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Inovar com sustentabilidade

OESP, Economia, p. B2
Autor: BIAGI FILHO, Maurílio
13 de Mai de 2010

Inovar com sustentabilidade

Maurílio Biagi Filho

A crise financeira internacional de 2008 fez (res)surgir no empresariado de várias partes do mundo o sentimento de que é preciso buscar um modelo de desenvolvimento mais sustentável, de modo a corrigir o descompasso gritante entre o desenvolvimento econômico e a situação socioambiental das últimas décadas.
Em poucos meses, para conter a crise deflagrada em setembro de 2008, os governos dos países ricos desembolsaram US$ 11 trilhões. Impressionante em si, essa cifra ganha outra dimensão quando comparada com os míseros US$ 250 bilhões da ajuda humanitária dos países ricos aos países pobres nos últimos 50 anos. Ou seja, US$ 5 bilhões por ano!
Nos próximos anos, o tripé da sustentabilidade - econômica, social e ambiental - estará muito vinculado à inovação. As empresas precisarão inovar cada vez mais na construção de processos sustentáveis, induzidos pelo Estado.
Quanto a isso, nada melhor do que ouvir nosso vice-presidente, José Alencar, um dos empresários mais respeitados do Brasil. Em recente manifestação, ele condenou o paternalismo e apontou o lucro como a principal fonte do progresso. Disse ele: "Desperdícios custam para toda a sociedade, enquanto a produção eficiente e sustentável gera riqueza e oportunidades de ascensão coletiva."
Para Alencar, o papel econômico dos governos é desobstruir o caminho para o progresso. No Brasil, segundo ele, as prioridades são remover a ignorância, a falta de saúde e saneamento, a precariedade da infraestrutura e as políticas antagônicas ao crescimento, como juros altos demais e impostos irracionais.
Especialmente quanto à infraestrutura, temos de agir de forma factível. Tentar, por exemplo, reutilizar os milhares de quilômetros de ferrovias abandonadas e dar força ao transporte fluvial. Quanto à produção de energia, é preciso fixar a ideia de que é importante implantar uma ampla rede de usinas térmicas movidas a combustíveis renováveis, além de construir usinas hidrelétricas.
Ainda que pesem os avanços alcançados pelo nosso país nos últimos anos, pois já somos quase a oitava economia do mundo, ocupamos o insignificante 56. lugar no ranking da competitividade e o número de patentes brasileiras significa 0,2% das patentes do planeta. É preciso, portanto, inovar com sustentabilidade.
Já estamos fazendo isso no caso da agroindústria, cujas atividades afetam diretamente o meio ambiente. Todo mundo reconhece o impacto positivo dos biocombustíveis na renovação da nossa matriz energética. Oxigenador da gasolina, o etanol não rompe com a cadeia dos negócios do petróleo, mas é parte da solução para a necessária descarbonização do planeta.
Sem dúvida, temos capacidade para fazer muito mais, sem reduzir nosso potencial de produção de alimentos para consumo interno e exportação. Está na hora de fazermos da preservação dos recursos naturais a chave mestra do nosso modelo de desenvolvimento.
Sabemos que não há obra pública ou atividade econômica sem impacto sobre o meio ambiente, mas é preciso reconhecer que a partir do Código Florestal de 1965 foi montado no País um arcabouço legal que vem servindo como parâmetro ambiental para desenvolvimentistas e conservacionistas. Falta (talvez) um acordo cujos termos podem estar no novo Código Ambiental em discussão no Congresso.
A mudança na legislação pode ser uma primeira resposta à comunidade internacional, que cobra do Brasil a manutenção de algo que os países do Hemisfério Norte já não têm mais: o verde. O segundo passo seria bloquear efetivamente o desmatamento da Amazônia e o corte da vegetação nativa que cobre mais de 50% do território nacional. Se reduzirmos as queimadas, não só riscaremos o nome do Brasil da lista dos maiores emissores de gases do efeito estufa, mas estaremos fazendo da sustentabilidade um grande negócio para o País.

Empresário, é membro do Conselho de Estratégia da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de BASE (ABDIB) e do Conselho da União da Indústria da Cana-de-Açucar (ÚNICA)

OESP, 13/05/2010, Economia, p. B2

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100513/not_imp551042,0.php

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