VOLTAR

Látex extraído por indígenas ganha valor em mochila

Valor Econômico - https://valor.globo.com/
29 de Mai de 2024

Látex extraído por indígenas ganha valor em mochila
Negócio foi acelerado pela Fundação Certi, que lança programa de corporate venture capital para fortalecer inovações

Sérgio Adeodato

29/05/2024

A ideia de produzir mochilas com tecido de borracha amazônica e pinturas indígenas vai além do exotismo da moda para a startup Bossapack, do Rio de Janeiro, dedicada a capacitar comunidades a adicionar novos valores a produtos tradicionais da floresta. Produzidas por famílias da etnia Xipaia, na região da Terra do Meio (PA), as peças contribuem com a preservação de 2 mil hectares de floresta - área relativa às 12 estradas de seringa que servem à extração do látex na aldeia. Junto ao benefício ambiental, a renda por litro do insumo aumenta quase 13 vezes quando utilizado no novo produto.

"É uma inovação brasileira que permite produzir tecidos impermeáveis sem uso de petróleo, feitos nas próprias aldeias, unindo conhecimento tradicional e novas tecnologias transferidas para região", revela Cláudio Martins, CEO da empresa.

Após passagem pela antiga Mesbla, lendária loja de departamentos que faliu em 1999, e posterior pesquisas da moda surfwear na Califórnia (EUA), o economista criou um projeto de mochila alternativa às asiáticas que dominavam o mercado nacional. O propósito da marca, lançada em 2016, foi explorar o conceito de brasilidade, com material reciclado e grafismos - até que veio o projeto, apoiado por uma antropóloga, para que o produto fosse pintado à mão diretamente por indígenas com pigmentos nativos.

Com ajuda da empresa, jovens das comunidades aprenderam a tecnologia que aplica látex em tecido de algodão e a produção dos panos das mochilas, com esse material, passou a ser realizada nas aldeias. Em dois anos, o negócio quadruplicou, chegando em 2023, a 500 peças produzidas nas comunidades, por safra (junho a novembro). A perspectiva é dobrar o fornecimento por meio de inovações no método de vulcanização do látex, com ganhos de eficiência e produtividade.

No total, a startup comercializa 50 versões de mochilas no e-commerce e lojas parceiras, com etiqueta de QR code que informa a origem da matéria-prima. A estratégia é expandir a produção em outras comunidades indígenas da região, no modelo de negócio aprimorado pelo empreendedor no programa de aceleração Sinergia, mantido pela Fundação Certi.

A iniciativa, voltada à qualificação de pequenos negócios de bioeconomia em estágios mais avançados, chegou neste ano à segunda edição, com 110 startups candidatas, das quais vinte serão selecionadas para as atividades, com destaque para o setor de alimentos e bebidas, além de cosméticos. "Olhamos para negócios que transformam produtos da biodiversidade e agregam valor, também por meio tecnologias que geram maior competitividade e condições mais favoráveis a essa nova economia", aponta Janice Maciel, gerente de economia verde da Fundação Certi.

A demanda aquecida é termômetro do momento dos bionegócios na Amazônia. "Há grande potencial de talentos, mas o conhecimento não está indo para a sociedade na forma de negócios", avalia Maciel. Para eliminar gaps e aproximar os mundos da indústria e da floresta, a instituição lançou recentemente um programa de corporate venture capital -- o Sinergia Investimento. O objetivo é fortalecer a tração de negócios baseados em inovações demandadas pelas empresas investidoras, com potencial de expansão junto a outros clientes no mercado.

"Há grandes empresas interessadas em desenvolver cadeias regenerativas, mas falta confiança diante da atual fragilidade, envolvendo riscos e custos", afirma a gerente. Ela lembra que reduzir esse abismo representa oportunidades para inovações que levam em conta a dinâmica da floresta e questões como a dispersão territorial, o baixo volume de fornecimento, a sazonalidade e a falta de padronização dos produtos. Em paralelo, diz Maciel, há necessidade de investimento nas etapas iniciais dos projetos para garantia de pipeline de negócios no futuro. A meta da Fundação Certi é beneficiar 3 mil talentos de potencial empreendedor na bioeconomia até 2025.

https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/negocios-sustentaveis/not…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.