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Mais uma morte violenta na reserva de Dourados

Correio do Estado
Autor: Antonio Viegas
15 de Set de 2007

Mortes violentas, residências incendiadas criminosamente e suicídios. Conviver com tudo isso já está fazendo parte da rotina da comunidade indígena de Dourados. Na madrugada de ontem, mais atos de violência foram registrados, sendo um bárbaro assassinato no qual a vítima foi degolada com golpe de facão e ainda cinco casas foram incendiadas. Dados da Funasa revelam que só neste ano foram 11 homicídios.

Moradores da aldeia garantem que já cansaram de implorar por ações que permitam a eles o direito de ter segurança dentro da reserva, mas não chegam as providências. Muitas famílias acreditam que somente com uma intervenção da Polícia Federal essa onda de crimes, que podem estar diretamente ligados ao tráfico e uso de drogas, poderia ser amenizada.

Eles lembraram ainda, com críticas, a vinda de uma comissão de deputados da Câmara Federal, inicialmente com a proposta de levantar a questão da falta de segurança. No entanto o foco da visita se voltou para desnutrição, que não estaria ligada à falta de alimentação, mas sim de uma política social para evitar o alcoolismo e as drogas, que seriam os grandes responsáveis pelos problemas que geram essa situação.

Selvageria

A exemplo de vários outros crimes ocorridos com o mesmo requinte de crueldade e selvageria, na madrugada de ontem foi registrada a morte de Reinaldo Reginaldo, 23 anos de idade, que recebeu diversos golpes de facão de seu agressor. A vítima apresentava um profundo corte na cabeça, além de outro no pescoço, que por pouco não separou do corpo.

Reinaldo foi encontrado sem roupas em uma área de terra pronta para plantio, na Aldeia Jaguapiru. Vestígios no local demonstraram que ele foi arrastado por pelo menos cem metros antes de ser abandonado. O reconhecimento do corpo foi feito por uma amiga, através de uma tatuagem, e a mãe do rapaz, Sirlei da Silva, confirmou que se tratava do filho. Um fato preocupante para muitas famílias que residem na reserva indígena são as crianças que quase que diariamente estão convivendo com esses atos de crueldade. No caso de ontem, diversos alunos viram o corpo da vítima quando seguiam para a Escola Tengatui Marangatu. De acordo com os professores, muitas crianças ficaram impressionadas com a cena e nem sequer conseguiram assistir as aulas.

Fogo

Outro tipo de crime que também está assustando os moradores são os incêndios. Na madrugada de ontem mais cinco casas foram destruídas pelo fogo na Aldeia Bororo. Élcio Quevedo, conhecido como Clemente, 18 anos de idade, foi preso e confessou que colocou fogo em cinco casas de uma mesma família. Ele alegou que fez isso porque havia muita bagunça no local durante a noite. A ocorrência foi registrada pelas vítimas Felícia Romero, 60 anos, e Valdir Gervásio, 24 anos, que declararam não ter conhecimento dos motivos que levaram Élcio a atear fogo nas casas. Os moradores perderam praticamente todos os pertences, principalmente roupas. Felícia disse que só houve tempo de retirar as crianças e outros adultos que estavam dormindo e resgatar alguns documentos.

Embora o acusado não tenha alegado vingança, existem informações de um irmão de Élcio que foi preso no último domingo por ter ateado fogo na casa de Marta Fernandes, em companhia de Samuel Martins Vargas. Felícia Romero e Valdir Gervásio, as vítimas de ontem, teriam sido as testemunhas que contribuíram para a identificação da dupla.

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