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Marina reage e diz que Meio Ambiente não se submeterá a interesse econômico

OESP, Nacional, p. A4
21 de Abr de 2007

Marina reage e diz que Meio Ambiente não se submeterá a interesse econômico
Ministra defende trabalho "com toda isenção" na análise do impacto ambiental das obras pretendidas por Lula

Lu Aiko Otta e Sergio Gobetti

Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se queixar ao Conselho Político sobre a demora na concessão de licenças ambientais para a construção de duas usinas hidrelétricas no Rio Madeira "por causa dos bagres", a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reafirmou que a análise dos impactos ambientais não vai se subordinar a interesses econômicos. "As duas coisas têm de ser viabilizadas ao mesmo tempo", disse, em entrevista coletiva.

Ela não quis se comprometer com prazos no caso do Madeira. "No momento certo, teremos solução para o problema", disse. "O que importa é fazer um trabalho com toda isenção para que se possa viabilizar corretamente o duplo interesse do País, que é viabilizar empreendimentos, mas também viabilizar a proteção ambiental." A ministra afirmou que Lula jamais a orientou a colocar o interesse econômico acima do ambiental.

Marina anunciou que o secretário-executivo do ministério, Cláudio Langone, será substituído pelo atual secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco, mas negou que a mudança tenha relação com as queixas do presidente. "Se houvesse qualquer possibilidade de fazer essa associação entre negação de licença e demissão de pessoas, a pessoa que teria que ser demitida seria eu", sustentou.

Ela, porém, disse que se sente respaldada pelo presidente. "Ninguém pára o asfaltamento de uma estrada, contrariando a pressão de 18 prefeitos, dois governadores e uma massa de opinião pública, sem respaldo do presidente", comentou, referindo-se à construção da BR-163. Ela citou outros casos em que o governo atrasou projetos de interesse econômico para uma melhor análise ambiental.

Langone foi cotado para ocupar o lugar de Marina, na formação da equipe do segundo mandato de Lula. Ela, porém, rejeitou especulações de que teria sido essa a causa da demissão dele, ao revelar que o convidou a ocupar uma nova área no ministério, ligada ao ambiente urbano - Langone não aceitou.

A ministra também confirmou que o presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcos Barros, deixará o cargo. O nome do sucessor não está definido.

Segundo fontes do Planalto, há 20 nomes de técnicos e políticos na lista de candidatos ao Ibama. Conhecedora das necessidades do setor elétrico, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tentaria emplacar no órgão um nome que reunisse, ao mesmo tempo, qualidades técnicas e disposição de acelerar o licenciamento de usinas.

Assessores do governo, entretanto, admitem que existe um toque de "contradição" entre essa troca e o aval dado por Lula para que Marina mude sua equipe. Langone é visto no Planalto como uma pessoa com perfil de mais diálogo e flexibilidade do que Capobianco, que é ligado a ONGs ambientais. A pergunta entre assessores palacianos é por que a mudança nessa direção justamente quando Lula pede mais agilidade. Uma hipótese é que o presidente tenha negociado com Marina que, em troca de liberdade para compor a nova equipe do ministério, ela deixaria a indicação do Ibama nas mãos do Planalto.

Bloquinho critica gestão do PAC

Moacir Assunção

O chamado bloquinho - grupo de partidos na Câmara que reúne PSB, PC do B, PDT, PMN e PAN - dá cada vez mais sinais de que pretende ganhar vida independente do governo, embora integre a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O bloquinho, ou Bloco da Esquerda, reúne 75 deputados e tem se mostrado resistente às principais propostas do governo, embora o PSB controle dois ministérios e o PC do B e o PDT, um cada. Na Câmara, o grupo tem falado em lançar candidato próprio à Presidência.

Os deputados Ciro Gomes (PSB-CE), Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) defenderam, ontem, em São Paulo, o apoio ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal projeto do segundo mandato de Lula na Câmara, mas colocaram dúvidas sobre a gestão e implementação da proposta.

"O PAC tem um grupo central de gestão integrado pelos ministros Dilma Rousseff, da Casa Civil, Paulo Bernardo, do Planejamento, e Guido Mantega, da Fazenda. Mas, abaixo disso, não há gestão para um projeto que pretende tocar mil ações em quatro anos", criticou Ciro. O socialista ainda atacou a Petrobrás, que acusou de "fraudar" o programa, ao não aprovar a construção de refinarias no Ceará, sua área de atuação, e em Pernambuco. Criticou também o Banco Central (BC), ao diminuir em apenas 0,25% os juros em duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). "Isso não sinaliza para crescimento", disse. A Petrobrás não quis responder às críticas do ex-ministro da Integração Nacional. De acordo com o BC, a decisão se justifica pelas avaliações do cenário e perspectivas para a inflação.

Aldo, por sua vez, também bateu na tecla da gestão. "É um grande desafio gerenciar um programa desta magnitude. Em outra ponta, os juros estão no caminho da redução, mesmo que lento, embora somente juro baixo não seja sinônimo de crescimento", disse.

De acordo com ambos, no entanto, não há rejeição ao PAC na Câmara.

OESP, 21/04/2007, Nacional, p. A4

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