FSP, Ciência, p. A14
09 de Set de 2009
Japão quer cortar 25% do CO2 até 2020
Promessa de Yukio Hatoyama, que assumirá cargo de primeiro ministro em setembro, aumenta pressão sobre os EUA
Líder eleito pelo Partido Democrata recebe elogios de ambientalistas, mas enfrenta resistência dentro da indústria japonesa
Da reportagem local
A promessa do futuro primeiro-ministro do Japão, Yukio Hatoyama, de cortar 25% das emissões de gases-estufa do país até 2020 em relação a 1990 cria um clima de pressão sobre nações ricas nas negociações para o novo tratado do clima. A medida anunciada anteontem, porém, deixou claro que, sem um comprometimento maior dos EUA, o bloco continuará muito aquém da meta apontada por cientistas como ideal.
Somadas todas as promessas mais ousadas do grupo de países que mais contribuiu para o agravamento do efeito estufa, apenas 15% dos gases-estufa seriam cortados até 2020. A ciência, porém, afirma que só um corte da ordem de 40% nesse período pode evitar que o planeta não aqueça mais de 2oC até o fim do século.
"É claro que o Japão não vai conseguir frear a mudança climática sozinho com sua redução de emissões", afirmou Hatoyama, líder do Partido Democrata, que venceu as eleições japonesas na semana passada. "A condição para a promessa do Japão à comunidade internacional é que todos os grandes países entrem em acordo para adotar metas ambiciosas."
O discurso pode ser interpretado como um recado aos EUA, o maior poluidor do mundo. O presidente Barack Obama, por enquanto, acena apenas com um corte de 17% das emissões até 2020. Essa meta devolveria as emissões dos EUA ao nível de 1990, ano de referência do Protocolo de Kyoto.
O anúncio arrancou elogios de ambientalistas. "É o primeiro sinal de liderança climática vindo de um país desenvolvido em muito tempo", disse Martin Kaiser, do Greenpeace.
O secretário-executivo da Convenção do Clima, Yvo de Boer, disse que "o panorama está ficando menos sombrio" para um acordo do clima em Copenhague, em dezembro, após o anúncio japonês.
Menos otimista, o chanceler britânico David Miliband pôs ontem pressão sobre os países em desenvolvimento. Essas nações, como China e Índia, são desobrigadas de metas por Kyoto. "Há um risco real de que as conversas marcadas para dezembro não tenham resultado positivo", declarou Miliband.
Ambição renovada
A promessa de Hatoyama é bem mais ambiciosa do que a do atual governo japonês, que não ultrapassaria um corte de 10% até 2020. Parte do discurso de campanha do democrata consistiu em negar que a economia do país sofrerá muito com os cortes de emissões.
"Lidar agressivamente com a mudança climática abrirá uma nova fronteira para a economia japonesa e criará empregos em áreas como carros elétricos e tecnologia para energia limpa."
A ministra do clima e energia da Dinamarca, Connie Hedegaard -anfitriã do encontro em Copenhague- também se disse otimista com a guinada de posição no Japão. "É importante lembrar que o Japão já é um dos países mais eficientes do mundo em produção e consumo de energia", disse. "Ainda assim, isso mostra que é possível adotar uma nova e ambiciosa meta para redução de CO2."
Dentro do país, porém, a proposta de Hatoyama deve enfrentar resistências. A Keidanren, maior federação de indústrias do Japão, defende uma redução máxima de 6%.
Com Reuters e "Independent"
FSP, 09/09/2009, Ciência, p. A14
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