Globo, 14/09/2004, Rio, p 18

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