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Itaipu vai ser polo de produtos organicos

GM, Energia & Saneamento, p.A1, C4
28 de Jul de 2005

Itaipu vai ser pólo de produtos orgânicos
Grande projeto ambiental será implantado em 29 municípios lindeiros à hidrelétrica.
Itaipu não quer ser mais apenas uma grande produtora de energia. A região brasileira onde se localiza a hidrelétrica, no Oeste do Paraná, na área de 1.300 quilômetros quadrados conhecida como Bacia Hidrográfica do Paraná III e que envolve 29 municípios lindeiros - 28 no Paraná e 1 no Mato Grosso -, está sendo preparada por iniciativa da empresa binacional para ser um dos maiores centros de produção de agricultura orgânica do País.
O projeto, que começou a ser executado no início de 2003, faz parte de um programa ambiental de largo alcance para recuperar os passivos ambientais de toda área denominado Cultivando Água Boa, onde Itaipu, além de executar o papel de coordenação entre as 33 instituições envolvidas, contribui com um terço dos investimentos necessários.
"Tínhamos uma previsão de 100 anos de vida útil para a barragem quando ela foi construída, mas chegaremos facilmente aos 150 anos com a execução deste projeto", explica o diretor-geral brasileiro da empresa, Jorge Samek, engenheiro agrônomo, deputado federal pelo PT paranaense e ele próprio nascido em Foz do Iguaçu. Sua família, inclusive, perdeu 100 alqueires para o lago da usina. Talvez por isso, e pelo fato de que 80% das 30 mil propriedades da região são de pequenas dimensões, o que dá um alcance social imenso a programas do gênero, Samek encare como questão pessoal levar adiante o Cultivando Água Boa. Implantar a agricultura orgânica nas microbacias é também uma forma de combater quatro dos cinco maiores problemas que a usina enfrenta na preservação ambiental.

Itaipu vai ser pólo de produtos orgânicos.
Os 70 projetos em andamento têm a participação de 33 instituições em 29 municípios. Implantar a agricultura orgânica nas microbacias é uma forma de combater quatro dos cinco maiores problemas que a usina enfrenta por problemas ligados a preservação do meio ambiente: eutrofização (produção excessiva de algas, pelo acúmulo de fertilizantes que a acabam no lago e vão para as turbinas); a sedimentação (acúmulo de sedimentos no lago, carregados para os rios pela chuva por causa das terras sem cobertura vegetal); agrotóxicos (o consumo médio na região é de 11 litros por habitante/ano, mas há áreas aonde o consumo vai a 59,7 litros por ano, o que acaba nas águas dos rios e impede o consumo humano); desmatamento (a preservação por microbacias retoma o plantio de matas ciliares da nascente dos pequenos rios até sua foz). O quinto problema é um molusco invasor: o mexilhão dourado. Tudo isso faz sentido também porque o lago de Itaipu já é responsável por 60% da água consumida em Foz do Iguaçu e a totalidade de Santa Terezinha, com a tendência de se ampliar esse uso.
No momento, estão em curso 70 projetos coordenados por 20 gestores onde se reúnem as universidades, prefeituras, cooperativas, instituições de pesquisa, sindicatos, ministério público e a iniciativa privada num total de mais de 700 pessoas. Só o trabalho com 11 universidades envolve 210 acadêmicos e 40 professores. Há também o trabalho de 38 agrônomos e técnicos agrícolas envolvidos e de 52 produtores "convertidos" que funcionam como líderes multiplicadores do projeto.
"A capacidade de Itaipu ficar acima dos problemas políticos regionais e aglutinar as 33 instituições participantes é que permitiu que o programa deslanchasse", diz Jorge Samek. Essa foi a forma encontrada para se diluir os investimentos necessários já que cada participante entra com o que pode.
Segundo o responsável pela execução do programa, o diretor de Coordenação de Itaipu, Nelton Miguel Friedrich foram 17 meses batendo nas portas e explicando a idéia: "Das 1.350 propriedades visitadas pelo menos 50% ou 675 foram convertidas para métodos de produção de agricultura orgânica", comemora ele.

Gran Lago, a marca dos produtos da região
O projeto da Itaipu vem tendo sucesso porque fecha praticamente todas as brechas que incomodam um produtor. Providencia a assistência técnica, a comercialização e o marketing, a certificação e o controle de qualidade, a pesquisa e desenvolvimento, a comunicação e educação ambiental e a gestão da informação através de um software livre que está armazenando todas as informações possíveis para que elas possam ser compartilhadas por todos os produtores do programa.
No total, um pouco mais de 50% da verba do projeto Cultivando Água Boa, de US$ 9 milhões, vai para a agricultura orgânica. "Estamos fazendo a Agenda 21", explica Nelton Miguel Friedrich. "Ao invés de trabalhar por propriedade, a ação por microbacias consegue um resultado mais amplo cuidando da proteção do solo, da introdução do plantio direto, compatibilização das estradas, reflorestamento e do plantio de matas ciliares".
A idéia é que toda a região lindeira seja certificada como produtora de orgânicos e até mesmo uma marca que identifique essa origem foi criada pela Itaipu – a Gran Lago. "Poderemos fazer como o Norte da Itália que associou à região a qualidade dos seus produtos", conclui o diretor geral Jorge Samek.

Soja de Medianeira para a Suíça
Não é uma tarefa simples convencer um agricultor tradicional a passar para o lado dos orgânicos. É preciso muita argumentação e persuasão por que este tipo de produção incorpora tecnologia e pesquisas ainda não totalmente familiarizadas aos produtores. Mas, Nelton Miguel Friedrich, responsável pelo Cultivando Água Boa, tem como meta até 2006 a certificação de pelo menos 3.250 propriedades em 29 microbacias.
O agricultor Ademir Vicente Ferronato, 49 anos, de Medianeira, cidade próxima a Foz do Iguaçu, fez a transição facilmente porque tinha se intoxicado aplicando defensivos nos 28 hectares que cultiva com o pai e, também, na prestação desse serviço para vizinhos. Passou mal, fez exames de sangue, tratamento bioenergético e concluiu que teria de abandonar o trabalho de uma vida inteira. "Foi aí que escutei no rádio que haveria um curso sobre agricultura orgânica e que ela não utilizava veneno", explica.
No ano passado Ferronato colheu suas primeiras 150 sacas de soja orgânica que receberam um preço 40% acima da convencional e foram parar na Suíça, com uma produtividade baixa, segundo ele, mas que foi compensada pelo preço. Seu maior problema foram ervas invasoras que tiveram de ser arrancadas à mão numa região que não dispõe de mão-de-obra para este tipo e trabalho. O projeto de Itaipu está prestes a resolver isso: nas suas terras há um ensaio do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), uma das entidades de pesquisa envolvidas, de cobertura de inverno com aveia preta de ciclo longo para evitar que as ervas invasoras brotem, e que está dando ótimos resultados.
Animado, o agricultor quer passar a plantar também pepinos,tomates e ervas medicinais. "Os ataques de lagartas fede-fede foram resolvidos com baculovirus (espécie de "suco" feito a partir da própria lagarta), mas o papuã e o picão me derrotaram no ano passado. Agora isso não vai mais me acontecer", relata.
Outro exemplo de adesão foi o da Cooperativa Lar que "adotou" dois rios em Medianeira, onde está sua sede, e providenciou cercas e o plantio de matas ciliares para proteger as nascentes.

GM, 28/07/2005, A1, C4

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