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Marajó perde território

CB, Brasil, p. 7
22 de Jan de 2007

Marajó perde território
Pesquisadores detectam fenômeno natural que está provocando a redução na área da maior ilha fluvial do mundo, na foz do Amazonas. Motivo é o aumento no volume de sedimentos jogados do rio para o mar

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

Uma pesquisa norte-americana atestou que Marajó, maior ilha fluvial do mundo, está perdendo parte do território por conta de um fenômeno natural que está alargando a foz do Rio Amazonas. Para comprovar a tese dos Estados Unidos, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) vai começar a monitorar o comportamento da desembocadura do maior rio do mundo em volume d'água. O monitoramento será feito com ajuda de um satélite canadense e com radares. Até o momento, os pesquisadores já sabem que a taxa de alargamento da foz é de 10 milímetros por ano.

A área em questão tem grandes dimensões. Em extensão, a boca do Amazonas mede 330km, desde o cabo Norte, no Amapá, até a ponta da Tijoca, no Pará. No meio está a ilha de Marajó, com 40 mil quilômetros quadrados. "O nível do mar nunca esteve tão alto nessa região", atesta o geólogo Pedro Walfir Filho, coordenador do Laboratório de Análises de Imagens do Trópico Úmido da UFPA.

O rio em questão joga no Atlântico todos os anos 6,3 trilhões de metros cúbicos de água, correspondente a 16% de toda a descarga mundial, e 1,2 bilhão de toneladas de sedimentos. Segundo o pesquisador, o que deve estar ocorrendo na foz do Amazonas é que a saída desse corpo d`água, já na plataforma continental, está ficando cada vez mais entulhada com a quantidade gigantesca de detritos.

Só quem viu a desembocadura do Amazonas tem noção de quão grande ela é. A força do rio arrasta troncos imensos e até navios que se atrevem a navegar na parte mais violenta da foz. O encontro das águas doces e barrentas do rio com o Atlântico provoca uma série de pororocas que podem ser ouvidas a 10km de distância. O fenômeno é tão poderoso que interfere até na gravidade da Terra, segundo pesquisadores que operam dois satélites gêmeos.

De acordo com estudos preliminares, o alargamento da foz do Amazonas ocorre porque a cada ano cresce o volume de sedimentos trazidos dos Andes pelo Amazonas que se acumulam na foz. O ideal seria que esses sedimentos seguissem pelo oceano, mas os detritos são barrados por uma coluna d'água maior imposta naturalmente pelo Atlântico. Isso faz com que uma quantidade bem pequena de sedimento chegue ao mar aberto. Esse peso extra que se acumula na foz, além de alargar a desembocadura, roubando terra firme de Marajó, pode estar rebaixando a crosta terrestre na região.

O acúmulo de sedimentos na foz do Amazonas também traz problemas para a economia da região. Com a profundidade cada vez menor do rio, navios de cargas que precisam de muito calado para navegar acabam sem poder entrar pelo rio para ancorar em portos importantes, como os de Belém (PA) e Manaus (AM). Com essa dificuldade, as embarcações maiores são obrigadas a ancorar no meio do oceano e descarregar a carga em navios menores.

Além do acúmulo de sedimentos, a foz Amazonas enfrenta outro problema natural. O fim do rio está numa zona de tectonismo (movimento natural da Terra que gera os terremotos). Esse fenômeno pode fazer com que aquela parte do Brasil vá entrando por baixo do Atlântico. "Há registros de sismos nesses locais. Em 1970, houve um terremoto que ficou famoso em Belém pela magnitude", diz Walfir Filho.

A pesquisa brasileira sobre a foz do Amazonas vai estudar também o caminho que os sedimentos do Amazonas percorrem depois que são despejados no Atlântico. Já há registros mostrando que existe sedimento do rio a mais de 200km da costa. Esse material também é distribuído em todas as direções e fornece a base para os manguezais do Pará, do Amapá e do Maranhão. Um outro estudo revelou que há detritos do rio que se acumulam até na costa das Guianas e de Suriname.

O número
Tamanho 330Km é a extensão da foz do Amazonas

Nilo agora é o segundo em extensão

A disputa entre o Amazonas e o Nilo pelo posto de maior rio do mundo chegou ao fim. O Projeto Panamazônia, desenvolvido por cinco pesquisadores da Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), concluiu que o rio brasileiro é o maior do mundo em volume d'água e em extensão. Com este resultado, o Nilo, que sempre foi apontado nos livros de Geografia como o maior do mundo, passa agora para o segundo lugar no ranking mundial.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores usaram imagens de satélites da Nasa, a agência espacial norte-americana, e desenvolveram uma metodologia universal de medição do comprimento do leito de rios. "Medimos o Nilo e o Amazonas. Ainda há análises finais a serem feitas. Mas já podemos afirmar que o rio brasileiro é cerca de 50km maior do que o rio egípcio", garantiu o coordenador do estudo, o geólogo Paulo Martini. "Não queremos causar polêmica com ninguém, apenas ajudar a descobrir novas verdades do mundo."

Nos livros didáticos de geografia, crianças e jovens de vários países aprendem que o Rio Nilo, na África, é o mais comprido da terra, com 6.670 quilômetros de extensão. Pela medição do Inpe, ele teria aproximadamente 6.610 quilômetros. "Ainda precisamos finalizar essa análise, porque há controvérsias sobre em qual ponto do lago Vitória, na Uganda, o Nilo nasce. Dizer apenas que é no lago não basta, porque o Vitória tem 300 quilômetros", explicou Martini.

A metodologia desenvolvida pelos pesquisadores considera que o leito do rio começa no seu tributário mais distante, não no mais volumoso. Assim, o Amazonas nasceria no Rio Ucayalli, que por sua vez vem da fonte Apurimac, e não no Rio Marañon, como ficou estabelecido pela literatura especializada. "Os dois pontos ficam na Cordilheira dos Andes, no Peru. Mas a fonte Apurimac é mais próxima ao Oceano Pacífico", detalhou Martini. O pesquisador defendeu que, para evitar confusões, a fonte Apurimac, os rios Ucayalli e Solimões deveriam ser chamados de Amazonas - atualmente o nome só é adotado depois que o Solimões recebe as águas do rio Negro, a partir de Manaus.

A medição dos rios Nilos e Amazonas vem sendo realizada há seis meses, com recursos do próprio Inpe e do Banco da Amazônia. "Esse levantamento tradicionalmente era feito com cartas topográficas, construídas a partir de imagens tiradas de aviões e de levantamentos de campo", esclareceu o pesquisador Valdete Duarte, participante do projeto. "Muitas vezes essas cartas são antigas e o que aparece nelas já não é o que se encontra na natureza. Além disso, como são informações colhidas de várias fontes, fica difícil comparar rios distantes. A plataforma da Nasa ajudou a resolver esse problema."

CB, 22/01/2007, Brasil, p. 7

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