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Líderes indígenas contestam Bolsonaro: 'Não estamos sendo usados por ninguém'

O Globo - https://oglobo.globo.com/sociedade
24 de Set de 2019

Líderes indígenas contestam Bolsonaro: 'Não estamos sendo usados por ninguém'
Representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil dizem que presidente ignora a realidade deles e que discurso na ONU foi para agradar a setores econômicos

Gabriel Morais
24/09/2019 - 18:48 / Atualizado em 24/09/2019 - 19:46

RIO - Dois coordenadores da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara e Dinamam Tuxá, disseram que o presidente Jair Bolsonaro mentiu em afirmações sobre os povos indígenas durante seu discurso na abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira.

Sonia e Dinamam - que estão em Nova York, onde participaram da Cúpula do Clima da ONU, na segunda-feira (23)-, afirmaram que, ao dizer que o líder indígena Raoni Metuktire é utilizado como "peça de manobra" por governos internacionais, o presidente "reforça uma prática da ditadura que desconhece a nossa capacidade".

- Nós temos autonomia para escolhermos nossos próprios representantes, ao contrário do que ele tentou pregar hoje, deslegitimando a liderança do cacique Roani e trazendo sua própria reprentante - disse Sonia. - Nós não estamos sendo usados por ninguém, estamos atendendo o clamor da mãe Terra.

Sobre a indígena Ysani Kalapalo, que Bolsonaro levou à ONU e teve o convite criticado por caciques de 14 povos indígenas do território Xingu, Sonia afirmou que, ao fazer isso, o presidente "reforça esse espírito da ditadura, de colonização e de tutela, quando ele quer dizer quem representa os povos indígenas".

- Quando ele traz uma indígena e coloca um colar para apresentar uma imagem ao mundo de que está apoiando os povos indígenas, revela o tamanho do seu cinismo com a realidade que estamos vivendo hoje - disse Sonia. - Ela pode ter sido apresentada por ele para ser representante do seu governo, mas não dos povos indígenas, porque nós temos nossa forma e legitimidade para escolher nossos representantes.

Ainda em relação a Ysani, Sonia acrescentou que ela é "mais uma vítima desse sistema opressivo e colonizador" e que o governo Bolsonaro "comprova essa tática de provocar o divisionismo e o confronto entre os povos".

As lideranças afirmaram que o Bolsonaro mentiu ao dizer que "existem, no Brasil, 225 povos indígenas, além de referências de 70 tribos vivendo em locais isolados". Segundo Sonia, são 305 povos indígenas e 114 referências de povos em isolamento voluntário.

Na integra: Leia a íntegra do discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU

Dinamam, por sua vez, disse que o presidente brasileiro não apresentou "nada de concreto" para os incêndios na Amazônia, que culpou os povos indígenas e as ONGs e que declarou que vai abrir as terras indígenas para a mineração.

- Nós, os povos indígenas do Brasil, estamos nos preparando para combater qualquer tipo de ameaça. O seu discurso (de Bolsonaro) na ONU foi para agradar setores econômicos que são nossos inimigos históricos: mineração, madeireira e agronegócio - afirmou o coordenador da APIB. - Esses três setores econômicos são os que estão promovendo o genocídio do povo indígena do Brasil, e que agora está tendo o aval do estado para praticar o genocídio. O genocídio no Brasil está institucionalizado.

Amazônia
Sonia Guajajara também disse que Bolsonaro mentiu ao falar que a Amazônia não é um patrimônio da humanidade.

- Como ele ousa dizer tamanha mentira? A Amazônia não pertence a nenhum de nós, mas a todos nós. Aos animais, à terra, ao sol, ao ar, a todos os espíritos que estão ali. É do mundo inteiro. E por isso Bolsonaro deve ser acusado por crime contra a humanidade.

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