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Madeireiros prendem agentes da PF e do Ibama: manifestantes dizem que fiscalizacao causa desemprego; grupo foi resgatado de helicoptero

OESP, Geral, p.A12
21 de Nov de 2003

Madeireiros prendem agentes da PF e do Ibama Manifestantes dizem que fiscalização causa desemprego; grupo foi resgatado de helicóptero
CARLOS MENDES
BELÉM - Os madeireiros do sudoeste do Pará estão em pé de guerra contra a fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ambientalistas do Greenpeace, a quem acusam de terem firmado uma "parceria para destruir o setor florestal e desempregar 50 mil pessoas".
Uma manifestação de protesto que contou com mais de 400 pessoas sitiou fiscais do Ibama, ativistas do Greenpeace, militares e agentes da Polícia Federal dentro de um hotel, anteontem, em Medicilândia, obrigando-os a permanecer várias horas no local. Um helicóptero foi usado para resgatar os reféns.
Ontem, em Altamira, o protesto se repetiu, com 800 manifestantes na porta do Incra. Os fiscais e agentes do governo foram impedidos de pousar de helicóptero no pátio do Ibama. Após negociações, a Polícia Militar cedeu o pátio de seu quartel para que o helicóptero pudesse descer. As principais avenidas da cidade foram bloqueadas por caminhões.
Ilegalidade - Os madeireiros afirmam que o Greenpeace está realizando fiscalizações e apreendendo equipamentos de forma arbitrária e o Ibama apóia a ação. Os manifestantes também fecharam o Incra e o Ibama de Altamira, impedindo a entrada dos funcionários. Eles querem chamar a atenção das autoridades para que impeçam a ação "ilegal" do Greenpeace e pedem ao Incra a liberação de terras para a realização de projetos de manejo.
Os agentes do Ibama estão na área para fiscalizar a exploração ilegal de madeira no entorno e no interior de uma área reivindicada por ribeirinhos de Porto de Moz para a criação da reserva extrativista Verde para Sempre, que vai beneficiar milhares de comunidades da região. Eles têm o apoio do Greenpeace, que está na região com o barco Artic Sunrise. Segundo o Greenpeace, o protesto de Medicilândia foi instigado pelo prefeito Nilson Samuelson, que também é madeireiro.
O presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras de Altamira, Roderval Souza, disse que o Greenpeace está bancando os custos da operação: "A equipe do Greenpeace tem 13 pessoas, enquanto o Ibama só mandou dois funcionários."
Segundo ele, os integrantes da organização estrangeira bloquearam todos os telefones de Medicilândia, durante o protesto, para que ninguém conseguisse contato com as autoridades de Brasília. "Eles têm aparelhos que bloqueiam as linhas e fizeram isso porque sabem que não estão agindo corretamente."
Parceria - O coordenador de campanha do Greenpeace na Amazônia, Paulo Adário, nega que esteja coordenando ações do Ibama. Ele disse que a entidade acompanha as operações e qualquer outro grupo, incluindo o dos madeireiros, deveria fazer o mesmo.
Adário afirmou que as manifestações e ameaças à integridade dos agentes que estão apreendendo madeira ilegal e constatando a grilagem de terras públicas "comprovam que o Pará é realmente um Estado que parece estar à margem da lei". A reação dos madeireiros, segundo ele, mostra que a operação do Ibama está sendo eficiente.
Para o Greenpeace, a ilegalidade relacionada à ocupação de terras e à exploração dos recursos naturais no Pará exige não só o esforço do Ibama, mas a presença permanente do poder do Estado na região. Adário acredita que só a parceria entre os povos da floresta e os órgãos públicos na proteção do patrimônio amazônico, por meio da criação de reservas extrativistas, poderá evitar que a Amazônia se transforme num deserto. (Colaborou Liana John)

OESP, 21/11/2003, A12

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