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A juiz, suspeitos mudam depoimentos

FSP, Brasil, p. A11
16 de Mar de 2005

A juiz, suspeitos mudam depoimentos
Para promotor, acusados de assassinar freira tentam proteger Bida

Os três acusados do assassinato da irmã Dorothy Stang, 73, Rayfran das Neves Sales (Fogoió), 27, Clodoaldo Carlos Batista (Eduardo), 31, e Amair Feijoli da Cunha (Tato), 32, negaram ontem que Vitalmiro Bastos de Moura (Bida), 34, tenha sido o mandante do crime, ocorrido em Anapu (PA).
Os depoimentos duraram quase dez horas e foram tomados pelo juiz Lucas de Jesus do Carmo, no presídio de Americano 3, em Santa Izabel. Eles afirmaram que Bida não teve participação no caso e que o crime foi motivado por disputas de terra entre eles, a freira e os posseiros que ocupam a gleba Esperança, onde Dorothy pretendia criar um Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS).
Eles também negaram que o crime tenha sido encomendado por um consórcio de fazendeiros, inclusive com a participação do prefeito de Anapu, Luiz dos Reis Carvalho (PTB), o que ele nega.
Fogoió, que confessara ser o autor dos disparos, foi o primeiro a ser ouvido e desmentiu seu depoimento anterior à Polícia Civil. Ontem, ele disse que matou a irmã por iniciativa própria e que não recebeu promessa de pagamento (contrariando a versão de que ele ganharia R$ 50 mil).
O segundo a ser ouvido foi Eduardo. Ele estava com Fogoió no momento dos disparos e também afirmara a existência de uma promessa de pagamento, mas ontem negou isso. Segundo Eduardo, Tato faria o pagamento.
Tato, ao depor, pela primeira vez assumiu ser o mandante. Negou ser o intermediário. No depoimento, disse que pagaria R$ 10 mil pela morte de Dorothy.
Para o promotor Lauro de Freitas Júnior, de Pacajás, os três combinaram os depoimentos para inocentar Bida. Segundo ele, os depoimentos não mudaram a sustentação da denúncia, mas complicaram ainda mais a situação dos acusados e do foragido.
"Os depoimentos mostram que eles não sabem o que estão falando. Fica claro que há uma tentativa de retirar o foco do Vitalmiro [Bida], mas há pistas que confirmam que ele foi o mandante", afirmou o promotor.
O advogado de Tato, Oscar Damasceno, disse que a tese de depoimento combinado é "fantasiosa" e negou qualquer tentativa de inocentar ou proteger Bida. O advogado do foragido, Augusto Septímio, também negou plano para proteger o suposto mandante. Na próxima semana, o juiz começa a ouvir testemunhas de acusação.

FSP, 16/03/2005, Brasil, p. A11

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