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Linhão de Tucuruí está pronto, mas não pode operar

Valor Econômico, Empresas, p. B2
22 de Jan de 2014

Linhão de Tucuruí está pronto, mas não pode operar

Por André Borges
De Brasília

O setor elétrico teria boas razões para celebrar o dia de hoje. O Ibama acabou de autorizar a operação do último trecho da linha de transmissão de Tucuruí. A malha final de 334 km de extensão, que finalmente ligará o Amapá ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia, permitirá que o Estado da região Norte finalmente se conecte à geração feita em qualquer canto do país, eliminando sua dependência de usinas térmicas movidas a óleo diesel.
A licença de operação, apurou o Valor, foi assinada ontem pelo presidente do Ibama, Volney Zanardi. A celebração, no entanto, acabou frustrada, simplesmente porque, no fim da linha de transmissão, não há infraestrutura pronta para realizar o escoamento da energia até as casas.
A subestação de energia, bem como os 39 km de cabos necessários para se conectar ao linhão de Tucuruí, ficaram a cargo da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA). Essas estruturas são necessárias para fazer a conversão de tensão e a distribuição da energia que chega pela malha principal. Ocorre que, conforme apurou o Valor, essas obras locais mal começaram e, na melhor das hipóteses, só devem estar disponíveis a partir do segundo semestre. Isso significa que, pelo menos por mais um semestre, o Amapá ainda vai depender da queima de óleo.
O atraso foi confirmada pelo diretor de planejamento e expansão da CEA, Aldo Carneiro. "Realmente tivemos alguns problemas e isso levou a atrasos, mas acredito que é possível colocar a estrutura para funcionar até maio."
Carneiro afirma os projetos de engenharia tiveram que passar por mudanças, por conta de intervenções em uma estrada federal administrada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A instalação de torres e demais estruturas também teve de ser modificada, para não atrapalhar o espaço aéreo do aeroporto da cidade, administrado pela Infraero. "Além disso, houve um empréstimo feito pelo governo estadual com a Caixa Econômica, que atrasou também", diz o diretor da CEA.
As obras estão avaliadas em R$ 42 milhões. Até agora, as obras no local da construção da subestação de energia se resumem à etapa de terraplenagem. A ligação dos 39 km da rede que se conectará ao linhão sequer começou. Menos otimista, o diretor operacional da CEA, Jucicleber Castro, acredita que as estruturas só fiquem prontas em meados de julho. "Vamos demorar um pouquinho com isso, mas estamos trabalhando para conclui-las."
O capítulo do Amapá faz com que o linhão de Tucuruí repita a história do ano passado. Em julho de 2013, a linha de transmissão que escoa energia a partir da hidrelétrica de Tucuruí, instalada no rio Tocantins, chegou finalmente a Manaus, para interligar a capital do Amazonas ao SIN e, com isso, reduzir substancialmente os desembolsos pesados que todo o país tem de fazer para bancar os custos das térmicas.
Atrasos nas obras locais da Amazonas Energia, no entanto - distribuidora que pertence à Eletrobras - impediram que a linha de transmissão entrasse em operação. A Companhia de Eletricidade do Amapá também pertence ao grupo estatal. Com dívidas que chegavam a cerca de R$ 1,6 bilhão, a CEA foi adquirida no ano passado pela Eletrobras.
Com quase 2 mil quilômetros de extensão, o linhão de Tucuruí consumiu cerca de R$ 3,5 bilhões. Por ser um empreendimento que atravessa a região amazônica, sua construção exigiu um trabalho pesado de engenharia civil e ambiental, dada a complexidade dos locais cortados pela linha de transmissão e suas torres. Seu alcance até os Estados da região Norte concretiza uma ambição antiga do setor elétrico, uma vez que viabiliza a distribuição de energia para todo o país, independentemente se está foi gerada pelas turbinas da hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, ou pela fissão nuclear de Angra, no Rio.
Com a ligação até o Amapá, o único Estado do país que ainda permanece fora do SIN é Roraima, previsto para ser conectado ainda neste ano.
Em 2012, o gasto com o combustível para geração de energia nos "sistemas isolados" do país custou R$ 4,7 bilhões aos consumidores. A região Norte ainda continua a consumir mais de R$ 2 bilhões por ano por conta da falta de conexão com o SIN. O custo da geração térmica é pago pela Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), encargo da conta de luz que, um ano atrás, foi incorporado pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

Valor Econômico, 22/01/2014, Empresas, p. B2

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