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Ja vai tarde!

JT, Opiniao, p.A2
23 de Jan de 2005

Já vai tarde!
Antes tarde do que nunca - dirão os otimistas, e terão razão. Mas ainda é verdade que a ex-diretoria da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), demitida após uma queda-de-braço de dois anos com seu superior hierárquico, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, já vai tarde. E sem deixar saudade. Essa demissão se fazia necessária e urgia, tendo tardado demais e comprometido parte da expectativa que o governo tem da empresa, que sempre foi reconhecida como uma autêntica ilha de excelência na administração federal e tida e havida como uma das principais responsáveis pelo extraordinário êxito do agronegócio brasileiro. Agora a Embrapa deve voltar a ser um instrumento estratégico do País no posicionamento dos produtos primários brasileiros, fundamentais para a evolução dos resultados positivos de nossa balança comercial. Ufa! Só que, para isso afinal ocorrer, perdeu-se metade do mandato do presidente Lula.
Indicado por um amigo próximo do chefe da Nação, o atrapalhado ex-ministro (a quem este encarregou de pilotar o malogrado Fome Zero) José Graziano, o presidente demitido, Clayton Campanhola, resistiu às evidências de sua gestão desastrada, à impaciência do chefe, a um fogo concentrado dos meios de comunicação e até à pressão para sua demissão pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, e pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Nem mesmo a queda do próprio padrinho bastou para que fosse afastado do cargo até agora.
Em sua desastrada gestão, Campanhola fez pouco do competente trabalho desenvolvido pela gerência de pesquisa da Embrapa, reconhecido no País e no mundo, demitindo ou condenando ao ostracismo pesquisadores e antigos administradores e atropelando regras impessoais que vinham dando certo na ocupação das chefias por técnicos, substituídos aleatoriamente por sindicalistas e militantes do PT, ligados a seu padrinho ou à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O clima gerado pela perseguição politiqueira e a insegurança que passou a reinar entre os especialistas (habituados a ver presidentes e diretores da empresa passarem rotineiramente de um governo para outro, mercê dos próprios méritos e do reconhecimento dos novos ocupantes dos postos de comando) paralisaram muitas pesquisas fundamentais para o desenvolvimento tecnológico da agropecuária brasileira. Contra os transgênicos, inimigo do agronegócio, desvinculado dos produtores e aconselhado por assessores que nunca tiveram nada com a realidade do campo, o presidente demitido ainda cometeu um Plano Diretor irrealista e fora de foco para o futuro.
Sua manutenção por dois anos denuncia a lentidão e a alienação da cúpula petista, mas sua substituição pelo físico Sílvio Crestana possibilita recuperar o tempo perdido, se a praga da gestão anterior não houver danificado de vez as ótimas raízes sobre as quais sempre se apoiou a obra da Embrapa.

JT, 23/01/2005, p. A2

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