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Justiça proíbe CTNBio de aprovar milho transgênico

OESP, Vida, p. A18
15 de Dez de 2006

Justiça proíbe CTNBio de aprovar milho transgênico
Liminar determina que processo de liberação só seja retomado após a realização de audiência pública

Lígia Formenti, Ricardo Westin

Um juiz federal do Paraná determinou ontem que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) suspendesse as análises do pedido de liberação do milho transgênico Liberty Link, da Bayer. O grão foi geneticamente modificado para ficar resistente a herbicidas.

Os membros da CTNBio já estavam reunidos em Brasília. Seria o primeiro processo de liberação comercial de semente avaliado pela comissão desde sua reformulação, em novembro de 2005. A liminar chegou à CTNBio pouco antes do início da votação.

A liminar (decisão imediata e provisória, até o julgamento) foi concedida pelo juiz Nicolau Konkel em favor do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e das organizações Terra de Direitos e Assessoria a Projetos em Agricultura Alternativa.

Segundo a liminar, o processo só pode ser retomado após uma audiência pública em que se discutam os riscos que o milho transgênico pode oferecer à saúde e ao ambiente. Esses riscos, segundo as entidades, ainda não são conhecidos. Caso descumpra a liminar, a CTNBio terá de pagar multa de R$ 1 mil por dia.

O presidente da CTNBio, Walter Colli, criticou a medida: "O próprio juiz admite que a Lei de Biossegurança prevê a possibilidade da realização de audiência. É possibilidade, não obrigação".

O pedido de audiência pública foi feito por ONGs em outubro e apreciado pela CTNBio em novembro. "A audiência atrasaria muito o processo. E resolvemos levar adiante a análise."

Com a decisão, a CTNBio termina o ano sem apreciar a liberação comercial de nenhuma semente transgênica. Desde a regulamentação da Lei de Biossegurança, a CTNBio passou a ser criticada por agricultores e até por ministros, por sua lentidão. "Temos de seguir ritos que não foram definidos por mim. Estão na lei", defende-se Colli.

Ele também disse que é necessário mudar a regra de quórum para a liberação comercial, permitida se dois terços dos integrantes forem favoráveis. "As decisões democráticas exigem maioria absoluta. Por que tanto rigor com decisões técnicas?" Nesta semana, cientistas enviaram à Casa Civil da Presidência um manifesto pedindo a alteração do quórum, que dificilmente é alcançado. Colli e o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, fizeram apelos aos integrantes da CTNBio para que compareçam às reuniões.

Os integrantes acabaram sendo substituídos. A tática deu certo. Nunca a reunião da CTNBio alcançou um quórum tão significativo: 28 votantes ontem, um número que poderia ter permitido a aprovação da liberação, não fosse a liminar.

Colli tem consciência de que a liminar será a primeira de uma série. "Estamos em face de uma religião. Houve um esforço grande para convencer o brasileiro de que transgênico é perigoso, a face do diabo". Para ele, isso atrapalha o crescimento. "O governo enviou sinais contraditórios. Não há uma posição firme."

OESP, 15/12/2006, Vida, p. A18

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