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Kuntanawa, um povo em reconstrução

Caros Amigos - http://carosamigos.terra.com.br/
Autor: Fabíola Ortiz
30 de Set de 2010

Povo indígena no Acre, considerado extinto, ressurge a partir de seus descendentes misturados com "brancos" e hoje luta pela demarcação de suas terras no estado.

Eles eram apenas cinco em 1911 e hoje são cerca de 400. Os Kuntanawa foram exterminados no início do século 20 com o avanço da extração da borracha, durante as
perseguições armadas aos povos indígenas que acompanharam a abertura e a instalação dos seringais em todo o Acre. Os Kuntanawa não falam mais a sua língua indígena, pertencente ao tronco linguístico Pano. Agora todos falam o português. Sua cultura praticamente desapareceu.

"Nós somos a prova viva de que é possível erguer uma nação, trazer de volta aquilo que foi esquecido", afirmou Haru Xinã Kuntanawa, embaixador mundial da paz pelas Nações Unidas. Haru é uma jovem liderança indígena de 28 anos e pertence à etnia Kuntanawa. Líder de 11 etnias dos povos Pano, José Flávio do Nascimento (nome de registro) atua na Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ) e tomou para si a importante missão: levar de volta à casa o seu povo, fortalecer os valores culturais e linguísticos dos Kuntanawa e promover o resgate de seus rituais sagrados há muito tempo perdidos.

"Acreditei que era possível e tenho certeza, mais do que nunca, que o meu povo erguerá a sua história novamente", confia Haru ao lembrar o recente passado marcado pela matança de seus parentes. "Me traz um sentimento de tristeza. É algo muito recente, não tem nem um século que passou o massacre de 1911. Hoje temos um pouco mais de 300 Kuntanawa e o meu objetivo é juntar o nosso povo de volta para casa".

Eles são uma etnia em reconstrução em todos os sentidos: a língua, a pintura corporal, os cantos, rituais sagrados com uso de medicinas da floresta e o sentimento de pertencimento à sua terra.

No final de julho, diversos povos do tronco Pano se reuniram na aldeia Kuntamanã, no
Acre, neste que foi um primeiro movimento de mobilização e revitalização de suas tradições. Na semana do 26 ao 31 de julho, os Kuntanawa realizaram o seu primeiro festival cultural, o "Corredor Pano". Neste que foi um encontro para um momento de auto afirmação de sua unidade em meio às diferenças étnicas, estavam todos lá: Huni Kuin, Yawanawa, Shanenawa, Shawãdawa, Jaminawa, Nukini, Marubo e Katukina. Todos eram convidados e protagonistas do que seria o grande encontro dos povos de língua Pano. Foram seis dias de atividades de confraternização, rodas de 'mariri' no terreiro (dança indígena), brincadeiras, cantos, pescaria, troca de presentes e rituais sagrados com o consumo de rapé e 'yahuasca', o cipó da Amazónia bebido de forma ritualística pelos povos do Acre.

"Quando os povos se juntam, têm uma força grande para recuperar e fortalecer as suas tradições. Temos todos uma história compatível dos povos", salienta Haru. À beira do rio Tejo, na Reserva Extrativista (Resex) do Alto Juruá próximo à fronteira com o Peru, reuniram-se naqueles dias 200 pessoas, entre indígenas e convidados 'brancos', brasileiros e estrangeiros. É através do contato com as etnias vizinhas do tronco Pano que se traçou a estratégia de reconstituir a língua de seu povo por meio de outras similares. Os esforços de reconstrução da língua têm sido empreendidos também por meio de fragmentos ainda vivos na memória da matriarca do grupo e de canções 'ayahuasqueiras' durante os rituais sagrados.

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