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Leandro Tocantins: ensinamentos sobre a Amazônia

Amazônia Real - http://amazoniareal.com.br/
Autor: Renan Albuquerque
10 de Nov de 2014

Ciclos dialéticos de expansão/contração do capitalismo na Amazônia durante o século XX deixaram marcas indeléveis na esfera cultural e social da população da região. A dinâmica inseriu contingências aos povos do bioma que tinham modos de vida peculiares, mas que, com a inserção na nova realidade, viram-se às voltas em contradições econômicas e políticas imanentes à moderna sociedade europeia.

A dinâmica do mercado mundial em formação agiu como catalisador de processos controversos, dinamizando de modo questionável sistemas imemoriais de saberes e fazeres em diferentes espaços amazônicos. A condição de heteronomia em que foram lançadas as populações contrariou referências normativas e fragmentou identidades vinculadas a construções sociais localizadas.

As formas de ordenamento espacial de etnias, tribos e povos da região amazônica foram lentamente se mesclando a modernas formas de apropriação e classificação do espaço urbano. Dessa maneira, a economia de mercado, a propriedade privada e o estado nacional submeteram todos na Amazônia a uma unidade paradoxal.

Foi em meio ao turbilhão da modernidade que a paisagem natural e as pessoas amazônicas foram redesenhadas pela lógica da acumulação capitalista e dos interesses políticos e culturais das metrópoles do velho continente. Sintoma disso foi revelado a partir de uma geopolítica estatal com objetivo de integrar a região por meio de projetos de colonização, assentamentos e agroindústria, todos incapazes de superar enclaves regionais.

O período da borracha, por exemplo - o primeiro de grande porte na Amazônia com essas características -, constituiu-se em momento significativo do processo quando valores econômicos transacionados transformaram Manaus/AM e Belém/PA em metrópoles urbanas com infraestrutura de serviços que só mais tarde chegariam a outras cidades brasileiras.

Todavia, o curto espaço de tempo entre o ápice e o declínio do extrativismo da borracha em diferentes áreas amazônicas foi marcado por vigorosa produção intelectual no bioma, a partir da qual escreveram-se tanto visões otimistas acerca do futuro da região quando registros pessimistas relacionados ao abandono da Amazônia pelo poder público.

Um autor em específico, nascido em 1928, Leandro Tocantins, procurou compreender os processos sociais de mudança que levaram ao declínio dessa economia regional e de outras que se seguiriam após a borracha. Ele tentou pensar em que medida seria possível construir estratégias políticas para pôr a região na agenda política nacional.

Ao longo dos anos, a produção intelectual e as ações políticas de Tocantins deslocaram-se do nacional-desenvolvimentismo para a modernização conservadora. Nesse sentido, a concepção de tradição e modernidade na Amazônia em seu pensamento se deu articulada ao papel fomentador que desempenhou na organização e direção da vida cultural, regional e nacional na região.

Por tais questões, Leandro Tocantins contribuiu para mudanças institucionais em nossa região durante o ciclo desenvolvimentista e a modernização conservadora no período autoritário, por meio do exercício de suas funções públicas e através de sua produção intelectual. Para o pensador, a singularidade dos processos socioculturais e históricos no bioma reside no fato deles estarem alicerçados no extrativismo, atividade a partir da qual índios e portugueses tiveram papel decisivo para a formação dos tipos sociais característicos da região.

Nesse aspecto, a diversidade cultural autóctone e o meio ecológico tropical matizaram instituições modernas com características locais, dando a elas ajuste necessário a condições do bioma. Portanto, Tocantins reconheceu que forças de mercado abandonadas à livre dinâmica não garantem, por si só na Amazônia, manutenção de recursos naturais e de territórios afetivos. Para ele, somente exercícios fundamentados de entendimento científico da realidade poderiam representar alternativas viáveis para essa vasta região, que desde sempre foi estratégica para o país.

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