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Menos perplexidade, mais ação!

CB, Opinião, p. 19
Autor: MAYON, Paulo
17 de Nov de 2006

Menos perplexidade, mais ação!

Paulo Mayon
Diretor presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia

Em setembro, o consumo nacional de energia elétrica atingiu 47.011 megawatts (MW)médios, o que representou aumento de 3,54% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados preliminares do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O resultado supera o observado no segundo trimestre, quando a expansão do consumo registrou alta de cerca de 2% sobre igual período de 2005. Os dados do ONS mostram também que o Norte do país continua liderando a expansão do consumo. Em setembro, o aumento nessa região foi de 7,67% em relação ao mesmo mês de 2005, seguida pelo Sul, com crescimento de 4,13%, Nordeste, com 3,31%, e Sudeste, com 2,97%.

No acumulado do ano (janeiro a setembro), o consumo nacional subiu 3,72% em relação aos primeiros nove meses de 2005, com a Região Norte registrando expansão de 8,65%; o Sudeste, de 3,39%; o Norte, de 3,84%; e o Nordeste, de 2,73%.

As dificuldades de expansão da oferta para fazer frente à expansão do consumo nunca foram tantas, com ênfase, sobretudo, nas de licenciamento ambiental, que vêm se intensificando a cada novo leilão. No último, realizado no dia 10 de outubro, a saída de dois grandes aproveitamentos hidrelétricos limitou a oferta desse tipo de energia a menos de 20% da oferta total que teremos contratada no ambiente regulado (consumidores cativos) a partir de 2011. Isso representou uma oferta de energia,ponderando as fontes e o prazo de contratação, de quase 50% de térmicas e 50% de hidrelétricas e um preço que aponta já para R$ 130/MWh.

Quem vai pagar a conta dessa matriz que, progressivamente, vai privilegiando os hidrocarbonetos em troca dos aproveitamentos hidráulicos? Será o consumidor e, em segunda instância, toda a sociedade brasileira. O futuro da matriz energética do país é questão complexa que afeta a todos. A discussão deve permear toda a sociedade. É preciso que se compreenda que toda geração de energia traz algum impacto ambiental, social e econômico. Que o país vem crescendo a taxas inferiores ao que seria possível. Que, se acelerarmos para uma matriz mais cara e suja, corremos o risco de passar mais um longo período assistindo o resto do mundo crescendo, enquanto lamentamos os equívocos e nossa inação diante dos impasses hoje observados.

A reflexão deve ser profunda e, com uma lente mais possante, devemos corrigir o que podemos chamar de miopia nos diagnósticos atuais. É urgente que respondamos às seguintes perguntas:

1. O que é mais danoso ao meio ambiente e por conseqüência aos cidadãos brasileiros: a construção de usinas hidrelétricas ou sua substituição por usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis, cada vez mais próximas dos centros de consumo?

2. O que contribui para o aumento da competitividade do Brasil perante seus concorrentes globais: um parque gerador hidrelétrico, que depois de amortizado se torna provedor da energia mais barata do mundo, ou um parque gerador térmico, sujeito às oscilações de preço dos combustíveis fósseis, à disponibilidade dos mesmos e aos monopólios de transporte que hoje presenciamos?

3.Oque poderíamos estar já realizando na busca de maior eficiência energética no nosso dia-a-dia como consumidores, de forma a evitar novamente o corte na própria carne já vivenciado anteriormente?

O que decidirmos hoje representará nosso posicionamento futuro como nação. Não falamos aqui de governos,ministros ou de modelos setoriais, muito menos de debates ideológicos sobre qual deve ser a tônica do próximo governo. Falamos de decisões de que toda a sociedade deve participar. A cada dia que passa, o custo de decisões equivocadas aumenta exponencialmente e a perplexidade que observamos nos principais atores dessa cena em nada nos ajuda.

CB, 17/11/2006, Opinião, p. 19

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