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Lagarto predador cubano invade litoral paulista e ameaça fauna

OESP, Metrópole, p. A15
03 de Mar de 2017

Lagarto predador cubano invade litoral paulista e ameaça fauna
É a primeira vez que espécie é registrada na América do Sul; hipótese é de que animal tenha chegado em contêineres de navios

Fábio de Castro ,
O Estado de S. Paulo

Um grupo de cientistas identificou na zona portuária de Santos a ocorrência abundante de um lagarto predador originário de Cuba, da espécie Anolis porcatus, que não havia sido registrada na América do Sul. Segundo eles, os animais invasores - que podem ter chegado em contêineres de navios - são ameaça potencial à fauna local e já se espalharam por vários pontos.
O estudo sobre o lagarto exótico no País foi publicado na revista South American Journal of Herpetology, por grupo liderado pelo pesquisador Ivan Prates, da Universidade da Cidade de Nova York e por sua orientadora, a bióloga Ana Carolina Carnaval, da mesma instituição.
A descoberta foi quase por acaso, após o estudante de Biologia Ricardo Samelo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na Baixada Santista, fotografar o lagarto "estranho" na região e compartilhar a imagem, em agosto de 2015, em um fórum de especialistas.
Segundo Prates, um dos membros do grupo, a foto imediatamente "causou comoção" na comunidade. "Todos perceberam que não era um animal da fauna brasileira. Ficamos intrigados e logo começou uma discussão sobre que espécie seria", disse.
A hipótese mais plausível levantada pela comunidade foi a de que o lagarto poderia ser um Anolis carolinensis - única espécie do vasto grupo dos Anolis que ocorre nos Estados Unidos. De acordo com Prates, - que estuda justamente o grupo Anolis em seu doutorado - todas as outras quase 400 espécies do grupo ocorrem na América Central e no Caribe.
"Logo reconheci que o bicho tinha parentesco com o grupo Anolis. Mas trata-se de um gênero muito diverso, com muitas espécies - várias delas bastante similares -, o que dificultava o reconhecimento, especialmente com base em uma foto na internet", explicou. O biólogo afirma que o Anolis carolinensis é uma espécie invasora e tem causado danos ecológicos importantes em vários lugares.
Para desvendar a identidade do animal, porém, era necessária uma investigação. Prates, que estuda nos Estados Unidos desde 2011, aproveitou uma de suas viagens ao Brasil para identificar a espécie. Entrou em contato com Samelo, que mora em Praia Grande, e a dupla percorreu a Baixada Santista.
"À medida que conversávamos, as pessoas nos indicavam outras que tinham informações. A população é leiga, mas conhece bem a fauna local. Descobrimos que os bichos são muito abundantes."
Em Guarujá, São Vicente e Santos, eles acharam grandes quantidades do lagarto, coletaram espécies e amostras - como pedaços de escamas - para levar ao laboratório e fazer identificação com base no DNA.
Clandestino. De volta a Nova York, foram usadas técnicas genéticas para caracterizar e identificar o lagarto. "Foi aí que descobrimos algo inesperado: não se tratava do Anolis originário dos Estados Unidos. A composição genética era diferente. Era a espécie Anolis porcatus, proveniente de Cuba", disse Prates.
Os lagartos em Santos foram os primeiros da espécie registrados na América do Sul. Mas não os primeiros fora de Cuba: já havia localizações na Flórida e na República Dominicana.
Em Santos, o animal foi encontrado em áreas residenciais do bairro da Alemoa, área contígua ao porto, onde há intensa movimentação de cargueiros. O bairro é repleto de depósitos onde são empilhados milhares de contêineres. "Por isso, levantamos a hipótese de que o animal chegou ao Brasil acidentalmente por via marítima, embarcado em contêineres. Provavelmente os navios também os levaram à República Dominicana e talvez Flórida e Espanha", disse Prates.

OESP, 03/03/2017, Metrópole, p. A15

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