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Kyoto coloca o Pais no centro do ciclo do carbono

OESP, Vida, p.A16
Autor: REINACH, Fernando
10 de Nov de 2004

Kyoto coloca o País no centro do ciclo do carbono
Fernando Reinach
A concentração de gás carbônico (CO2) na atmosfera vem aumentado gradativamente. O Protocolo de Kyoto tem como objetivo forçar os países a tomarem medidas que reduzam suas emissões do gás. O simples ato de acender um cigarro produz CO2. Parte vem da queima do fumo e parte do gás do isqueiro. Para o planeta, o CO2 vindo do isqueiro é mais nocivo que o gerado pelo fumo. Por contemplar esta diferença, o Protocolo de Kyoto coloca o Brasil em uma posição privilegiada.
O estoque de carbono do planeta está em grandes reservatórios intercomunicantes. Em cada reservatório encontramos carbono em um tipo de molécula. Na atmosfera é o CO2. Nos seres vivos, são os açúcares e outras moléculas sintetizadas a partir dele. Nos combustíveis fósseis, como o petróleo, são moléculas de hidrocarbonetos. A atividade humana alterou os processos que regulam o fluxo de carbono entre os reservatórios, aumentando a concentração de CO2 na atmosfera.
A fotossíntese é um dos processos capazes de retirar CO2 da atmosfera. Durante o dia as plantas usam energia solar para combinar gás carbônico e água, formando açúcar e outras moléculas. À noite, ou quando as plantas são queimadas (como no caso do fumo), o CO2 é liberado e volta para a atmosfera. Neste caso, existe um caminho de duas mãos entre o carbono presente nos seres vivos e o presente na atmosfera. Havendo equilíbrio entre esses processos, a concentração de CO2 na atmosfera não é alterada. Grandes queimadas e desmatamentos podem alterar o equilíbrio do sistema.
O principal culpado pelo aumento do CO2 na atmosfera é a queima de petróleo e seus derivados (o gás do isqueiro, por exemplo). Neste caso, não existe um processo reverso, capaz de retirar o CO2 liberado na atmosfera e transportá-lo de volta para os reservatórios de combustíveis fósseis. Com o Protocolo de Kyoto, este caminho de mão única, do petróleo para a atmosfera, vai ter de pagar pedágio.
Para liberar CO2 na atmosfera, o poluidor terá de comprar este direito de quem for capaz de retirá-lo da atmosfera. É aí que entra em campo o Brasil. Não somente temos a maior máquina de retirar CO2 da atmosfera (nossa biomassa) como temos o Sol e a água necessários para sermos os maiores fotossintetizadores do planeta.
Temos ainda outra vantagem. Somos o país com a melhor tecnologia de utilização da fotossíntese para mover carros. Nosso álcool é produzido a partir de açúcar, que é produto da fotossíntese. Quando um carro queima álcool está devolvendo à atmosfera o CO2 que a cana-de-açúcar retirou. É por este motivo que o álcool é considerado combustível limpo. Não é de se estranhar que os EUA estejam desenvolvendo um enorme programa de produção de álcool a partir de milho. Apesar de ainda não terem carros bicombustível, em 2004 os EUA vão superar o Brasil na produção de álcool.
O Protocolo de Kyoto colocou o Brasil em uma posição privilegiada no ciclo do carbono. Possuímos uma vantagem competitiva tanto em recursos naturais quanto em tecnologia. Vamos saber tirar proveito disso?
Fernando Reinach (fernando.reinach@estadao.com.br) é biólogo
OESP, 10/11/2004, p. A16

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