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Mata Atlântica: de novo, MG lidera devastação

O Globo, Sociedade, p. 39
18 de Dez de 2014

Mata Atlântica: de novo, MG lidera devastação
Entre os municípios, Manoel Emídio, no Piauí, é campeão do desmatamento: 13% do total, entre 2012 e 2013

RENATO GRANDELLE
renato. grandelle@ oglobo.com. br

Manoel Emídio é uma cidade com pouco mais de 5 mil habitantes no Vale do Gurgueia, Sudoeste do Piauí. É fácil passar despercebida no mapa, mas não da SOS Mata Atlântica. O município encabeça o ranking, divulgado ontem pela ONG, daqueles com maior registro de desmatamento entre 2012 e 2013. Foram 3.134 hectares de florestas derrubadas. É, sozinho, o responsável por 13% da supressão do bioma no país.
- Não temos como conter a derrubada da vegetação - admite o secretário de Administração de Manoel Emídio, Aluisio Pereira. - O município é grande, e não há contingente de fiscalização nem apoio do governo estadual para atuar contra os agricultores que vêm do Sul do país. Eles são atraídos pela terra fértil e espalham-se por todo o vale.
Entre as cinco cidades que mais desmataram no último biênio, duas são mineiras e três, piauienses. Não é coincidência - segundo a SOS Mata Atlântica, Minas Gerais e Piauí são, respectivamente, o primeiro e o segundo estados que mais destroem o bioma.
A Mata Atlântica está presente em 3.429 municípios do país e não para de sofrer baixas. Entre 2012 e 2013, a devastação cresceu 9%, em relação ao período anterior (2011-2012).
- Mais de 140 milhões de pessoas vivem no bioma e exercem uma pressão muito grande sobre a floresta - lamenta Marcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica, que realizou o levantamento com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). - Procuramos fazer um estudo dedicado aos municípios para ajudar as prefeituras a elaborarem planos dedicados especificamente ao bioma.
De acordo com Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da ONG, conhecer a situação local da Mata Atlântica contribuirá para a melhoria do planejamento urbano. O levantamento pode auxiliar as prefeituras, por exemplo, a descobrirem regiões que podem virar áreas de conservação ambiental.
- Quando o município faz o mapeamento das áreas verdes e indica como elas serão administradas, fica muito mais fácil conduzir processos como o de licenciamento de empreendimentos - ressalta. - Além disso, trata-se de uma legislação que coloca o poder público mais próximo do cidadão, porque também estamos falando em qualidade de vida.
Uma prioridade do planejamento local deve ser criar políticas de conservação à mata ciliar. Sem ela, os rios são assoreados e a qualidade da água fornecida à população é comprometida.
Segundo Marcia, há uma relação direta entre o aumento do desmatamento algumas cidades piauienses e a produção agrícola.
- Monitoramos o Piauí desde 2011, e já foi suficiente para vê-lo no ranking dos maiores desmatadores - conta. - Este é um alerta para o poder público, inclusive as prefeituras, que devem intensificar a fiscalização na região.
SIDERURGIA CONTRA FLORESTA
Minas Gerais é, pela quinta vez consecutiva, o estado que registrou o maior índice de desmatamento. Manteve a liderança mesmo com a queda de devastação da floresta, graças à ação impune de agricultores no Vale do Jequitinhonha.
- O desflorestamento diminuiu 22%, comparado ao estudo anterior - assinala Marcia. - Mas em diversos municípios a mata ainda é destruída e o carvão abastece a siderurgia, e a vegetação original dá lugar à floresta de eucaliptos.
O Rio, por sua vez, é considerado um exemplo nacional de conservação da mata. De acordo com o levantamento, a devastação de grandes áreas verdes do estado está praticamente zerada - foram de 40 hectares para 11 nas últimas duas edições do estudo. Angra dos Reis, por exemplo, mantém 80% de sua vegetação original, seguida por Mangaratiba ( 79%) e Parati (74%). Os corredores verdes que ligam unidades de conservação no estado são elogiados pelos pesquisadores.
Silva Jardim, no interior fluminense, é o município que mais protege a Mata Atlântica. A cidade conta com 20 reservas particulares, que, juntas, abrigam 1,3 mil hectares de floresta. Em Magé, na Região Metropolitana, um horto é dedicado à coleta de sementes e a produção de mudas de espécies típicas do bioma.
- Somos exigentes com a emissão de licenças para empreendimentos, que devem ser acompanhados por compensações ambientais, como o reflorestamento de diversas áreas do estado - explica Guido Gelli, diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Estadual de Ambiente. - Fazemos a desapropriação de terras para unidades de conservação e investimos na formação de fiscais das florestas, os guarda-parques.
No entanto, a ONG ressalta que o entorno dos maiores centros urbanos do bioma podem registrar o "efeito formiga", como é chamada a destruição de áreas com menos de 3 hectares - índice mínimo constatado pela tecnologia de geoprocessamento do satélite Landsat 8.
A Mata Atlântica é o único bioma brasileiro cuja exploração é regulamentada por uma lei. O texto ressalta que o corte seletivo da floresta pode ser realizado para fins de atividade pública, como abertura de estradas. Estas medidas, porém, devem ser sucedidas por ajustes de conduta e compensação ambiental.
- Não temos a ilusão de que vamos pôr um fim completo à queda da floresta - descarta a diretora da SOS Mata Atlântica. - Mas precisamos atacar as atividades ilegais, já que apenas 8% da cobertura original do bioma ainda está de pé, e a pressão urbana não pode ocorrer às custas destes remanescentes.
O estudo também apresenta um consolidado dos municípios com maior índice de desmatamento dos últimos 13 anos. O título vai para Jequitinhonha, no Norte de Minas Gerais, onde foram devastados 8.686 hectares de floresta desde 2000, seguido pela também mineira Águas Vermelhas (6.231 hectares) e pela catarinense Itaiópolis (5.639 hectares).

O Globo, 18/12/2014, Sociedade, p. 39

http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/minas-lider-nacional-de-desma…

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