VOLTAR

Líder guarani-caiouá é executado por pistoleiro

CB, Brasil, p. 7
26 de Dez de 2005

Líder guarani-caiouá é executado por pistoleiro
Aumenta tensão em área indígena no Mato Grosso do Sul. Cimi protesta e denuncia fazendeiros. Ministério Público Federal investiga assassinato

Dez dias depois de serem despejados da área indígena Nhanderu Marangatu, por determinação do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim, os 450 índios guarani-caiouás que estão sem terra sofrem agora por causa de um atentado contra um de seus principais líderes. No sábado, por volta do meio-dia, o líder guarani-caiouá Dorvalino Rocha, foi assassinado em frente à porteira que dá acesso à área de 26 hectares e às fazendas Fronteira, Morro Alto e Cedro, localizadas próximas ao município de João Antonio (MS).
O procurador da República na região de Dourados (MS), Charles Pessoa, quer a abertura de inquérito para investigar o crime. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o assassinato teria sido encomendado por fazendeiros da região. Só neste ano, 24 índios foram executados na região.
Segundo o relato de três índios que permaneciam acampados na beira da estrada próxima à porteira, um carro teria se aproximado do local, no sábado, e dois homens desceram portando armas. Eles apontaram para o líder indígena e, em seguida, um terceiro homem, segurança das fazendas, desceu do automóvel e disparou contra Dorvalino. Ferido à queima-roupa, o líder caiouá não resistiu e faleceu a caminho do hospital em Antonio João. Segundo o Cimi, há informações de que o veículo que transportava os seguranças fugiu em direção à Fazenda Morro Alto.
A entidade religiosa denunciou o assassinato e diz que o clima entre os índios é de revolta. O Cimi exige a imediata apuração do crime pela Polícia Federal com a decretação da prisão preventiva dos assassinos, proteção da integridade física das pessoas e da comunidade, bem como o retorno imediato dos índios ao seu território tradicional, de onde foram expulsos. Sem isto se estará estimulando e perpetuando a violência institucionalizada”, diz a entidade, em nota divulgada ontem.
Alerta
Segundo a professora Leia Aquino Prado, uma das principais líderes comunitárias do povo Guarani-Kaiowá, apesar da Polícia Militar permanecer na região, a situação continua muito tensa na região. Na sexta-feira, a coordenação dos movimentos sociais do Mato Grosso do Sul alertou a Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul e a Polícia Federal para possíveis ocorrências de violência na área onde estão os índios. Quando foram despejados em uma ação da PF, no dia 15, os índios assistiram à tentativa de incêndio de suas barracas por fazendeiros. Os índios de Nhanderu Marangatu estão acampados à beira da rodovia estadual 384 desde então.
Em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva homologou a área, que está em disputa há mais de 20 anos. Em 2000, os índios ocuparam parte das fazendas, onde construíram barracos e fizeram as lavouras. A retirada dos 450 índios veio por determinação de liminar deferida pelo presidente do STF, Nelson Jobim, que negou o pedido da Funai de suspender a reintegração de posse concedida pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Até o julgamento do caso pelo plenário do STF, fica valendo a decisão de Jobim.

CB, 26/12/2005, Brasil, p. 7

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.