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Índios se armam para reagir à decisão da Justiça

JB, País, p. A5
21 de Jan de 2004

Índios se armam para reagir à decisão da Justiça
Invasores descumprem ordem para desocupar fazenda invadida no MS

Fernanda Nidecker

Os índios guarani caiuá, que ocupam 14 fazendas no município de Japorã e Iguatemi, no sul do Mato Grosso do Sul, descumpriram a ordem da Justiça Federal para se retirar da área até a meia-noite de ontem e prometem reagir a qualquer tentativa de retomada da área. Com pinturas de guerra e pedaços de pau, os invasores se aglomeraram na entrada de fazendas para impedir que a decisão de reintegração de posse fosse cumprida. Há informações de que os índios também tenham armas de fogo, além de arcos e flechas. Ontem, a equipe de reportagem da Agência Estado foi recebida a tiros pelos indígenas.

Até ontem, a Fundação Nacional do Índio (Funai) tentava negociar a saída dos índios. Como não obteve sucesso, caberá à Superintendência da Polícia Federal no Estado cumprir a determinação de reintegração de posse. A PF reclama de falta de recursos para cumprir a decisão. Encaminhou, ontem, à sede da instituição, em Brasília, pedido de envio de helicópteros, de efetivos do Comando de Operações Táticas e de verbas para custear a operação.

Depois de tentar em vão convencer os indígenas a sair das propriedades, o administrador regional da Funai, Wilian Rodrigues, pediu à Justiça para estender em 20 dias o prazo para a desocupação. O juiz federal, Odilon de Oliveira, responsável pelo caso, indeferiu o pedido.
- Se não saírem por bem, sairão pela força - afirmou Odilon de Oliveira ao JB.
Impedidos de entrar em suas propriedades, os fazendeiros se reuniram na manhã de ontem em Iguatemi, cidade vizinha à Japorã, à espera da saída dos índios.

Ainda são desencontradas as informações sobre o número de indígenas que ocupam a área. Segundo o antropólogo da Funai Cláudio Romero, que participa das negociações, pelo menos metade dos 3 mil guaranis e caiuás já deixou as fazendas. Eles teriam voltado para a aldeia localizada a 12 km das propriedades. Por telefone, o líder guarani Gumercindo Fernandes, negou a informação.
-Não vamos sair daqui de jeito nenhum. Deve ter uns 5 mil na região, no meio do mato.

Os índios reivindicam a incorporação da área à aldeia Porto Lindo, de 1,6 mil hectares, já demarcada pela Funai. Entre os rebelados, há também índios paraguaios, já que a área fica na fronteira com o Paraguai. Há na Justiça Federal 54 processos que envolvem disputas entre índios e fazendeiros do Estado.

JB, 21/01/2004, País, p. A5

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